07/03/2023 às 23h57min - Atualizada em 07/03/2023 às 23h57min

Perspectivas da liderança feminina nas atividades econômicas do setor lácteo.

Ningúem segura uma mulher segura! Especial Ciência do Leite: Dia das Mulheres!

Nayara Ferreira Greco
Nayara Ferreira Greco
 
Nesse editorial você terá acesso à entrevista completa de Maria Rosinete Souza Effting (Rosi), da Cabanha Guinther e Queijaria Guinther. Nada melhor do que a própria experiência de vida para nos apontar direções assertivas do cenário lácteo para a atuação das mulheres neste mercado.

Um pouco da história de vida da Rosi:

Tudo teve início no ano de 1994, na localidade de Riacho Alegre, no município de Braço do Norte - SC, Rosi e seu esposo Bernardo Effting, aquistaram estas terras onde a princípio o projeto inicial era ligado as atividades de suinocultura, da qual, teve o seu encerramento em 2022, devido à crise no mercado. Suspende-se um projeto e inicia-se outro, com a criação de gado leiteiro e o confinamento de gado de corte, este perdurando até 2005.  Em 2003, deram largada ao projeto Cabanha Ghuinther, o nome do sítio em homenagem ao filho mais novo do casal. Desde então, Rosi se tornou a principal responsável pela Cabanha, com foco na criação de gados Jersey e contou com a ajuda de sua amiga e veterinária Caroline Ribeiro Ramos.

De lá para cá foram grandes os avanços e conquistas, a partir do ano de 2009 a Cabanha Guinther vem sendo destaque e recebendo premiações em diversas feiras e eventos. Rosi”, foi eleita em 2012 a primeira mulher a presidir a entidade da Associação Catarinense de Criadores de Bovinos (ACCB)em 47 anos de história, com a atividade de produção de leite nasceu a Queijaria Guinther, já no ano de 2021 conquistaram o selo SISBI(Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal), podendo comercializar os seus queijos em todo território nacional. Tamanho foram os esforços que no ano de 2022, Rosi, recebeu o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios 2022, conquistando o primeiro lugar na Categoria Produtora Rural

Cabanha Guinther - Braço do Norte/ SC

Agora que você já entendeu que a Rosi é uma figura influente e importante no setor lácteo, confira a entrevista que contem várias dicas para o empreendimento e atuação feminina no mercado lácteo!

Bate-papo com Rosi, da Cabanha Guinther e Queijaria Guinther: 

1. Ciência do Leite - O que despertou o seu interesse em atuar no mercado lácteo?

Rosi - O que despertou o meu interesse do setor lácteo foi o seguinte: eu sou criadora de Jersey há praticamente 20 anos. Trabalhando com a genética, fui agregando valor aos meus animais, fui melhorando até mesmo o próprio leite, com isso eu pensei: “Meu Deus! Não estou recebendo o justo que eu achava que deveria receber!” Na minha região tem muitos laticínios, então eu decidi fazer um queijo diferente, procurando agregar valor e com isso conseguir ter um retorno melhor na propriedade para poder continuar mantendo os meus animais de que eu gosto, tenho animais de feiras, animais top’s, de genética top, por isso eu comecei a fazer o queijo. Depois que comecei a fazer queijo fiquei apaixonada pelo queijo!

2. Ciência do Leite - Quais foram os principais desafios que enfrentou neste setor? A algum deles, você acreditou que sofreu maior dificuldade por ser mulher?

Rosi - A dificuldade maior no primeiro momento, pelo setor nem tanto porque eu fui atrás, eu busquei da maneira que eu queria, o queijo que eu queria fazer não iria competir diretamente com os laticínios da minha região, sendo um queijo diferente, um queijo curado e como eu sou lá da serra e eu sempre gostei muito do queijo serrano, eu fui buscar um queijo diferente e esse queijo serrado que é meu nicho de mercado, o queijo serrado, parmesão e faço o colonial porque todo mundo gosta do nosso colonial daqui da nossa região. 

A minha dificuldade foi em saber qual queijo fazer. Eu fazia, quando era pequena, com os meus tios ou quando ia visitar a fazenda deles, mas eu não tinha uma ideia, aqui em casa também eventualmente eu fazia. Mas eu precisava ter técnica, eu sabia que tem as técnicas certas para fazer e nós fizemos a mão, tudo a mão. Eu fui em um laticínio de um amigo meu e ele me deu dicas, que já foi legal. Fui em outro laticínio e eles me disseram: “Não, Rosi. O leite é o principal que você tem na mão, é o teu ouro. Então você tem que saber manejar ele e a maneira correta de fazer isso é fazer cursos”. Daí a gente foi na internet e achamos a Rica Nata, em Minas, muito longe daqui, mas isso não foi dificuldade. A gente buscou e foi atrás de aprender a fazer e de como realmente fazer de forma profissional. Foi fazendo um curso na Rica Nata que consegui trazer para cá e descobri qual era o queijo que eu queria trabalhar. Estou fazendo um tipo serrano, mas diferente, que foi um show e que deu certo! E foi na Rica Nata que aprendi no Curso de Queijo como fazer o queijo porque eu não sabia nada! Não que eu sei tudo, estou só começando, mas já aprendi bastante e suficiente para achar o queijo que eu queria. 

