A bovinocultura de leite enfrenta uma série de desafios, dentre eles, a mastite se destaca como uma das principais doenças que afetam a saúde dos animais e impacta negativamente a produtividade do setor, levando a uma perda de 110 a 552 kg de leite durante a lactação do animal acometido. Além disso, a mastite traz um apelo importante no que diz respeito à saúde única com o uso desenfreado de antibióticos. Portanto, estratégias que promovam o controle e prevenção dessa enfermidade são necessárias, e nesse sentido, a cultura microbiológica na fazenda é uma das ferramentas que vem ganhando adesão de muitos produtores para diagnósticos mais assertivos, na eleição de tratamentos, descoberta de agentes etiológicos da mastite e redução no uso de antibióticos.
A mastite bovina pode ser definida como uma inflamação da glândula mamária, de etiologia multifatorial, que leva prejuízo a produtores no que se refere ao custo com tratamentos, descarte do leite e até mesmo o descarte de animais, além de perdas nas indústrias, reduzindo o rendimento de produtos derivados. Ela pode se apresentar de forma clínica, com alterações no leite visíveis no teste da caneca de fundo preto, e de forma subclínica, quando não há alteração visual no leite, mas apenas em testes de diagnóstico laboratoriais, como o CMT (California Mastitis Test) ou avaliação de contagem de células somáticas. Contudo, todos esses testes apresentam uma limitação: não permitem identificar o agente etiológico dessa inflamação.
Os principais agentes relacionados a mastite são classificados em ambientais, como por exemplo: Escherichia coli, coliformes, Streptococcus uberis, Enterococcus spp, Streptococcus equinus (anteriormente S. bovis) e outros Streptococcus do ambiente] e contagiosos, como por exemplo: Streptococcus agalactiae, Staphylococcus aureus, Mycoplasma, Corynebacterium bovis, Staphylococcus coagulase-negativos. Cada um desses agentes etiológicos exige diferentes estratégias de prevenção e tratamento, sendo assim, determinar o perfil microbiológico de uma fazenda permite adoção de medidas mais assertivas que vão contribuir para o controle da mastite.
Outro ponto importante é que a partir de análise de dados da cultura microbiológica de amostras de leite cru, 30% desse material não apresentou nenhum crescimento de microorganismos, ou seja, nesses casos não é justificado o uso de antibióticos intramamários ou sistêmicos, e utilizá-los, pode representar um fator de risco para resistência antimicrobiana. Desse modo, a cultura microbiológica na fazenda representa um papel crucial para o diagnóstico da mastite, sendo de suma importância na tomada de decisão para o tratamento antimicrobiano racional, prevenção de novos casos e medidas de controle.
A cultura na fazenda é uma alternativa ao envio de leite para o diagnóstico microbiológico laboratorial, o qual frequentemente torna-se um entrave para muitos produtores. Para este tipo de diagnóstico utilizam-se kits comerciais com meios de cultura pré-fabricados que avaliam principalmente o padrão de crescimento microbiano, em 18 a 24 horas, feito com amostras coletadas assepticamente em frascos estéreis.
Uma das principais vantagens da cultura realizada na própria fazenda, é a rapidez com que se obtém os resultados, destacando-se a importância de um profissional ou produtor qualificado para interpretação adequada. Além disto, a implantação da cultura na fazenda aumenta a acurácia no tratamento dos casos clínicos de mastite, com redução de até 28% no uso de antibióticos e em até 10,4% na redução dos custos dos casos clínicos de mastite.
Cabe ressaltar, por fim, que o produtor interessado em adotar este tipo de diagnóstico em sua propriedade deve ficar atento ao custo-benefício. De qualquer forma, a realização de análises microbiológicas na própria fazenda vem dinamizar o controle de mastite e promover o aumento da produtividade e da qualidade do leite comercializado, sendo uma ferramenta importantíssima para tecnificação do setor leiteiro.
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