09/07/2023 às 14h22min - Atualizada em 09/07/2023 às 14h22min

Um pouco de história da empresa e da Embrapa Gado de Corte

Ao longo destes últimos 50 anos, curto período de tempo para a história de um país, a pesquisa desenvolvida pela Embrapa e seus parceiros públicos e privados proporcionou uma transformação sem precedentes, em todo o mundo.

Por Antônio do Nascimento Ferreira Rosa – Eng. Agr., Pesquisador e atual Chefe Geral da Embrapa Gado de Corte.
Revista DBO
Embrapa
O começo de tudo está lá no início da década de 70 do século passado. Nesta época, o povo brasileiro vivia um período de euforia pela conquista do tricampeonato mundial de futebol, em Guadalajara, México, com a nossa famosa seleção canarinho, tida como a melhor do mundo! Um verdadeiro álibi, pois, no fundo, graves problemas socioeconômicos e ambientais se acumulavam país afora: seca no Nordeste, insegurança alimentar, fome em algumas regiões, crise do petróleo, êxodo rural… A vida no campo não era fácil. À carência de infraestrutura, em termos de transporte, saúde e educação, somava-se a baixa produtividade das culturas e dos rebanhos… O Brasil, país de dimensões continentais, que não produzia alimento sequer para o seu próprio povo, tinha ainda que importar, além de petróleo, arroz, feijão, trigo, leite e até carne bovina!

Em busca de soluções para esta grave crise, nosso ministro da Agricultura, o engenheiro agrônomo gaúcho Luís Fernando Cirne Lima (governo do presidente Emílio Garrastazu Médici), encomenda um diagnóstico. O Brasil tinha estações experimentais espalhadas por todas as regiões. No entanto, exceto em partes do sul e sudeste, onde era possível adaptar alguns cultivos e tecnologias dos países mais desenvolvidos, de clima temperado, não se dispunha de conhecimento algum para exploração da maior parte do território, de características tropicais. Salvava-se muito pouca coisa. Café, cacau, cana de açúcar…

Além do mais, a pesquisa era desconectada da visão de sistema de produção, ou seja, do contexto de eficiência, não apenas biológica, mas também econômica. Pesquisadores desmotivados, sem preparo técnico… Era preciso uma mudança radical. O mais rapidamente possível! E a decisão do ministro Cirne Lima foi contundente, histórica: extinguir o antigo Departamento Nacional de Pesquisa e Experimentação Agrícola – DNPEA e criar uma instituição nova, com autonomia e flexibilidade administrativa, de forma a tornar possível as mudanças necessárias. Assim nasceu a Embrapa, como empresa pública estatal, conforme estabelecido na Lei no. 5.851, sancionada pelo presidente Médici no dia 7 de dezembro de 1972.

Com a posse da primeira diretoria no dia 26 de abril de 1973, marco inicial da fundação, a Embrapa passou a se dedicar à organização da administração, estruturação da empresa e à incorporação do patrimônio do extinto DNPEA. As transformações mais impactantes, no entanto, só foram realizadas a partir de 1974, durante o governo do Presidente Ernesto Geisel, tendo à frente, como ministro da Agricultura, o engenheiro agrônomo mineiro, Alysson Paolinelli. Calcada na ciência aplicada e tendo como base uma abordagem de enfoque de sistemas, o organograma da Embrapa incluía unidades centrais, em Brasília, para administração do sistema de pes­quisa, centros nacionais de produtos, unidades eco regionais e temáticas, cuja localização dependeria da vocação natural da região e da importância socioeconômica do tema a ser trabalhado para o país.
Ainda em 1974, foram criados, neste organograma, mesmo sem ainda serem definidos os seus locais de funcionamento, os primeiros centros nacionais destinados à pesquisa com trigo, arroz e feijão, gado de leite, recursos genéticos, seringueira e gado de corte (1ª. nota de rodapé: ver no final do texto).

A primeira decisão de grande impacto tomada pela diretoria executiva da Embrapa foi o envio de cerca de 2.000 pesquisadores para cursos de mestrado e doutorado, parte deles no Brasil e a maioria no exterior, principalmente Estados Unidos e Europa. Nesta época, o Estado de Mato Grosso se despontava como uma promissora rota de migração e evolução da pecuária destinada à produção de carne. Dentre as cidades candidatas a sediar o Centro Nacional de Pesquisa de Gado de Corte – CNPGC, Campo Grande apresentava a vantagem de poder incorporar o pessoal e as instalações do extinto Instituto de Pesquisa e Experimentação Agropecuária do Oeste – IPEAO. No entanto, a decisão final só foi tomada após negociada, pela Embrapa, junto ao Exército Brasileiro, a cessão da Fazenda Remonta, antiga Coudelaria do Exército, localizada a apenas 15 km da cidade. (2ª. nota de rodapé: ver no final do texto).

