11/05/2023 às 22h09min - Atualizada em 11/05/2023 às 22h09min

Resgate da produção queijeira da região entre serras da Piedade ao Caraça é tema de seminário promovido pela EMATER-MG

Só o Caraça paga toda a viagem a Minas”. Assim teria dito Dom Pedro II, encantado com a exuberância do lugar, durante uma visita que fez ao Santuário do Caraça, há mais de 140 anos.

Aline Louise
Assessoria de Comunicação EMATER MG
Emater/MG

“Só o Caraça paga toda a viagem a Minas”. Assim teria dito Dom Pedro II, encantado com a exuberância do lugar, durante a visita que fez ao Santuário do Caraça, há mais de 140 anos. Ainda hoje, a riqueza natural, com suas montanhas imponentes, que exibem formas inusitadas, como uma caraça, que inclusive seria a origem do nome do local; as cachoeiras, a diversidade da flora e da fauna, e o complexo arquitetônico do santuário encantam a qualquer visitante. Por entre essas Serras há ainda outra riqueza, que por muito tempo ficou esquecida, mas agora passa por um resgate: a produção do queijo minas artesanal na região, que recebeu caracterização técnica e reconhecimento do Estado em abril de 2022.

O queijo da região, que foi intitulada “Entre Serras da Piedade ao Caraça”, começou a ser produzido ainda na época dos bandeirantes, uma forma de aproveitamento e conservação do leite. Mas esse modo de fazer tradicional foi sendo abandonado com o tempo, por diversas questões tanto econômicas quanto sociais. Mas agora, um trabalho promovido pela Emater-MG tenta resgatar essa cultura, estimulando produtores da região a retomarem a atividade, justamente como forma de geração de renda e agregação de valor a toda experiência que o Caraça tem a oferecer.

O técnico da Emater-MG na região, Wemerson Barra, defende o trabalho de resgate desta cultura queijeira como alternativa de renda sustentável para os produtores. “É muito importante para o território, tendo em vista a pressão que a gente tem da mineração. O Caraça, os produtores, a região têm essa pressão da mineração. Resgatando esse queijo e agregando valor os jovens começam também a abraçar essa ideia do trabalho com o queijo em vez de irem para indústria”, complementa.

 

 

Para estimular o resgate da cultura queijeira na região “Entre Serras da Piedade ao Caraça” a Emater-MG tem realizado o acompanhamento técnico dos produtores, promovido cursos e seminários, como o que aconteceu no dia 8 de maio, no Santuário do Caraça, que reuniu técnicos e produtores, para tratar temas como a caracterização, resgate histórico, legislação sanitária e a organização dos produtores.

Segundo a gerente regional da Emater-MG, Graciela Pires Lazarini, as ações foram construídas em conjunto com a Associação dos Produtores do Queijo do Entre Serras da Piedade ao Caraça e estão sendo desenvolvidas gradativamente, priorizando a melhoria da qualidade do produto e a legalização das queijarias.

O diretor-presidente da Emater-MG, Otávio Maria, reforça que este trabalho é mais um dentre os esforços da empresa para valorização da produção artesanal de queijo em Minas Gerais. “Desde 2002 estamos atuando com foco na legalização e na valorização dessa cultura queijeira. Conquistamos, por exemplo, o reconhecimento do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) deste modo tradicional de fazer o queijo como patrimônio imaterial estadual e federal e estamos agora pleiteando junto a Unesco como bem imaterial da humanidade. Tudo isso para realmente conseguir desenvolver essas regiões produtoras, agregando inclusive valor com o turismo rural”, comenta.

A produção de leite é tradicional entre os municípios da região, conforme destaca o Secretário de Meio Ambiente e Agropecuária de Santa Bárbara, Juliano Xavier. Para ele, a produção de queijo é a forma mais viável de agregar valor a essa produção, trazendo sustentabilidade econômica para região.

Organização

Desde que foi iniciado o movimento para o resgate da cultura queijeira da região “Entre Serras da Piedade ao Caraça”, formou-se uma associação de produtores, em 2021, que hoje congrega 15 queijeiros. A associação é liderada pelo Padre Luiz Carlos do Vale Fundão, também diretor-presidente do Santuário do Caraça. Para ele, este movimento é essencial para preservação da cultura, da sustentabilidade sócio-econômica e até ambiental da região.

“O modo de fazer do Queijo Minas Artesanal é cultural, vem da época dos primeiros bandeirantes que vieram aqui, precisa ser preservado, mantido, guardado, propagado, para que atraia cada vez mais turistas. Com isso, estamos dando lugar novamente aos pequenos produtores que perderam seu espaço com o processo de industrialização, o crescimento de outras formas mais imediatas e rápidas de fazer o queijo, como o frescal, por exemplo, que tem o seu valor, mas o Queijo Minas Artesanal precisa ter seu lugar”, enfatiza.

Caracterização

A região “Entre Serras da Piedade ao Caraça” contempla os municípios de Catas Altas, Barão de Cocais, Santa Bárbara, Rio Piracicaba, Bom Jesus do Amparo e Caeté. A localização, entre as serras da Piedade e do Caraça, acabou dando origem ao nome da região recém-reconhecida. As características ambientais do lugar influem diretamente na qualidade e no sabor único do queijo produzido aqui. Segundo o geógrafo, técnico da Emater-MG, Felipe Fonseca de Oliveira, o território se caracteriza por altitudes elevadas, com todos os municípios pertencentes a reserva da biosfera da Serra do Espinhaço. “Junto com isso tem ainda aspectos como vegetação, solo, qualidade da água, que são únicos e impactam nas características de sabor e textura do queijo”, explica.

Dircilene faz parte dessa “nova geração” de produtores que estão resgatando o modo de fazer tradicional do Queijo Minas Artesanal na Região. Ela conta que o queijo foi o “cupido” da sua história de amor. Ela lembra que lá no final da década de 80, o noivo a presenteou com a iguaria que era feita pela família dele. Ela logo se apaixonou pelo sabor. Assim que se aposentou, em meio a pandemia, iniciou uma jornada em busca da recuperação daquele gosto tão marcante na sua memória afetiva e hoje vive da produção do queijo minas artesanal.

“Quando eu estava para aposentar estava no dilema se queria voltar para Belo Horizonte, minha cidade natal ou se teria alguma coisa na roça que fizesse eu querer ficar. Um dia eu pedi meu marido pra tirar leite porque eu queria fazer aquele queijo. Depois de uns quatro meses, testando, tirando o pingo, eu consegui aquele queijo, com aquele sabor, fiquei tão feliz que não queria dar pra ninguém, não queria vender. Só que o queijo começou a sair da porteira pra fora, todos perguntando se eu tinha pra vender, aí começou a história do queijo” conta.

Com a caracterização da região “Entre Serras da Piedade ao Caraça”, Minas tem agora 10 regiões reconhecidas oficialmente como produtoras de Queijo Minas Artesanal. Somam-se a ela ainda: Araxá, Campos das Vertentes, Canastra, Cerrado, Diamantina, Serra do Salitre, Serro, Triângulo Mineiro e Serras da Ibitipoca.

Autora: Aline Louise
Fonte: Assessoria de Comunicação EMATER MG


Link
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp