20/04/2024 às 12h48min - Atualizada em 20/04/2024 às 12h48min

Produtos lácteos à base de plantas

À medida que as alergias e intolerâncias alimentares se tornam mais comuns, os alimentos alternativos, como as bebidas vegetais, estão se tornando uma parte essencial da dieta das pessoas.

Clarice Coimbra Pinto e Drª. Claudety Barbosa Saraiva - Professora/Pesquisadora
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG)/ Instituto de Laticínios Cândido Tostes (ILCT)
Foto Divulgação por Flatart Freepix
O interesse crescente dos consumidores em adotar padrões alimentares centrados em produtos de origem vegetal, motivado por preocupações com saúde, bem-estar, sustentabilidade ambiental e ética animal (Silva, 2015), ressalta a urgência de capacitar e especializar os profissionais envolvidos na produção, comercialização e distribuição de alternativas lácteas à base de plantas. Além disso, é importante reforçar o conhecimento dos nutricionistas e outros profissionais de saúde para assegurar uma resposta adequada a essa demanda em constante crescimento.
Os consumidores demonstram um crescente interesse em diminuir ou eliminar o consumo de alimentos desse tipo, o que proporciona oportunidades para o surgimento de diversas ramificações, tanto em nichos específicos de consumo quanto no lançamento de novas alternativas alimentares - os produtos à base de plantas. Segundo dados da PBFA (2024), esses produtos são formulados a partir de ingredientes provenientes de plantas, tais como vegetais, frutas, grãos, nozes e/ou sementes.
As bebidas vegetais têm despertado crescente interesse como alternativa às opções lácteas, não apenas por consumidores preocupados com questões de saúde, mas também por aqueles com sensibilidades alimentares específicas ou preferências dietéticas distintas. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), essas bebidas podem ser consideradas produtos proteicos de origem vegetal, conforme estabelecido na RDC Nº 268, de 22 de setembro de 2005, (Brasil, 2005).
Diversos grupos de consumidores emergiram com diferentes abordagens dietéticas, incluindo vegetarianos, ovolactovegetarianos, veganos e flexitarianos, conforme observado por (Melina, et al., 2016). Essas dietas são consideradas adequadas para todas as fases da vida, incluindo gravidez, lactação, infância, adolescência, idade adulta e para atletas. Os tipos de dietas desprovidas de alimentos de origem animal incluem vegetarianos (que podem ou não incluir ovos ou produtos lácteos e mel), ovolactovegetarianos (que incluem ovos e produtos lácteos), lactovegetarianos (que incluem laticínios, mas não ovos), ovo-vegetarianos (que incluem ovos e produtos de ovos, mas não laticínios), e veganos, que se baseiam em vegetais, frutas, nozes, sementes, leguminosas e grãos brotados.
Os produtos à base de plantas estão emergindo globalmente como uma alternativa aos produtos de origem animal, conquistando espaço no mercado alimentício. Embora ainda não sejam amplamente reconhecidos pela população em geral, esses produtos têm despertado grande interesse na área de inovação, pesquisa e desenvolvimento, demonstrando potencial para se consolidarem no mercado (Caruso; Carvalho, 2021).
De acordo com GFI (2021) “The Good Food Institute” o mercado global de plant-based cresce de 15% a 17% ao ano e na última década, de 2010 a 2020, movimentou US$ 6 bilhões, sendo um período recorde de investimentos em empresas que produzem alternativas sustentáveis aos alimentos de origem animal. E o Brasil pode ser considerado uma potência quando se trata de empreendedorismo e está acelerando para assumir a posição de protagonista no mercado de proteínas alternativas por apresentar uma variedade de produtos com uma qualidade e inovação (GFI, 2022).
As bebidas vegetais são produtos alternativos ao leite de origem animal, ou seja, são bebidas formuladas com água e algum ingrediente derivado de plantas, bem como grãos, castanhas e/ou sementes. No perfil nutricional, algumas bebidas vegetais, como de soja e de ervilha, são ricas em proteínas e oferecem um perfil nutricional semelhante ao do leite de vaca (Caruso; Carvalho, 2021).
De acordo com Gobbi et al. (2019), as bebidas vegetais podem ser classificadas de forma geral por suas categorias, que seriam: 
. À base de cereais: aveia, arroz, milho e painço; 
. À base de leguminosa: soja, amendoim e tremoço; 
. À base de nozes: amêndoa, coco, avelã, pistache e noz/castanha;
. À base de sementes: gergelim, linhaça e girassol; 
. À base de pseudo cereais: quinoa, amaranto e trigo sarraceno.
Assim como acontece com qualquer alimento, o consumo de bebidas vegetais apresenta tanto vantagens quanto desvantagens, como ilustrado na Figura 1. Conforme observado por Maciel Neto et al. (2020) e Cordova (2019), algumas delas incluem:

Figura 1. Vantagens e desvantagens do consumo de bebidas vegetais.

















