Rondônia aumentou a produção de leite, principalmente por conta do maior número de propriedades leiteiras e de animais, sendo um dos destaques em nível regional
A pecuária leiteira está presente em quase todos os municípios brasileiros. Dos 5.570 municípios existentes no País, apenas 67 não produzem leite (IBGE, 2012). De 1980 a 2013, a produção brasileira de leite quase triplicou. O crescimento não foi homogêneo em todo o País, e as razões foram variadas. Entre a década de 80 e o ano 2000, Rondônia aumentou a produção de leite, principalmente por conta do maior número de propriedades leiteiras e de animais, sendo um dos destaques em nível regional e nacional.
O setor agropecuário é um dos mais importantes da economia do Estado de Rondônia, e a pecuária rondoniense representa, em termos da atividade econômica, a 9° maior do país e a 3° maior da Região Norte. A pecuária leiteira, por sua vez, é um dos segmentos com grande importância, principalmente por ser exercida no âmbito da agricultura familiar, e "é praticada em 1/3 das propriedades rurais" (Embrapa, 2013).
A produção de leite em Rondônia, ainda quando território do Brasil, foi iniciada de forma comercial no final da década de 70. Em 1983, por iniciativa do governo estadual, foi instalada uma usina de leite denominada Ouro Branco, em Porto Velho. Na época, os produtores rurais com fazendas próximas da capital forneciam leite diariamente para a indústria. Poucos anos depois, a indústria foi transferida para Ouro Preto do Oeste, região com maior produção. Pouco a pouco foram sendo instaladas novas indústrias, e os produtores de leite hoje são mais de 38 mil em todo o Estado.
No estado de Rondônia, no período de 2002 a 2013, a fonte de crescimento da produção foi o aumento do número de vacas ordenhadas, visto que a produtividade não cresceu no período. Esse resultado difere do que aconteceu no país no mesmo período, cuja principal fonte de crescimento da produção foi a produtividade.
Em 2016, segundo o levantamento do IBGE, o parque industrial lácteo rondoniense era composto por: 37 laticínios ativos cadastrados no SIF que processavam 99,32% do leite inspecionado; 17 laticínios cadastrados no SIE que processavam 0,6% do volume de leite industrializado e 18 laticínios com o SIM, que processavam 0,08%, aproximadamente, do volume de leite industrializado.
Nos últimos anos, o parque industrial de Rondônia diversificou em variedade de produtos lácteos. A muçarela, principal produto, outros queijos, iogurte e manteiga são alguns dos produtos fabricados há vários anos. Atualmente, existem mais três fábricas que processam leite em pó e soro em pó, uma de soro em pó, duas de leite condensado, entre outros produtos.
A capacidade industrial instalada em Rondônia é suficiente para receber o leite produzido e, inclusive, atender satisfatoriamente aos picos de produção. Atualmente, os laticínios recebem diariamente a média de 1,9 a 2,3 milhões de litros de leite, conforme o período do ano. Entre as empresas com SIF, duas possuem 10 indústrias de laticínios e processam 60% do leite, aproximadamente. O restante do leite é dividido entre as 27 demais empresas.
No quesito sanidade animal, a partir do ano 2000, com o início da estruturação da Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastorial do Estado de Rondônia (IDARON), contando com o apoio de várias entidades parceiras (SEAGRI-RO, EMATER, CEPLAC, FEFA-RO, EMBRAPA), Rondônia iniciou campanhas sistemáticas de vacina contra aftosa do rebanho bovino, que culminou, em Maio de 2003, na Declaração Internacional pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) como zona livre de aftosa com vacinação.
O acompanhamento da cobertura vacinal para febre aftosa e brucelose é realizado pela Agência IDARON através de suas coordenações de programas, além de ser monitorada pelo MAPA. Este, por sua vez, tem também acompanhado os índices de vacinação contra brucelose dos estados brasileiros, no qual Rondônia se destaca por ter índice médio de 85,68%.
É inegável que a nova situação de zona livre de febre aftosa com vacinação estimulou a crescente produção do rebanho bovino estadual, pois os produtos rondonienses assumiram um novo patamar de competitividade nacional e internacional. A IDARON e os proprietários de bovinos têm a grande responsabilidade de manter o status livre da aftosa para Rondônia. A Agência faz a vigilância, a orientação e a fiscalização, e o proprietário deve cumprir com seus deveres, destacando-se, dentre outros, vacinar o rebanho, transitar animais apenas com a Guia de Trânsito Animal (GTA), bem como notificar a existência de animais doentes.
Entre os anos de 2011 e 2012, uma investigação foi realizada por pesquisadores da EMBRAPA em 236 rebanhos bovinos de Rondônia para aferir a qualidade do leite, de acordo com a Instrução Normativa nº 62/2011 do MAPA. Dos rebanhos avaliados, 107 rebanhos (45,1%) apresentaram resultados da CCS>200.000 CS/ml e 166 rebanhos (70,3%) apresentaram CTB>100.000 UFC/ml (EMBRAPA, 2013). O rebanho rondoniense apresenta maior dificuldade para se adequar aos índices da CBT, mas ainda precisa melhorar também o índice para CCS. Para atingir tais metas, boas práticas no manejo da ordenha e a granelização do leite são pontos essenciais.