Feitas as reformas necessárias, a inauguração oficial foi realizada no dia 28 de abril de 1977, evento que contou com a participação do presidente Ernesto Geisel, ministro da Agricultura Alysson Paolinelli, governador do estado de Mato Grosso, Garcia Neto, diretor-presidente da Embrapa Irineu Cabral, diretores Eliseu Alves, Edmundo Gastal e Almiro Blumenschein, senadores Rachid Derzi e Italívio Coelho, ex-governador Pedro Pedrossian, prefeito municipal Marcelo Miranda, dentre outras autoridades, e grande número de produtores rurais. Neste mesmo ano, em 1977, no dia 11 de outubro, o estado de Mato Grosso do Sul foi oficialmente desmembrado do Mato Grosso pela Lei Complementar nº. 31, sancionada pelo Presidente Geisel, cujo primeiro governo foi instalado em 1º. de janeiro de 1979, passando-se a cidade de Campo Grande à condição de capital do novo estado. A Embrapa Gado de Corte passou, então, a consolidar a sua liderança no país, pela coordenação do Programa Nacional de Pesquisa de Gado de Corte da Embrapa, como parte integrante do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, em cooperação com outras unidades da Embrapa, universidades, institutos de pesquisa e empresas estaduais.

Ao longo destes últimos 50 anos, curto período de tempo para a história de um país, a pesquisa desenvolvida pela Embrapa e seus parceiros públicos e privados proporcionou uma transformação sem precedentes, em todo o mundo. O Brasil, que outrora passava por uma grave crise de segurança alimentar, passou a ser um dos maiores produtores mundiais de alimento, energia e fibras. No caso da carne bovina, de importador, passamos à condição de maior exportador mundial, posição que vem sendo mantida desde 2004, mesmo depois de garantir o abastecimento do mercado interno que consome cerca de 75% da produção! Naturalmente, esta não foi uma conquista exclusiva da Embrapa, mas, sim, da cadeia produtiva como um todo, a partir do trabalho do homem do campo, mas com um insumo extra essencial: ciência e tecnologia. Detalhes dessa transformação, descrição de algumas das tecnologias geradas, novos desafios e cenários futuros para o nosso negócio serão abordados em nossos próximos artigos. Grato, forte abraço!

Autor: Antônio do Nascimento Ferreira Rosa – Eng. Agr., Pesquisador e atual Chefe Geral da Embrapa Gado de Corte.

Fontes: 40 anos da Embrapa Gado de Corte em memória [recurso eletrônico] / editores técnicos: Antônio do Nascimento Ferreira Rosa [et al]. – Campo Grande, MS: Embrapa Gado de Corte, 2017. 170 p. (Documentos / Embrapa Gado de Corte, ISSN1983-974X; 230).
CABRAL, J. I. Sol da manhã: memória da Embrapa. Brasília, DF: UNESCO, 2005. 344 p.

1ª. nota de rodapé: Atualmente, encontram-se em operação, 43 unidades descentralizadas, sendo 15 centros nacionais de produtos (Algodão, Arroz e Feijão, Café, Caprinos e Ovinos, Florestas, Gado de Corte, Gado de Leite, Hortaliças, Mandioca e Fruticultura, Milho e Sorgo, Soja, Solos, Suínos e Aves, Trigo, Uva e Vinho); 18 eco regionais (Acre, Agropecuária Oeste, Agrosilvipastoril, Alimentos e Territórios, Amapá, Amazonas Ocidental, Amazonas Oriental, Cerrados, Clima Temperado, Cocais, Meio-norte, Pantanal, Pecuária Sul, Pecuária Sudeste, Rondonia, Roraima, Semiárido, Tabuleiros Costeiros); e 10 temáticos (Agricultura Digital, Agrobiologia, Agroenergia, Agroindústria Tropical, Agroindústria de Alimentos, Instrumentação Agropecuária, Meio Ambiente, Pesca e Aquicultura, Recursos Genéticos e Biotecnologia, Territorial).
2ª. nota de rodapé: As duas outras candidatas à sede do CNPGC eram Uberaba, MG, e Planaltina, GO”.

Fonte: Revista DBP
 

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