08/04/2024 às 12h00min - Atualizada em 08/04/2024 às 12h00min

Lácteos Probióticos: Maximizando o valor dos alimentos funcionais

As pessoas estão priorizando sua qualidade de vida e bem-estar, adotando hábitos como a prática regular de exercícios físicos e uma alimentação balanceada.

Clarice Coimbra Pinto e Claudety Barbosa Saraiva
EPAMIG/Instituto de Laticínios Cândido Tostes
Imagem Divulgação de Freepik
Cada vez mais, as pessoas estão priorizando sua qualidade de vida e bem-estar, adotando hábitos como a prática regular de exercícios físicos e uma alimentação balanceada. Como resultado, cresce a demanda por alimentos com baixo teor de sódio, gorduras e açúcares, assim como por aqueles que oferecem benefícios à saúde. Dentro desse contexto, destacam-se os alimentos funcionais, especialmente os que contêm probióticos (Antunes et al., 2007; Silva, 2007). Os alimentos funcionais são aqueles que não apenas fornecem nutrição básica, mas também promovem benefícios à saúde por meio de mecanismos além dos esperados na alimentação convencional. É importante ressaltar que esses alimentos visam a promoção da saúde, não a cura de doenças (Becker, 2009; Santos et al., 2011). Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), os alimentos funcionais são aqueles que afirmam possuir propriedades funcionais ou de saúde, além de fornecerem funções nutricionais básicas, produzindo efeitos metabólicos e/ou fisiológicos, desde que sejam seguros para o consumo humano sem a necessidade de supervisão médica (ANVISA, 1999).

A indústria de laticínios tem se destacado nesse sentido, oferecendo uma variedade crescente de produtos funcionais que incluem probióticos e prebióticos, como iogurtes e leites fermentados (Antunes et al., 2007; Santos et al., 2011). Conforme Saad (2006), Sanders (2009) e Rocha (2011), os probióticos são micro-organismos vivos que devem ser consumidos em quantidades suficientes para conferir benefícios à saúde do hospedeiro, com suas cepas demonstrando eficiência comprovada. O uso de probióticos teve início no Oriente Médio, onde iogurtes e leites fermentados eram prescritos para fins terapêuticos, como no tratamento de infecções gastrointestinais e no estímulo do apetite (Carli, 2006).

De acordo com a legislação brasileira, alimentos com probióticos ou que afirmam conter probióticos devem conter uma concentração mínima de 108 a 109 UFC (Unidades Formadoras de Colônias) de micro-organismos probióticos por porção do produto, incluindo cepas como Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus casei shirota, Lactobacillus casei variedade rhammosus, Lactobacillus casei variedade defensis, Lactobacillus paracasei, Lactococcus lactis, Bifidobacterium bifidum, Bifidobacterium animalis (incluindo a subespécie B. lactis), Bifidobacterium longum e Enterococcus faecium (ANVISA, 2008). A eficácia de um alimento probiótico está diretamente relacionada à viabilidade, atividade e abundância dessas bactérias até o final da validade do produto. Além das cepas mencionadas, outros micro-organismos estão sendo estudados por seu potencial probiótico, como Lactobacillus acidophilus spp, Lactobacillus reuteri, Lactobacillus plantarum, Lactobacillus fermentum, Lactobacillus johnsonii, Lactobacillus paracasei, Bifidobacterium infantis, Bifidobacterium breve, Enterococcus faecium, Enterococcus coli e fungos como Saccharomyces boulardii (Silva, 2007; Zuccotti et al., 2008).

