05/06/2024 às 17h47min - Atualizada em 05/06/2024 às 17h47min

Semana do Meio Ambiente: A indústria de laticínios e a sustentabilidade

Em comemoração à Semana do Meio Ambiente, é essencial refletirmos sobre os desafios e as oportunidades de sustentabilidade em diversas indústrias.

Claudety Barbosa Saraiva e Clarice Coimbra Pinto
EPAMIG/Instituto de Laticínios Cândido Tostes
Foto Divulgação Freepik

Em comemoração à Semana do Meio Ambiente, é essencial refletirmos sobre os desafios e as oportunidades de sustentabilidade em diversas indústrias. Entre elas, as indústrias de laticínios que são importantes para a economia e para a nutrição humana, mas também geram impactos ambientais significativos. Este artigo explora os efeitos ambientais da produção de leite e as medidas que podem ser adotadas para mitigar esses impactos, promovendo um futuro mais sustentável. A produção de leite exige grandes quantidades de recursos naturais, especialmente água e terra. A criação de gado leiteiro depende de vastas extensões de terra para pastagens e cultivo de forragem. Se não for manejada adequadamente, essa prática pode levar ao desmatamento e à degradação do solo. A implementação de técnicas de manejo eficiente da água pode reduzir significativamente o consumo desse recurso na produção de leite. A instalação de sistemas de irrigação eficientes, como a irrigação por gotejamento, e a reutilização de águas residuárias tratadas para fins agrícolas são práticas que podem ser adotadas para minimizar o uso de água (FAO, 2013).

O sobrepastoreio e a compactação do solo levam à erosão e à diminuição da fertilidade do solo. Para mitigar esses efeitos, práticas de manejo sustentável do solo, como a rotação de pastagens e a manutenção da cobertura vegetal, são essenciais. Além disso, os resíduos dos animais, como o esterco, são uma fonte significativa de poluição da água. O manejo inadequado desses resíduos pode resultar na contaminação dos cursos d'água, contribuindo para o acúmulo excessivo de nutrientes como nitrogênio e fósforo, podendo desencadear processos de eutrofização, conforme a Figura 1 (Carpenter et al., 1998). 


Figura 1. Lago eutrofizado. Fonte: Szabolcs Csehak

O manejo adequado dos resíduos animais pode transformar um problema ambiental em uma oportunidade. A biodigestão anaeróbica, por exemplo, permite a conversão de esterco em biogás, uma fonte de energia renovável, e em biofertilizantes, que podem ser utilizados na agricultura, reduzindo a dependência de fertilizantes químicos (Møller, Sommer & Ahring, 2004).

Além da produção no campo, as indústrias lácteas exercem um impacto ambiental considerável durante o processamento do leite para a produção de uma variedade de lácteos. Esses processos consomem grandes quantidades de energia e água. A energia é essencial para a pasteurização, refrigeração e outros procedimentos industriais que garantem a qualidade e a segurança dos produtos lácteos. No entanto, a maior parte dessa energia é proveniente de fontes não renováveis, o que representa um desafio para a sustentabilidade das indústrias lácteas (Worrell et al., 2010).

Para abordar esses desafios, é importante repensar não apenas os processos de produção, mas também a gestão de resíduos sólidos, líquidos e gasosos. As indústrias lácteas geram uma variedade de resíduos, incluindo embalagens plásticas, efluentes líquidos e emissões gasosas. A gestão adequada desses resíduos é essencial para reduzir o impacto ambiental das operações industriais. Tecnologias avançadas de tratamento de resíduos podem ser implementadas para minimizar a poluição do ar e da água, garantindo que as indústrias de laticínios operem de forma mais sustentável e em conformidade com as regulamentações ambientais (Kosikowski, 1979).

A indústria 4.0 oferece oportunidades para repensar os processos de produção e adotar práticas mais eficientes e sustentáveis. A integração de tecnologias digitais, como Internet das Coisas (IoT), inteligência artificial e automação, pode aumentar a eficiência operacional das indústrias lácteas, reduzindo o desperdício de recursos e minimizando o impacto ambiental. Por exemplo, sistemas de monitoramento em tempo real podem otimizar o consumo de água e energia, enquanto soluções de rastreamento de resíduos podem melhorar a gestão e reciclagem de materiais descartados. Ao incorporar princípios de sustentabilidade na era da indústria 4.0, os laticínios podem avançar em direção a uma produção mais limpa e responsável (Schuh et al., 2017).