A crescente adoção de alternativas aos laticínios é impulsionada por seus benefícios para a saúde, bem como por mudanças nos estilos de vida, uma maior conscientização sobre saúde, o aumento das alergias à lactose e o crescimento de segmentos específicos de mercado. Esses são alguns dos fatores que impulsionam o crescimento desse mercado em expansão.
As empresas que produzem bebidas de origem vegetal geralmente iniciam obtendo suas matérias-primas de fornecedores especializados no cultivo das plantas usadas na bebida. Depois de processar as matérias-primas para extrair os "leites", o líquido resultante é homogeneizado, adicionado a outros ingredientes conforme a formulação de cada empresa, pasteurizado e embalado para distribuição. Em contraste, o leite de origem animal passa por um processo mais complexo que envolve ordenha, pasteurização, homogeneização e, às vezes, fortificação com vitaminas e minerais. 
O manuseio e processamento do leite de origem animal exigem medidas específicas de higiene e refrigeração para garantir a qualidade e segurança do produto, juntamente com testes microbiológicos e de possíveis adulterações em toda a cadeia de recepção. Assim, as bebidas de origem vegetal geralmente passam por um processo de fabricação mais simples em comparação com o leite de origem animal, conforme demonstra o fluxograma geral para produção de bebidas vegetais.

Figura 2. Fluxograma geral para produção de bebidas vegetais. De acordo com uma pesquisa realizada pela Genera (2023), com uma base de aproximadamente 200 mil clientes em todo o Brasil que passaram pelo teste genético de saúde e bem-estar, constatou-se que 51% dos brasileiros avaliados apresentam predisposição para o desenvolvimento de intolerância à lactose. Em comparação, em populações de origem no norte da Europa e na Europa Ocidental, a frequência dessa variante é substancialmente menor, atingindo apenas 9%. Diante disso, as bebidas vegetais surgem como uma alternativa saudável e nutritiva para aqueles que buscam uma dieta mais diversificada ou têm alguma restrição alimentar. No entanto, é fundamental escolher um leite vegetal que atenda às necessidades nutricionais individuais e estar ciente das desvantagens de cada opção disponível.



























Considerações finais
À medida que as alergias e intolerâncias alimentares, especialmente a intolerância à lactose, se tornam mais comuns, os alimentos alternativos, como as bebidas vegetais, estão se tornando uma parte essencial da dieta das pessoas. Além disso, há uma crescente demanda por opções alimentares mais saudáveis e nutritivas. No entanto, o alto custo desses produtos ainda é uma barreira significativa para muitos consumidores. Portanto, medidas que visem tornar essas alternativas mais acessíveis e economicamente viáveis são essenciais para garantir que todos tenham a oportunidade de fazer escolhas alimentares saudáveis e adequadas às suas necessidades. Somente assim poderemos verdadeiramente promover a inclusão e o bem-estar de todos os indivíduos em nossa sociedade.
Referências Bibliográficas

BRASIL. Resolução - RDC nº 268, de 22 de setembro de 2005. Regulamento técnico para produtos proteicos de origem vegetal. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 2005ª.
Caruso, Yanni Sales; Carvalho, Luiz Eduardo R. de. Teor proteico em alimentos plant-based: estudo de caso sobre correlações entre bacalhau, hambúrguer e “leite” vegetais. Alimentos, Nutrição e Saúde 4, [S.L.], p. 1-8, 23 ago. 2021. Atena Editora. http://dx.doi.org/10.22533/at.ed.0202123081.
Cordova, Amanda Godoi de. Consumo de bebidas vegetais no Brasil: análise da percepção do consumidor, pelo uso de Word Association. 2019. 44 f. TCC (Graduação) - Curso de Engenharia de Alimentos, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2019.
Genera. Estudo da Genera revela informações de saúde e riscos genéticos do brasileiro. 2023. Disponível em: https://www.genera.com.br/blog/saude-brasileiro/. Acesso em: 04 de março de 2024.
Gobbi, Laura et al. Biogenic Amines Determination in “Plant Milks”. Beverages, [S.L.], v. 5, n. 2, p. 40, 4 jun. 2019. MDPI AG. http://dx.doi.org/10.3390/beverages5020040.
Maciel neto, Paulo et al. Alimentos plant-based: estudo dos critérios de escolha do consumidor. Research, Society and Development, [S.L.], v. 9, n. 7, p. 1-19, 20 jun. 2020. http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v9i7.4980
Melina, Vesanto; CRAIG, Winston; LEVIN, Susan. Position of the Academy of Nutrition and Dietetics: vegetarian diets. Journal Of The Academy Of Nutrition And Dietetics, [S.L.], v. 116, n. 12, p. 1970-1980, dez. 2016. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.jand.2016.09.02.
PBFA – Plant Based Food Association (2024). U.S. RETAIL SALES DATA FOR THE PLANT-BASED FOODS INDUSTRY: Plant-Based Milk. Disponível em: https://www.plantbasedfoods.org/2022-u-s-retail-sales-data-for-the-plant-basedfoods-industry/. Acesso em: 04 de março de 2024.
Silva SCG, Pinho JP, Borges C, Santos CT, Santos A, Graça P. Linhas de Orientação para uma Alimentação Vegetariana Saudável [Internet]. Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável. 2015. 1–50 p.

Link
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp