16/01/2011 às 16h49min - Atualizada em 16/01/2011 às 16h49min

Custos da produção de leite em pasto

Nas últimas décadas são consideráveis os avanços no campo da nutrição e alimentação de ruminantes. Novas técnicas de alimentação e manejo foram propostas para minimizar os custos e aumentar a renda dos diversos setores e sistemas produtivos.



Em se tratando de produção de leite em pasto, quando a forragem é diretamente colhida pelo animal, os custos de produção podem sofrer sensível redução. A oferta de alimento no momento certo (ponto ótimo de manejo da forragem) e em quantidade adequada resulta em dieta volumosa adequada para que as vacas possam produzir até 12 litros de leite por dia (Deresz e Matos, 1996), desde que os animais tenham potencial genético para tanto.



Dessa forma, um sistema com pastagem bem estabelecia, e baixo custo de implantação em comparação aos demais sistemas de produção de leite, confere segurança e versatilidade frente aos altos preços de insumos e baixo preço do leite. Considerando como base o pasto (volumoso de verão), é de fundamental importância utilizar sistemas mais produtivos (lotação/ha) plantando forrageiras de alto potencial de produção.



Assim, dentre estes sistemas, uma das opções é a adoção do pastejo com lotação rotacionada, que nada mais é que uma área subdividida em piquetes (por meio de cerca eletrificada), tendo como finalidade fornecer ao animal forragem de alta qualidade. Após o pastejo, este capim deverá ser adubado (verão). No inverno, o uso da cana de açúcar substitui a silagem ou feno, alimentos mais caros (Tabela 1) utilizados rotineiramente nos sistemas de confinamento. A cana-de-açúcar é hoje o volumoso mais barato depois do pasto. Embora quando usada exclusivamente, proporcione baixas produções de leite por animal por dia (4-6 litros), é atrativa por ser de baixo custo e de fácil manejo.



Tabela 1. Preços (R$) do kg de massa seca dos volumosos

 

 





Quanto à suplementação das vacas ao longo do ano, estas não precisam de rações que contenham produtos milagrosos que, a um passe de mágica, farão com que os animais, aumentem a produção. O uso de subprodutos da agroindústria como parte desta suplementação, tem se tornado prática comum, com resultados positivos para o sistema, reduzindo o preço do concentrado utilizado.



Para fechar um sistema simples e objetivo, o armazenamento do leite produzido deve ser levado a sério, mesmo que os preços para se produzir leite em pasto sejam menores, em comparação à produção de leite com vacas confinadas. Embora as lucratividades, segundo a literatura, sejam por volta de 20 a 30 % sem considerarmos mão de obra, a obrigação é que o leite entregue ao caminhão que vem até a fazenda ou levado até um tanque comunitário, esteja em perfeitas condições físico-químicas e microbiológicas.



Esta publicação, objetiva relacionar e quantificar os custos de uma produção leiteira em pasto, desde a implantação da espécie forrageira até a entrega do leite no tanque de resfriamento. Assim, seguem abaixo os custos de uma produção leiteira em pasto com produção de 300 litros de leite por dia, atualizado para o ano de 2010.



Para tanto, cabe ressaltar que os alguns cálculos foram realizados por docentes e discentes da área de Forragicultura e Pastagens do curso de Pós-Graduação em Zootecnia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UNESP de Botucatu, incentivados pelos constantes questionamentos referentes a viabilidade dos sistemas de produção de leite em pastagem conduzidos com mão-de-obra familiar, tendo como base informações IBGE, de que o Brasil possui 4,8 milhões de estabelecimentos rurais e dentre eles 4,1 milhões são estabelecimentos familiares com média de 26 ha cada. A renda mensal média é de zero ou negativa para 15 % destes, 55% até R$ 250,00, 20% entre R$ 250 e 666,00, 5% entre 666 e R$ 1.250,00, 3% entre 1.250 e R$ 2.291,00 e, apenas 2% acima deste valor. Assim, justifica-se esta preocupação em relação à área do sistema e a renda do mesmo. Considerou-se então, uma família que conseguisse obter 3 salários mínimos de rentabilidade no sistema, tendo como base no ano de 2010, o salário mínimo de R$ 510,00.