Os benefícios dos probióticos no tratamento da diarreia, evidenciados em diversos estudos, estão associados ao seu mecanismo de ação, que inclui a produção de substâncias como ácido lático, acético, peróxido de hidrogênio e diacetil, capazes de inibir a atividade de outros micro-organismos patogênicos, apresentando, em alguns casos, ação bactericida (Protic et al., 2005; Ballus et al., 2010). Além disso, os probióticos também podem auxiliar no alívio sintomático de cólicas abdominais relacionadas a distúrbios de motilidade e à síndrome do intestino irritável, interferindo na regulação da dor visceral por meio da modulação dos receptores opióides e canabinóides das células epiteliais intestinais (Camilleri, 2006; Rousseaux et al., 2007)
 
Avaliação de Lácteos com Probióticos
 
Os lácteos com probióticos têm se destacado cada vez mais na indústria alimentícia devido aos potenciais benefícios que oferecem à saúde. No entanto, é fundamental empregar os principais métodos para determinar sua eficiência, conforme ilustrado na Figura 1, a fim de assegurar a qualidade e os benefícios desses produtos probióticos. O efeito desses produtos pode variar consideravelmente, dependendo de diversos fatores, tais como a cepa de probiótico utilizada, a dosagem, a formulação do produto e as condições de armazenamento.

Figura 1. Principais métodos para determinar a eficiência de lácteos com probióticos. Fonte: Dos autores, 2024.

O primeiro passo é a identificação e quantificação das cepas probióticas presentes no produto. Esse processo é realizado por meio de técnicas laboratoriais avançadas, como a PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) e o sequenciamento genético. É importante assegurar que as cepas probióticas indicadas no rótulo estejam realmente presentes no produto e em quantidades adequadas para garantir benefícios à saúde. A manutenção da viabilidade das cepas probióticas durante o armazenamento é essencial para preservar os efeitos do produto. Estudos de estabilidade são conduzidos para avaliar a sobrevivência dos probióticos sob diferentes condições de temperatura e umidade ao longo do tempo. Essas análises ajudam a determinar a vida útil do produto e fornecem recomendações apropriadas de armazenamento.

A capacidade dos probióticos de colonizar o trato gastrointestinal é um fator determinante para sua funcionalidade. Estudos in vitro e in vivo são realizados para avaliar a capacidade de adesão das cepas probióticas às células intestinais e sua sobrevivência no ambiente ácido do estômago. Além disso, ensaios clínicos em humanos são conduzidos para investigar se os probióticos colonizam efetivamente o intestino e promovem um equilíbrio saudável da microbiota intestinal. Estudos clínicos randomizados e controlados são realizados para avaliar os efeitos dos probióticos em diferentes condições, como saúde digestiva, imunidade e saúde vaginal, entre outros. Essas pesquisas analisam endpoints clínicos relevantes, como a redução de sintomas gastrointestinais, a melhoria da função imunológica e a prevenção de infecções.

Considerações finais
 
O consumo de alimentos como leites fermentados e suplementos probióticos oferece um enorme potencial para melhorar a saúde e a qualidade de vida. Determinar a efetividade desses produtos é um processo complexo que requer uma variedade de métodos de análise. Desde a identificação e quantificação das cepas probióticas até a comprovação dos benefícios à saúde em estudos clínicos, cada etapa desempenha um papel importante para garantir a qualidade e os benefícios dos produtos probióticos. Seguindo essas diretrizes, fabricantes e consumidores podem fazer escolhas informadas sobre a seleção e o uso de lácteos com probióticos, contribuindo assim para a promoção da saúde e do bem-estar.

Referências
 
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2018). NBR ISO 22000:2018. Sistemas de gestão da segurança de alimentos - Requisitos para qualquer organização na cadeia produtiva de alimentos. Rio de Janeiro. 
Antunes, A. E. C.; Marasca, E. T. G.; Moreno, I.; Dourado, F. M.; Rodrigues, L. G.; Lerayer, A. L. S. (2007). Desenvolvimento de buttermilk probiótico. Ciência Tecnologia de Alimentos, Campinas, v. 27, n.1, p. 83-90.
 
ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução nº 19, de 30 de abril de (1999). Aprova o Regulamento Técnico de Procedimentos Para Registro de Alimento com Alegação de Propriedades Funcionais e ou de Saúde em sua Rotulagem. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 03 mai. 1999. Disponível em: Acesso em: de 04 de março de 2024. 
 
ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Alimentos. Comissões e Grupos de Trabalho. Comissão Tecnocientífica de Assessoramento em Alimentos Funcionais e Novos Alimentos. Alimentos com Alegações de Propriedades Funcionais e ou de Saúde, Novos Alimentos/ Ingredientes, Substâncias Bioativas e Probióticos. Atualizado em: julho de (2008). IX- Lista de alegações de propriedade funcional aprovadas. Disponível em: < http:// www.anvisa.gov.br/alimentos/comissoes/tecno_lista_alega. htm>. Acesso em: de 04 de março de 2024.
 
Ballus, C.A.; Klajn, V. M.; Cunha, M.F.; Oliveira, M.L.; Fiorentini, A. M. (2010). Aspectos científicos e tecnológicos do emprego de culturas probióticas na elaboração de produtos lácteos fermentados: revisão. Boletim do Centro de Pesquisa. 
 
Becker, L. V. (2009). Iogurte probiótico com teor reduzido de lactose adicionado de óleo de linhaça. (2009). 110 p. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia dos Alimentos) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria.
 
Carli, E. M. Utilização de Lactobacillus paracasei como probiótico para o controle de Salmonella spp em frangos de corte. (2006). 76 p. Dissertação (Mestrado em Ciências e Tecnologia de Alimentos) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria.
 
Camilleri, M. (2006). Probiotics and irritable bowel syndrome: rationale, putative mechanisms, and evidence of clinical efficacy. Journal of Clinical Gastroenterology, New York, v. 40, n. 3, p. 264- 269.
 
Protic, M.; Jojic, N.; Bojic, D.; Milutinovic, S; Necic, D , Bojic, B , Svorcan P.;  Krstic, M. e Popovic, O. (2005). Mechanism of diarrhea in microscopic colitis. World Journal of Gastroenterology, Beijing, v. 11, n. 35, p. 5535-5539.
 
Rocha. L.P. Benefícios dos probióticos à saúde humana. (2011). 31f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Nutrição) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Unijuí.
 
Rousseaux C., Thuru X., Gelot A., Barnich N., Neut C., Dubuquoy L., (2007). Lactobacillus acidophilus modula a dor intestinal e induz receptores opióides e canabinóides. Nat. Med. 13 35–37. 10.1038/nm1521. 
 
Saad, S. M. I. (2006). Probióticos e prebióticos: o estado da arte. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, São Paulo, v. 42, n. 1, p. 1-16.
 
Sanders, M. E. (2009). How do we know when something called “probiotic” is really a probiotic? A guideline for consumers and health care professionals. Functional Food Reviews, Hamilton, v. 1, n.1, p. 3-12.
 
Santos, R. B; Barbosa, L. P. J. L; Barbosa, F. H. F. (2009). Probióticos: microrganismos funcionais. Ciência Equatorial, Amapá, v. 1, n. 2, p. 26-38.
 
Silva, S. V. Desenvolvimento de iogurte probiótico com prebiótico. (2007). 107 p. Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia de Alimentos) – Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria.
 
ZuccotI, G. V.; Meneghin, F.; Raimondi, C.; Dilillo, D.; Agostoni, C.; Riva, E.; Giovannini, M. (2008). Probiotics in clinical practice: an overview. Journal of International Medical Research, Northampton, v. 36, n.1, p.1-53.

 
Autoras: Clarice Coimbra Pinto - Bolsista BDCTI - Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG)/ Instituto de Laticínios Cândido Tostes (ILCT) e Mestranda em Ciência e Tecnologia do Leite e Derivados - Universidade Federal de Juiz de Fora.
Drª. Claudety Barbosa Saraiva - Professora/Pesquisadora - Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG)/ Instituto de Laticínios Cândido Tostes (ILCT).

FonteEmpresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG)/ Instituto de Laticínios Cândido Tostes (ILCT)

Obs: Atualizado em 09 de abril de 2024

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