A maior mudança ocorrida para a melhoria da qualidade do leite em Rondônia foi a adoção do tanque de expansão para resfriamento do leite. Em 2002, apenas 5,25% utilizavam esse equipamento, passando a 82,50% em 2013. Atualmente, somente 17,50% dos produtores entrevistados não têm acesso ao resfriamento de leite. Esse resultado mostra uma evolução expressiva no sistema de coleta do leite, resultando em melhoria na qualidade do leite entregue nos laticínios.
O leite processado em Rondônia é parcialmente consumido no estado, mas aproximadamente 75% do leite é comercializado para outros estados, destacando os estados de São Paulo e Amazonas. Situação inversa de 30 anos atrás, quando o estado importava praticamente todos os produtos lácteos consumidos, pois a produção de leite era pequena e o único produto lácteo era uma pequena quantidade de leite
pasteurizado. Em 2013, o leite entregue aos laticínios aumentou em 1,76% em relação ao ano anterior, para decrescer quase 3% em 2014.
Entre 2007 e 2014, Rondônia exportou exclusivamente para a Bolívia, que é o único importador de produtos lácteos rondonienses desde que o estado iniciou essas atividades em 2007. Rondônia iniciou as importações de produtos lácteos também em 2007. Desde então, importou somente queijos provenientes de vários países: Holanda, Suíça, Itália, Argentina e Uruguai. As quantidades variaram de 9 a 192 toneladas por ano a preços médios de US$ 9.84/kg.
Ocorreram significativas alterações na origem dos produtos consumidos em Rondônia entre 2002 e 2013, com destaque para o leite em pó produzido no próprio estado. Em 2002, todo o leite em pó consumido em Rondônia era proveniente de outros estados. Com a implantação da indústria de leite em pó no estado, a maior parte dos consumidores mudou de marca, preferindo o produto local. Esse é um ponto interessante e mostra a importância da diversificação da produção pela indústria. Muitas vezes, os empresários não investem em novos produtos com receio de não haver mercado consumidor. Entretanto, o produto local pode ter a vantagem competitiva sobre os outros de origem mais distante.
A maior diversidade de produtos oferecidos pelos fornecedores se reflete no número de marcas comercializadas. Com exceção do leite C e UHT, houve um aumento nas marcas comercializadas de todos os outros produtos lácteos.
Entre 2002 e 2013 é possível perceber a mudança de mentalidade dos empresários envolvidos na indústria laticinista. Em 2002, a maior motivação para abertura de uma empresa no ramo era a possibilidade de industrializar o próprio leite, destacando-se também a experiência do proprietário que já havia trabalhado no ramo. Em 2013, a oportunidade de lucrar com o mercado de lácteos passa a ser a principal motivação dos entrevistados.
No que tange à necessidade de gestão sobre a qualidade total, novamente se percebe a evolução da indústria laticinista em Rondônia nos últimos anos. Em 2002, somente 15% dos entrevistados afirmaram conhecer os processos de gestão visando à qualidade total. No diagnóstico de 2013, todos os entrevistados têm conhecimento do processo, e acompanhando o desenvolvimento do mercado de lácteos no estado, as exigências do consumidor também se modificaram, tornando a procura por produtos de melhor qualidade mais significativa. Como a produção de produtos com maior valor agregado necessita de processos mais elaborados, a gestão da qualidade é peça fundamental para que a indústria atenda a essa demanda. Nos últimos anos, esse parece ser o foco dos gestores das empresas de lácteos de Rondônia.
Em 2002, as principais dificuldades para utilização da informática eram a falta de treinamento e a assistência técnica deficitária, citadas, cada uma, por 29% dos
entrevistados. Em ambos os casos, as dificuldades estavam associadas à qualificação da mão de obra. Em 2013, mesmo cientes da importância da informática para ampliar os controles, o desconhecimento de programas específicos e a falta de treinamento são os argumentos principais para a adoção dessa tecnologia.
Rondônia apresenta muitos elementos necessários para aumentar a produção de leite e de produtos lácteos, entre os quais podemos citar: a) possui rebanho e pastagens formadas com expressivo número de produtores de leite com larga experiência; b) a maior parte de suas estradas é transitável durante o ano todo; c) dispõe de extensa rede de eletrificação rural; d) possui alta porcentagem de granelização do leite; e) existem diversas escolas de ciências agrárias e elevado número de profissionais habilitados a prestar os mais diversos tipos de assistência às propriedades rurais; f) as casas agropecuárias, as redes de supermercados e os comércios de laticínios são numerosos e abrangem todos os municípios; g) o parque industrial tem capacidade para processar o dobro da produção atual, oferecendo variados produtos. Para complementar, Rondônia tem mercado consumidor crescente com chances de aumentar as exportações pelas facilidades geográficas e necessidades dos países vizinhos.
Dificuldades também existem: pastagem degradada, manejo inadequado, baixa escolaridade do produtor, má gestão em geral, entre outros, porém, o desafio é de todos, para de forma sincronizada e eficiente atingir o resultado esperado: produzir leite e produtos lácteos de qualidade com valores competitivos e compensatórios para todos os envolvidos.
BIBLIOGRAFIA
Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em Rondônia. Diagnóstico do Agronegócio do Leite e Derivados do Estado em Rondônia. 1ª Edição. Porto Velho: 2015. 336 p. Ilustr.