Assim, para efeito de cálculo, tomaremos por base, uma rentabilidade de 25% (sem considerar custos com mão de obra, a qual será familiar). No entanto, fixaremos um salário hipotético de 3 salários mínimos (3* R$ 510,00 = R$ 1530,00) e um preço do leite de R$ 0,70 (média histórica). Aplicando-se rentabilidade de 25%, temos por litro de leite vendido, lucro de R$ 0,18. Para uma renda de R$ 1.530,00 (1530,00 / 0,18) a produção diária deve ser de 283 litros. Para isso, necessita-se de 18 vacas em lactação de 16 litros de leite em média, mais 6 vacas secas. Considerando uma taxa de lotação no pasto (verão) de 15 UA/ha e 1 hectare de cana para alimentar 20 a 25 vacas durante um período de 150 dias (inverno) temos: 1,6 ha de pastagem (verão) e 1 ha de cana de açúcar, ambos, bem manejados. Além disso, computou-se 1 ha para instalações.



No entanto, não só produzir a baixo custo é necessário, mas que o investimento inicial seja o menor possível. Para tanto, considerando uma rentabilidade igual a citada anteriormente, de três salários mínimos, é comum observarmos sistemas rentáveis como a criação de frangos por exemplo que em menos de 1 ha, consegue-se rendas acima do previsto. Todavia, o investimento inicial é alto considerando os equipamentos utilizados, dentre eles bebedouros, comedouros além de toda a estrutura de barracão e demais construções.



Neste contexto, de acordo com a Tabela 2, observam-se os custos para o módulo de produção de leite em pasto, desde a implantação do pasto, compra de animais e custo de investimentos com instalações. As instalações serão o mais simples possível, porém funcionais para o aspecto de higiene, condições de trabalho e versatilidade. Na Tabela 3, encontram-se os valores do custo de manutenção das benfeitorias, diluídos para os anos de utilização. Ainda, na Tabela 4, encontram-se a receita do leite vendido e os custos de produção, não inclusos gastos com mão de obra.



Tabela 2. Custos de implantação do sistema (módulo de produção de 300 l de leite por dia).

 

 





Tabela 3. Custos anuais com respectivas diluições para os anos de utilização.

 

 





Tabela 4. Receita anual para o módulo de produção proposto.

 

 





A partir da visualização das tabelas, pode-se concluir que a produção de leite é rentável (R$ 1.530,00) em pequenas áreas (3,6 ha), em relação ás outras atividades pecuárias como a bovinocultura de corte e ovinocultura que necessitam de áreas maiores para se obter o mesmo lucro, que serão abordadas em outras publicações. Apesar dos custos iniciais inerentes à atividade, é possível diluí-los. Assim, toda e qualquer benfeitoria pode ser financiada, bem como a compra dos animais que, pode ser gradativa e seguindo metas previamente estabelecidas. Para tanto, todo e qualquer sistema de produção precisa de planejamento e oportunidades de mercado, devidamente gerenciados, para cumprir objetivos e alcançar o sucesso. Fica evidente que a produção de leite em pasto é a atividade pecuária que demanda menor área quando se trata de estabelecimentos familiares.



Autores:

Marco Aurélio Factori 

Doutorando em Zootecnia - FMVZ/UNESP/Botucatu/SP.                                                                           

Ciniro Costa

Prof. do Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal - FMVZ/UNESP/Botucatu/SP.                                                               

Paulo Roberto de Lima Meirelles

Prof. do Departamento de Melhoramento e Nutrição Animal - FMVZ/UNESP/Botucatu/SP.                                                         

Cristiano Magalhães Pariz

Pós-Graduando em Zootecnia - FMVZ/UNESP/Botucatu/SP





Autor: Marco Aurélio Factori e outros

Referências bibliográficas: 

CEPEA/ESALQ-USP - Metodologia do índice de preços dos insumos utilizados na produção pecuária Brasileira. Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil. 2010.

DERESZ, F.; MATOS, L. L. Influência do período de descanso da pastagem de capim elefante na produção de leite de vacas mestiças Holandês x Zebu. In: Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 33, 1996, Fortaleza. Fortaleza: SBZ, 1996. v.3, p.166-167.


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