04/10/2023 às 10h13min - Atualizada em 04/10/2023 às 10h13min

FAQ Mais Leite: Contagem de Células Somáticas E Contagem Padrão em Placa

A consultoria Mais Leite esclarece as dúvidas mais comuns sobre as métricas utilizadas na atividade leiteira.

Mariana Brant Drumond Magalhães Dornas e outras
Revista Leite Integral
Foto Divulgação Revista Leite Integral
1 - Quais são os padrões aceitos nas normativas atuais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para a Contagem de Células Somáticas (CCS) e a Contagem Padrão em Placa (CPP)? Atualmente, as duas legislações do MAPA que regulamentam a identidade e qualidade do leite são a Instrução Normativa nº 76 e a Instrução Normativa nº 77, as quais estão em vigor desde sua publicação no Diário Oficial da União em 18 de novembro de 2018. Segundo as normativas, o padrão estabelecido para a CPP é de que a média geométrica de três meses consecutivos não deve ser superior a 300.000 unidades formadoras de colônias por mililitro (UFC/mL). Caso esse valor seja ultrapassado, a captação será suspensa e só poderá ser retomada após análise em laboratório credenciado pela Rede Brasileira de Qualidade do Leite (RBQL), com resultado inferior a 300.000 unidades formadoras de colônia por mililitro (UFC/mL). Para CCS, o padrão máximo estabelecido é de 500.000 células somáticas por mililitro (céls/mL.). É importante ressaltar que esses padrões visam garantir a qualidade e a segurança do leite produzido no Brasil. 

2 - Qual é a situação atual em relação à ocorrência de alta CPP no campo? Em quais situações essa ocorrência é mais frequente?  Na rotina de produção leiteira, ainda é comum encontrar fazendas que têm oscilações nos resultados de CPP, bem como outras que ainda não conseguiram ajustar o manejo para se adequar ao padrão da normativa. As variações nos resultados de CPP são mais frequentemente causadas por situações comuns, tais como: falta de água quente durante a utilização do detergente alcalino clorado, tempo insuficiente ou excessivo de lavagem, excesso ou falta de água, troca de colaboradores que ainda não se adaptaram aos processos de limpeza e tanque de refrigeração com defeito ou esquecimento de ligá-lo imediatamente após o início da ordenha. Em fazendas em que os processos estão sendo estabelecidos, a alta CPP muitas vezes está relacionada a falhas maiores no processo de limpeza, como a não utilização de sanitizante, o uso de teteiras, copos coletores e mangueiras desgastados, a falta de desinfecção dos tetos e do teste da caneca, a utilização de água de baixa qualidade ou o período de baixa produção de leite, em que o tanque não atinge o volume mínimo para realizar a homogeneização.

3 - Quais são os pontos importantes que devem ser monitorados para garantir um controle efetivo da CPP? 
Para monitorar a CPP, existem 7 pontos importantes que devem ser considerados:  
I) a limpeza adequada dos equipamentos e utensílios - incluindo o uso dos produtos corretos e em volume e tempo adequados;
II) a limpeza completa dos tetos e do ambiente externo da ordenha;
III) o resfriamento adequado do leite, que deve chegar a 4°C após 3 horas do término da ordenha e ter ciclos de homogeneização;
IV) o teste da caneca de fundo preto, que envolve a eliminação dos 3 primeiros jatos de leite, que possuem maior carga microbiológica;
V) a qualidade da água utilizada na limpeza e o ajuste das dosagens dos produtos;
VI) o funcionamento adequado do equipamento de ordenha, evitando vazamentos e acúmulo de matéria orgânica;
VII) a prevenção de infecções intramamárias causadas por agentes como o Streptococcus agalactiae, que podem ser excretados em altas concentrações no leite de animais infectados.

