31/05/2018 às 09h06min - Atualizada em 31/05/2018 às 09h06min

A produção do leite A2

Grupo de pesquisa do professor Gregório de Camargo apresenta resultados práticos.

Gregório Miguel Ferreira de Camargo
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista
Divulgação UNESP
Grupo de pesquisa do professor Gregório de Camargo apresenta resultados práticos. O professor de Genética e Melhoramento Animal da UTFPR – Câmpus Dois Vizinhos, Gregório Miguel Ferreira de Camargo, em parceria com o laboratório de Genética Molecular da Universidade Estadual Paulista (Unesp), possui linha de pesquisa na área de genética molecular aplicada ao melhoramento animal. Dentre os resultados de pesquisa obtidos, há alguns de cunho prático como a produção de leite A2.

Uma das proteínas do leite de bovinos é a beta-caseína. Ela constitui o grupo das caseínas. As proteínas do leite, como a beta-caseína, são codificadas a partir de genes. Todo animal tem duas cópias de um gene (uma proveniente do pai e outra da mãe). Essas cópias são denominadas alelos. A beta-caseína tem os alelos A1 e A2. A diferença entre eles é uma mutação que altera a forma da proteína. Assim, temos a beta-caseína do tipo A1 e do tipo A2.

A beta-caseína A1 quando degradada no trato gastrointestinal humano origina um peptídeo chamado beta-casomorfina 7. Alguns estudos indicam que esse peptídeo é o causador da alergia do leite que alguns seres humanos apresentam. Assim, em tese, se o leite a ser consumido não tivesse beta-caseína A1, ele não seria alergênico. O leite que possui somente beta-caseínas A2 é chamado de leite A2. Ele é produzido a partir de vacas cujo genótipo para o gene da beta-caseína é o A2A2.

Outros estudos médicos ainda mostram que a proteína A1 pode estar associada a maiores riscos de doenças coronarianas, maior incidência de diabetes tipo 1, síndrome do intestino irritado e até autismo e esquizofrenia. Todavia, comentários sobre a real influência dessa proteína na saúde humana, deixamos para análises de profissionais da área médica, mesmo porque há estudos que não indicam os benefícios. Resguardamo-nos a comentar sobre os benefícios e oportunidades na produção animal.

A produção de leite A2 torna-se um nicho de mercado interessante para produtores de bovinos, sendo possível a obtenção de leite e derivados não-alergênicos. Se o produtor tiver interesse nesse tipo de produção, há a necessidade de fazer uma seleção assistida por marcadores moleculares dos animais em seu rebanho. Primeiramente, coleta-se material biológico (sangue ou folículo piloso) dos animais da propriedade para envio a laboratório especializado na execução do teste. No laboratório, extrai-se o DNA e genotipa-se para o marcador em questão. O produtor receberá os genótipos de seus animais (A1A1, A1A2 ou A2A2). Ele poderá permanecer somente com os animais A2A2 na propriedade ou ordenhá-los separadamente (em sistemas de ordenha distintos) dos demais.

No Brasil, o laboratório de Genética Molecular do Departamento de Zootecnia da Unesp, Campus de Jaboticabal, sob coordenação do professor Humberto Tonhati ([email protected]), realiza o teste por um custo de R$ 60,00 o animal. Pesquisas mostraram que a frequência do alelo A2 é baixa em raças taurinas. Para populações da raça Holandesa, a frequência do alelo A2 varia de 0,24 a 0,62, dificultando o processo de seleção assistida. A exceção, entre as raças taurinas é a raça Guernsey (frequências do alelo A2 variando de 0,88 a 0,97) pouco difundida no Brasil. Todavia, estudos indicam que nas raças zebuínas, a frequência do A2 é maior, mostrando a potencialidade de produção utilizando essas raças e maior facilidade de seleção assistida. Resultados preliminares, no Brasil, com a raça Gir, indicam uma frequência de 0,88 para o alelo A2, estando em aberto pesquisas para estudos das frequências em outras raças zebuínas.

A produção de leite baseada em raças zebuínas e cruzados ganha importância para quem quiser trabalhar nesse segmento e adicionar valor ao produto vendido. Alguns sumários de touros no Brasil já divulgam o genótipo dos reprodutores para a beta-caseína, sendo esse um fator a mais na hora da escolha se o produtor tiver interesse. Na Oceania (Austrália e Nova Zelândia), há fazendas especializadas em leite A2. É possível comprar leite e derivados lácteos A2 em diversas lojas e cafés. O mercado mostra-se em expansão chegando ao Reino Unido e EUA. Por fim, a atividade de produção de leite A2 mostra-se viável e o investimento feito gera lucro atraentes, pois há mercado consumidor para tal produto. 

Sobre o professor:

O professor Gregório Miguel Ferreira de Camargo é formado em Zootecnia pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Jaboticabal-SP, Brasil (2005-2009), possui Mestrado (2010-2012) e Doutorado (2012-2015) em Genética e Melhoramento Animal pela mesma instituição. Executou estágio de pesquisa no exterior (doutorado sanduíche) na Universidade de Queensland, Austrália por um ano (2014). Foi pós-doutorando do Departamento de Zootecnia da FCAV/Unesp-Jaboticabal. É professor da UTFPR Dois Vizinhos desde 2015.

Fonte: 
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista
Aualizado em 30 de agosto de 2023


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