31/08/2015 às 08h37min - Atualizada em 31/08/2015 às 08h37min

Manter ou não o concentrado quando o preço do leite cai?

Estudo da Embrapa comparou o fornecimento de diferentes níveis de concentrado para o rebanho versus matéria seca. Quando o preço do leite começa a cair, como observado no início deste ano em diversas regiões, as margens de lucro dos sistemas de produção de leite tendem a ficar comprometidas. E, como a alimentação é o fator de maior importância na planilha de custos, toda e qualquer ação que modifique o manejo alimentar das vacas deve ser muito bem avaliada.

 

Infelizmente muitos produtores reagem a esse cenário de queda de preços do leite reduzindo a oferta de concentrado para as vacas. Será esta a melhor estratégia? Há bom tempo defendo que a suplementação estratégica com concentrados para vacas sob pastejo pode ser uma boa ferramenta para aumentar a rentabilidade de sistemas de produção, desde que feita com muito cuidado e critérios. 

Agora este conceito merece ser conferido. Vamos tomar como base um trabalho feito pela Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora, MG, há dez anos, e que cabe perfeitamente para sustentar a argumentação. Os autores ofereceram dois níveis de suplementação concentrada para vacas em lactação mantidas em pastagens tropicais, e avaliaram os efeitos das diferentes doses de concentrado sobre a produção e a composição do leite.

Um aspecto muito interessante do trabalho é que as avaliações foram feitas por três anos consecutivos, analisando-se 108 lactações completas. Foram testados dois níveis de suplementação concentrada, de 3 ou 6 quilos/vaca/dia. Infelizmente, o trabalho não mostra dados de composição do pasto, nem do consumo de matéria seca da forragem, mas como todas as vacas pastejaram na mesma área não é de se esperar variações. 

Na Tabela 1 são apresentadas as produções diárias de leite, com e sem correção para 3,5% de gordura. Na Tabela 2, encontram-se os valores referentes aos teores médios de proteína, gordura, lactose, ureia, sólidos totais e contagem de células somáticas (CCS) do leite. Com relação à produção de leite, como era de se esperar, as vacas que receberam mais concentrado produziram mais. 

Infelizmente não temos os dados de consumo do pasto, mas é de se esperar que tenha havido efeito de substituição da forrageira pelo concentrado, de forma que as vacas que receberam os 6 quilos de concentrado provavelmente consumiram menos matéria seca em relação às que receberam 3 quilos de concentrado.

 A coisa mais importante a se perguntar agora  é: mas será que este nível maior de suplementação é vantajoso? Oferecer 3 quilos a mais de concentrado para ter uma produção adicional de apenas 3,6 quilos de leite? Isso depende dos preços do leite e do concentrado. Ao fazer uma simulação dessa situação, considerando um consumo de 10 kg de matéria seca de pasto para as vacas que receberam 3 kg de concentrado e de 8,5 kg de matéria seca de pasto para as que receberam 6 kg do suplemento, observamos um cenário bem interessante, mostrado na Tabela 3. 

Nessa simulação consideraram-se os valores de produção de leite obtidos do trabalho analisado, e um custo de R$ 0,085/kg de matéria seca de pasto. Notem que em qualquer preço do leite sempre o forneci mento de 6 kg de concentrado gera um retorno sobre o custo dos alimentos (RSCA) maior do que o fornecimento de 3 kg de concentrado, independentemente do preço deste produto. 

Ou seja, isso mostra claramente que dar mais concentrado para as vacas é vantajoso, mesmo aumentando o custo de produção, pois o saldo financeiro depois de descontada a comida das vacas é maior. E o que é de fato interesse não é o que se gasta para produzir, mas o que sobra no fim das contas.

É importantíssimo ressaltar que os resultados dependem muito da qualidade da forragem, o que não foi discutido nesse trabalho. Quanto melhor a qualidade do pasto, maior a chance de se ganhar dinheiro com a suplementação concentrada. Outro fator fundamental para obter bons resultados com a suplementação é trabalhar com vacas especializadas, que tenham potencial para responder favoravelmente ao maior fornecimento de concentrado. O que interessa ao produtor é ganhar dinheiro, e, pelo que mostram os resultados do trabalho, a suplementação concentrada pode ser uma excelente ferramenta para se ter mais lucro. 

Trocando em miúdos, cortar o concentrado das vacas quando o preço do leite cai parece claramente ser uma má ideia. Obviamente sempre é importante avaliar a viabilidade da suplementação, e a análise da RSCA é uma boa ferramenta para auxiliar na tomada de decisão. 




Autor: Alexandre M. Pedroso

Referências bibliográficas: 

Fonte: Revista Mundo do Leite 74
Portal DBO


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