4- Como estão os resultados da CCS nas fazendas? Há algum padrão ou tendência geral?    De acordo com o último levantamento realizado pelo MAPA em 2020, a média geométrica nacional da CCS foi de 432 mil céls/mL (Gráfico 1). Ao longo do tempo, tem sido desafiador manter o alinhamento entre a ambiência, os equipamentos de ordenha, a rotina de ordenha e o controle de agentes contagiosos. Observamos que as vacas estão cada vez mais produtivas, apesar de serem inseridas em um ambiente difícil, com desafios climáticos à pasto, alta lotação de animais e falhas no manejo em confinamentos. O mau funcionamento dos equipamentos de ordenha, devido à falta de manutenção e revisão, leva a uma ordenha desafiadora, lenta e com alto risco de novas infecções. A alta rotatividade de mão de obra nas propriedades também causa despadronização dos processos de rotina de ordenha. Além disso, há negligência no controle de agentes contagiosos, como Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae. Embora tenhamos notado uma grande mudança nos resultados a médio e longo prazo no sistema produtivo dos clientes atendidos pela Mais Leite, a CCS é um parâmetro complexo, e ainda há um longo caminho a percorrer.

5- Por que esse desafio ainda persiste?  Há vários fatores que afetam o resultado da CCS na fazenda e eles refletem a eficácia da gestão da propriedade, uma vez que evidencia a rigidez nos processos e no controle da rotina. A heterogeneidade das fazendas brasileiras em termos de tamanho, nível de gestão, conhecimento e capacidade financeira para investir em infraestrutura é um ponto a ser considerado. Além disso, agentes contagiosos como Staphylococcus aureus e o Streptococcus agalactiae são prevalentes no rebanho brasileiro e responsáveis pela alta CCS, exigindo trabalho especializado para controlá-los. A capacitação da mão de obra e a alta rotatividade de funcionários no setor de ordenha são outros pontos a serem considerados, já que os resultados são extremamente dependentes de uma equipe engajada e motivada. Uma boa gestão, orientação técnica e atenção aos resultados na fazenda são essenciais para melhorar os números, e isso requer persistência e dedicação diárias em todo o processo.

 6- Para reduzir a CCS na fazenda, quais são os principais fatores a serem considerados?  Para reduzir a CCS na fazenda, é necessário alinhar 3 pilares: agente, ambiente e animal. É fundamental avaliar os fatores de risco relacionados aos agentes contagiosos, como manter a máquina de ordenha limpa (prevenir a formação de biofilme na parte interna do equipamento de ordenha, o que favorece o crescimento de Staphylococcus aureus e Streptococccus agalactiae) e em bom funcionamento (prevenir o risco de novas infecções por vazamentos, variação de vácuo e vacas mal ordenhadas), além de identificar e monitorar esses agentes no rebanho (para segregação e tomada de decisão). Já em relação ao ambiente, é importante fornecer um ambiente adequado e limpo para os animais, o que inclui sombra e espaço sufi ciente para evitar o estresse e a queda na imunidade. Por fim, é necessário avaliar a saúde física e de úbere (esfíncter, conformação e resposta imune aos desafios), tomando decisões assertivas sobre quais animais devem permanecer na propriedade e quais representam riscos para as vacas sadias. Em todos esses pilares, a capacitação da equipe e o acompanhamento diário são essenciais para garantir a eficácia dessas medidas.

7- Como podemos engajar e motivar os ordenhadores nesse processo?  Para manter a motivação dos colaboradores é importante realizar reuniões periódicas para alinhamento dos resultados, treinamentos didáticos e participativos. Além disso, é fundamental compreender as condições de vida dos trabalhadores nas propriedades e os técnicos podem auxiliá-los. Dessa forma, eles se sentirão valorizados e como peças-chave para o resultado.

8 - Na rotina, quais são os indicadores monitorados?   Para obter melhores resultados e compreender o caminho a seguir, os indicadores funcionam como um termômetro que mostra a evolução do trabalho, as áreas que estão avançando e onde as falhas estão ocorrendo. Os principais indicadores a serem trabalhados e discutidos com a equipe da fazenda para estabelecer metas conjuntas são: CCS e CPP do tanque. Esses indicadores fornecem resultados rápidos, pois se o desafio for o CPP, por exemplo, uma visita técnica pode ajudar a estabilizar e controlar os resultados. Além desses, é fundamental trabalhar com a prevalência de mastite subclínica, que indica o número de animais com CCS acima de 200 mil céls/ ml no rebanho. Esse parâmetro mostra se muitas vacas estão contaminadas ou se poucas vacas representam grande parte da CCS do tanque. Com esse indicador, podemos sugerir, por exemplo, a utilização de linha de ordenha. Dentro do indicador de mastite subclínica, existem 5 status possíveis para o animal, quando realizadas amostras mensais: sadia, curada, nova infecção, crônica e infectada. Ao classificar cada animal, podemos entender a dinâmica da infecção. Se tivermos um percentual alto de novas infecções e uma baixa taxa de cura, por exemplo, a tendência é que a prevalência aumente ao longo do tempo, assim como a CCS do tanque. É necessário entender como os animais estão se infectando e porque não estão curando. Por outro lado, se tivermos uma taxa de novas infecções baixa e uma taxa de cura alta, sabemos que o rebanho tende a estar cada vez mais saudável.