Outro aspecto a ser considerado é a necessidade de repensar as embalagens utilizadas pela indústria de laticínios. O aumento do uso de embalagens plásticas tem contribuído significativamente para a poluição ambiental. As indústrias lácteas podem desempenhar um papel importante na redução do desperdício de embalagens e na promoção de alternativas mais sustentáveis, como embalagens biodegradáveis, compostáveis ​​ou feitas a partir de materiais reciclados. As estratégias de embalagem inteligente, como a redução do tamanho e o design ecoeficiente, podem ajudar a minimizar o impacto ambiental das embalagens sem comprometer a qualidade ou a segurança dos produtos lácteos (Bakker et al., 2020).

Governos podem desempenhar um papel importante na promoção da sustentabilidade nas indústrias através de políticas de incentivo. Subsídios para práticas agrícolas sustentáveis, financiamentos para tecnologias verdes e regulamentações ambientais mais rigorosas são algumas das formas pelas quais os governos podem incentivar a adoção de práticas sustentáveis (Smith et al., 2007). 

As certificações e sistemas de rotulagem que reconhecem e recompensam práticas de produção sustentável podem influenciar positivamente o comportamento dos consumidores e produtores. Certificações orgânicas, de bem-estar animal e de baixo carbono ajudam a diferenciar produtos sustentáveis no mercado, incentivando tanto os produtores quanto os consumidores a adotarem práticas mais ecológicas (Thøgersen, 2000).

Conclui-se que a colaboração entre governos, produtores, pesquisadores e consumidores é fundamental para construir um futuro mais sustentável e equilibrado. A adoção de práticas sustentáveis não apenas protege o meio ambiente, mas também garante a viabilidade econômica a longo prazo da indústria de laticínios. A promoção da sustentabilidade nesse setor não só preserva a saúde do nosso planeta, mas também promove o bem-estar das futuras gerações.

Referências
Carpenter, S. R., Caraco, N. F., Correll, D. L., Howarth, R. W., Sharpley, A. N., & Smith, V. H. (1998). Nonpoint pollution of surface waters with phosphorus and nitrogen. Ecological Applications, 8(3), 559-568.

FAO (2013). Tackling climate change through livestock: A global assessment of emissions and mitigation opportunities. Rome: Food and Agriculture Organization of the United Nations.

Kosikowski, F. V. (1979). Whey utilization and whey products. Journal of Dairy Science, 62(7), 1149-1160.

Møller, H. B., Sommer, S. G., & Ahring, B. K. (2004). Methane productivity of manure, straw and solid fractions of manure. Biomass and Bioenergy, 26(5), 485-495.

Smith, P., Martino, D., Cai, Z., Gwary, D., Janzen, H., Kumar, P., ... & Rice, C. (2007). Greenhouse gas mitigation in agriculture. Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences, 363(1492), 789-813.

Szabolcs, C. (n.d.). Lago eutrofizado. https://www.shutterstock.com/es/g/CsehakSzabolcs

Thøgersen, J. (2000). Psychological determinants of paying attention to eco-labels in purchase decisions: Model development and multinational validation. Journal of Consumer Policy, 23(3), 285-313.

Worrell, E., Price, L., Martin, N., Hendriks, C., & Meida, L. O. (2010). Energy efficiency and carbon dioxide emissions reduction opportunities in the US iron and steel sector. Energy, 25(3), 239-272.

Agradecimento: As autoras registram seus agradecimentos a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais/Instituto de Laticínios Cândido Tostes e a Universidade Federal de Juiz de Fora.

Autoras
Claudety Barbosa Saraiva - Professora e Pesquisadora do EPAMIG/Instituto de Laticínios Cândido Tostes
Clarice Coimbra Pinto - Mestranda em Tecnologia de Leite e Derivados (Universidade Federal de Juiz de Fora).


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