Daí eles perguntaram para mim: “Rosi, que queijo que tu vai fazer?” E eu falei: olha o queijo que eu vou fazer ainda não sei, mas sei que vou fazer um queijo ótimo! Graças a Deus deu super certo! Estou eu aqui fazendo um queijo maravilhoso que agora está no mercado, já consegui fazer o SISBI para o Brasil inteiro consigo vender, então foi perfeito! Esse foi o desafio que enfrentei, mas que deu certo!

Sobre sentir dificuldades por ser mulher, não senti nenhuma, porque eu comecei a trabalhar muito pequena, então sempre que precisei eu busquei. Eu tive essa dificuldade lá no começo quando eu comecei a criar vacas Jersey, era uma mulher ali no meio que era basicamente de homens, mas eu fui atrás, busquei o meu espaço, a coisa foi andando, eu fui fazendo, fui conseguindo mostrar para eles que não era por eu ser mulher que não ia dar certo, então eu busquei o que eu queria e eu consegui. Foi bem tranquilo, assim, não é que eu me impus, mas eu busquei meu espaço e deu certo. Vim para o laticínio foi um detalhe, também, mesmo porque a gente vê que tem muitas mulheres, hoje eu vejo que sim, que trabalham comigo mesmo são muitas mulheres, 80% do quadro de quem trabalha com as minhas vacas e com o meu laticínio é mulher, então é sinal que dá certo, não menosprezando os homens, mas mulheres nessas atividades também funcionam.

Queijo Tipo Serrado - Queijaria Guinther

 3. Ciência do Leite - Na sua opinião, o cenário da participação ativa das mulheres no mercado lácteo é desigual? Por quais razões?

Rosi - Talvez seja ainda desigual no sentido da parte administrativa, mas eu vejo aqui na nossa região que temos muitas e que em pequenos laticínios a maioria deles são tocadas por mulheres ou geralmente o homem fica na parte administrativa aqui na região. E as esposas, no caso, ou as mulheres que administram lá dentro do laticínio são muitas, a maioria delas não aparecem porque ficam mais na parte de produção, dentro do laticínio. Mas aqui na região já são muitas mulheres e isso já vem nos ajudando bastante, porque a mulher já tem aquele lado mais caprichoso, cuidadoso, os homens ficam mais na parte de mexer os queijos e as mulheres mais nas partes delicadas. Isso são coisas já dá mulher e do homem, não vamos dizer que um é melhor que o outro, é que um complementa o outro, eu sempre penso ser dessa forma que a coisa acontece. 

4. Ciência do Leite - Quais oportunidades o setor lácteo pode oferecer as mulheres, e é possivelmente desconhecido pela maioria delas?

Rosi - Eu já acabei respondendo antes, né? Que elas não “sabem”, mas elas sabem sim. O que eu preciso hoje para que meu laticínio dê certo? Eu preciso ter minha produção, eu preciso ter o meu comercial e eu preciso ter também o administrativo. Não só eu preciso, mas todos os negócios. Então é achar a pessoa certa no lugar certo, isso é uma das coisas mais difíceis. Eu, de primeiro momento, administro a parte das vacas, a fazenda, no caso, de ir inseminar as minhas vacas, tirar o leite e trazer para o laticínio. Eu uso só o meu leite aqui! E, sair dessa área e vir para o administrativo do laticínio em si, então, esse é o que é desconhecido e que a gente só fazendo que vai conseguir fazer direito. Todo mundo consegue, seja homem, ou seja mulher. É ir em busca do projeto que a gente tem de vida que dá certo. 

5. Ciência do Leite - Se fosse possível voltar ao passado, o que você hoje aconselharia para a Rosi que iniciou esta jornada no setor lácteo?

Rosi - No caso, eu me aconselharia, de tudo que fiz até agora, e se tivesse começando agora, faria tudo igual. Não faria nada de diferente do que fiz. Por que o que é primeiro para mim? Por que eu estou aqui hoje cuidando de vaca, tirando leite e fazendo queijo? Porque eu já tive minha família, tenho a minha família, criei, já são todos criados, a gente tem outra empresa, o meu marido e meus filhos trabalham na outra empresa e eu busquei algo mais, eu pensei: “eu tenho algo mais que eu possa fazer”. Por mim, primeiramente, porque primeiro a gente tem que pensar na gente, se a gente não estiver bem, não vai estar bem em lugar nenhum. E eu disse que poderia fazer algo mais pelo mundo, pela humanidade, pelos meus amigos, pelos meus vizinhos ou até pelos meus funcionários, no caso né? A gente tem vários funcionários aqui também. Então, isso fez com que eu buscasse e tudo que busquei sempre quis o novo, o diferente, o que tinha para se fazer, então vamos buscar, se dava para fazer a gente vai atrás, busca e faz, eu planto milho… isso para mim é uma realização de poder fazer alguma coisa e: “meu Deus, eu estou fazendo isso, eu posso! Eu posso ajudar!” Que seja pequenininho, mas eu faço uma diferença no mundo, então a partir disso eu penso que tudo que fiz eu faria tudo de novo! 