Outro indicador importante é a incidência de mastite clínica ao mês, que mostra o número de quartos mamários que apresentaram mastite (qualquer tipo de alteração no leite) em relação ao total de animais em lactação. Se uma mesma vaca apresentar alteração em mais de um quarto mamário, devemos considerar como dois casos, mesmo sendo o mesmo animal. Fazendas com alta incidência de mastite clínica sofrem grandes prejuízos devido ao uso de medicamentos e, principalmente, pelo custo do leite descartado. É importante adequar a meta desse indicador para cada tipo de sistema de manejo (Compost Barn, semi-intensivo e extensivo). A mastite clínica também é avaliada no pós-parto, pois é uma avaliação da saúde das vacas nesse período e demonstra as condições do ambiente no pré-parto, já que isso influencia diretamente na taxa de novas infecções. Além disso, o período seco é incluído nos indicadores mensais para monitorar se estão sendo utilizados medicamentos eficazes.

9 - Quais são as vantagens para o produtor em ter uma boa qualidade do leite?  O produtor de leite só tem a ganhar quando a qualidade do leite é boa. A CPP baixa e estável indica que a equipe está organizada e que os processos são consistentes ao longo do tempo. Já a CCS controlada indica animais saudáveis e sabemos que a saúde está diretamente relacionada à produção de leite. Estudos mostram que à medida que a CCS do tanque aumenta, o rebanho deixa de produzir leite, podendo ter uma perda de até 30% quando a CCS está acima de 1.500 céls/ml. Garantir uma baixa CCS é ter saúde financeira e o retorno para o produtor é direto. 

Outro grande ganho é o controle dos casos de mastite clínica, que levam à redução do uso de antibióticos para tratamento e descarte de leite. Cada caso de mastite clínica pode ter um custo direto de cerca de R$500 para um animal que produz 20 litros/dia, sem considerar a perda de produção que pode variar entre 10% e 30% após o caso de mastite. Ter uma boa qualidade do leite significa ter controle dos processos, menos risco de resíduos de antibióticos no leite, uma equipe comprometida com resultados e melhoria contínua, bons resultados reprodutivos, já que a mastite interfere na taxa de concepção e manutenção da gestação, um preço de leite melhor no mercado e maior poder de negociação com os laticínios. Enfim, os benefícios são diretos e indiretos e, atualmente, com margens tão apertadas, é uma questão de sobrevivência para o produtor na atividade.

10 - Qual a importância da qualidade do leite na saúde financeira das fazendas leiteiras e quais são as etapas essenciais para garantir essa qualidade?  Nos últimos anos, muitos produtores têm deixado a atividade devido aos custos de produção. Para aqueles que desejam continuar na pecuária leiteira, é fundamental entender que a qualidade do leite é um indicador crucial da saúde financeira da fazenda. Além da paixão pela atividade, é preciso gestão para superar os desafios e incertezas do setor. Trabalhar a qualidade do leite é uma forma de garantir a sustentabilidade e a permanência na atividade. Para garantir a qualidade do leite é necessário começar pelo básico, trabalhar a rotina de ordenha, os processos com os ordenadores e garantir que os animais estejam confortáveis. Além disso, conhecer os números, monitorar os resultados e saber onde se quer chegar.

Autores: Mariana Brant Drumond Magalhães Dornas - médica veterinária, consultora e sócia-fundadora da Mais Leite
Pâmela Micheli Furini - médica veterinária, consultora e sócia-fundadora da Mais Leite
Marina Ferreira Borges - médica veterinária e consultora júnior da Mais leite
Isadora Marugeiro de Paula Teodoro - médica veterinária e trainee da Mais Leite

Fonte: Revista Leite Integral
 

 

 


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