6. Ciência do Leite - Como exemplo mais recente, no ano de 2022 você foi premiada pelo Sebrae/ SC, no Prêmio Sebrae Mulher de Negócios 2022, tendo conquistado o 1º lugar na categoria Produtora Rural. Como você se sente em relação às atividades que realiza e por ser reconhecida também por elas? 

 

Rosi - A minha vida sempre foi constante, sempre foi fazer algo de diferente para o mundo, para as pessoas com quem eu convivo, primeiramente. Então, se eu posso fazer, por

 que não ? Com esse prêmio, veio dizer assim: “não, Rosi, tudo o que tu fez até hoje não é que deu certo, é o certo, foi o certo!”. Isso é muita realização para gente, comecei com as vacas, para trás trabalhei com o meu marido prim

eiro. E a coisa foi indo, fluindo, dando certo. Daí estou aqui agora com as minhas vacas que eu adoro! Acho maravilhoso! Gosto de fazer queijos, mas gosto demais das vacas também! Então, é uma corrente e essa corrente que fiz entre cuidar das minhas vacas, ter os meus funcionários, ter os meus amigos, ter minha família, que primeiro na vida para mim está minha família, meus pais, meus irmãos, meus filhos, meu marido, então me deixa feliz! Eu também tenho a outra família, que seria os meus funcionários e meus vizinhos aqui da fazenda, fui presidente da Associação… As coisas foram acontecendo na minha vida como eu gostaria que fosse. Foi ótimo! E aí chegar no prêmio que ganhei é: "nossa! Que bom! Tudo o que fiz até hoje deu certo!" Isso para mim é muito importante, eu ter feito, ter dado certo e sou feliz! 

O que eu prego e eu acho que o mundo e na vida a gente tem que ser feliz. Então, se tudo o que fiz e passei, e várias pessoas - “não, mas realmente, a Rosi fez certo! Ela merece!” - então esse merecimento me deixa muito feliz!

 7. Ciência do Leite - A que você atribui o seu sucesso?

Rosi - O meu sucesso vai de fazer a coisa certa. Já falava com os meus filhos, quando eram pequenininhos, que hoje já são tudo criados, casados e tudo, eu falava para eles: “o maior exemplo que a gente pode dar é você fazer a coisa certa, estar no caminho certo!”. E o sucesso é isso, você fazer a coisa certa, no caminho certo e com isso você consegue fazer com que os seus negócios vão andas, as pessoas vão te reconhecer e também é o exemplo que você deixa para a humanidade de fazer o certo, se faz a coisa certa vai ter o retorno certo. É isso o que eu penso, sucesso é isso! 

 

8. Ciência do Leite - O que você gostaria de aconselhar a todas as mulheres que estão lendo hoje a sua entrevista?

Rosi - Foco! Segue o caminho! Busque ser feliz!  Primeiro, olhe, sempre falei isso e continuo falando, não adianta você querer ser feliz, trocar de cidade, trocar de vida, trocar de marido, trocar de lugar, se você não está bem. Primeiro você tem que estar bem com você mesma e estar gostando do que você está fazendo. A partir desse momento que você está feliz, que você está bem, não importa. Eu tive, comecei a trabalhar aqui no meu sítio, com as minhas vacas, eu já tinha quarenta e poucos anos, até então eu fui mãe, dona de casa e fiz tudo muito bem feito! Sem transtorno, sem reclamar, sem nada! Fui fazendo a coisa certa! Então, as coisas foram indo e hoje eu estou onde estou por conta da escolha de dizer - “vou pensar primeiro na Rosi!”. Não que eu esteja com isso de - “não, vou pensar na Rosi, vou deixar tudo de fora, vou mandar tudo ir embora” - não! Não é isso! Você tem que ser feliz dentro do que você quer. O que tu faz com amor, faz o que gosta, dá certo. Então busque! Não reclame, não fique brava, não fique nervosa! Vai fazendo o seu planejamento que chega uma hora que a coisa retorna. Então é isso o que eu quero deixar para vocês, que busque os seus direitos e busque a sua felicidade!
 

 

Nosso mais sincero agradecimento a Rosi pela sua disponibilidade de tempo e atenção dada a nossa equipe para o desenvolvimento dessa edição especial ao dia da mulher, desejamos que pela sua contribuição de vida e a entrevista concedida ao nosso portal possamos ter amparado a diversas mulheres que se sentem ainda confusas com este mercado.

 

E você querido(a) leitor? Qual a sua opinião sobre o papel desempenhado pelas mulheres no setor lácteo ? Nos conte também se gostou deste editorial! Deixe o seu comentário logo abaixo, teremos prazer em ler. 

 

Lembre-se de acessar no nosso portal a entrevista completa de mais duas grandes mulheres que participaram dessa edição especial de dia das mulheres, Luiza Carvalhaes de Albuquerque e Simone M. Andrade Couto.

 

 

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