05/05/2023 às 18h38min - Atualizada em 05/05/2023 às 18h38min

Pesquisa desenvolve primeira bebida e queijo à base de coco-babaçu do Brasil

No Maranhão, a Embrapa, junto com quebradeiras de coco, criou novos produtos para gerar renda a comunidades que dependem do babaçu para sobreviver.

Embrapa Agroindústria Tropical
Revista Globo Rural
Atualmente, o Estado concentra mais de 90% da produção e comercialização nacional de derivados do babaçu, um tipo de palmeira que é base da economia extrativista de milhares de famílias de comunidades tradicionais localizadas também no Tocantins, Pará e Piauí. Juntas, essas áreas conjugam Caatinga, Cerrado e Floresta Amazônica, ambientes ricos em babaçuais e com mais de 300 mil mulheres atuando como quebradeiras de coco.

Do babaçu, não se perde nada. A casca vira artesanato de palha, o mesocarpo se transforma em suplemento alimentar e a amêndoa - seu ingrediente mais nobre - também gera óleos e sabonetes.

Para aprimorar o portfólio de quem trabalha com a planta, a pesquisa da Embrapa começou a ser realizada no Vale do Itapecuru (MA) e na microrregião de Chapadinha, áreas que possuem histórico de extrativismo do babaçu e grupos organizados para fazer a coleta, o processamento e a produção de alimentos vegetais.

O objetivo é aplicar tecnologia em prol da segurança alimentar, inovação social e biodiversidade, informou a Embrapa em nota. “Tanto a bebida vegetal tipo leite quanto o análogo de queijo representam oportunidades de inovação na cadeia de valor do babaçu, agregando saberes tradicionais e conhecimentos técnico-científicos, promovendo o empreendedorismo de organizações comunitárias em torno de uma espécie da sociobiodiversidade que é o babaçu”, afirma a pesquisadora da Embrapa Cocais (MA) e líder do projeto, Guilhermina Cayres.

Chamado “Novos alimentos com amêndoa de babaçu”, o projeto é desenvolvido em parceria com as quebradeiras de coco e instituições públicas e privadas a fim de aumentar o número de produtos à base da amêndoa, atingindo nichos de mercado potenciais, como o de pessoas com restrições alimentares.

Mais de 40 grupos agroextrativistas já foram consultados sobre o interesse nos produtos, o que confirmou a possibilidade das quebradeiras incrementarem a quantidade e a qualidade daquilo que já é gerado com a amêndoa. A pesquisa utilizou tecnologia de extração semelhante a de produtos que se dissolvem na água, cuja aparência lembra o leite, como é o caso de bebidas de castanha de caju, de amêndoa e de arroz. As quebradeiras de coco foram ouvidas para que o processo do coco-babaçu fosse aprimorado.

“Com a capacitação, ganhamos mais um produto derivado, que vai aumentar a nossa renda a partir de um produto de qualidade. Ser quebradeira de coco é um orgulho, pois é um produto natural. Nós não precisamos derrubar, nem queimar e nem usar veneno para produzir o babaçu, usamos o que é dado pela natureza”, salienta a quebradeira Gracilene Cardoso, que herdou a atividade da mãe e da avó.
 
A quebradeira Rosana Sampaio aposta em um produto de maior qualidade, que propicie um faturamento melhor, já que, atualmente, as profissionais do ramo são mal remuneradas. "Temos bastante dificuldade para extrair o coco. Há muitas pessoas que não têm trabalho nenhum e ganham mais do que quem tem muito trabalho. Acredito que por conta do desconhecimento do processo", revela.

Produção do queijo e da bebida
O produto análogo ao queijo apresenta sabor e aroma semelhantes a lácteos fermentados. A pesquisadora Selene Benevides, da Embrapa Agroindústria Tropical (CE), responsável pelo desenvolvimento do alimento, explica que, como o babaçu é adocicado, a fabricação envolve um processo de fermentação que reduz o dulçor e aumenta a acidez para alcançar semelhança a queijos tradicionais.
Como o coco é rico em lipídios e pobre em proteínas, os pesquisadores acrescentaram ao queijo uma fonte proteica extraída da soja e o resultado foi um alimento que apresenta teores de proteína semelhantes a de um queijo fresco. Benevides conta que o produto foi uma novidade para as quebradeiras e pode contribuir para o aumento da renda de quem vive do extrativismo vegetal.

"Esperamos que aumente o portfólio dos produtos do babaçu e ocupe espaços em nichos de mercado, agregando renda e mais qualidade de vida às quebradeiras de coco", pontua.

Já a bebida é um extrato obtido da trituração de amêndoas de coco babaçu em água e ingredientes que ajudam na estabilidade e no sabor. O produto deve ser pasteurizado e armazenado em temperatura de refrigeração, podendo ser consumido em até 15 dias – tempo de vida de prateleira semelhante ao de outras bebidas vegetais prontas para consumo. O rendimento é de três litros por cada quilo de amêndoa, valor positivo para a indústria. O pesquisador que atuou no desenvolvimento do produto, Nedio Wurlitzer, também da Embrapa Agroindústria Tropical, ressalta que as novas possibilidades de uso da amêndoa de babaçu permitirão acessar nichos de mercados no Maranhão que valorizem as preparações artesanais.

Os dois produtos passaram por testes de análise sensorial e de intenção de compra, apresentando bom desempenho. Por isso, a expectativa da Embrapa é preparar as quebradeiras até o final do primeiro semestre de 2023. Dez trabalhadoras já fizeram treinamentos sobre os processos e boas práticas de geração do produto para que possam repassar às comunidades, detalhou a Embrapa.

Novos produtos à vista
Pelo alto teor de amido no mesocarpo do fruto (cerca de 70%), a mistura tem sido usada para pães, bolos, biscoitos, mingaus, beiju, quitutes e em uma bebida quente popularmente conhecida como “chocolate de babaçu”. Novas formulações para o biscoito e o gelado são estudadas com a ajuda das quebradeiras de coco e parceiros. Em processo de pesquisa estão o leite condensado, café, farinha de amêndoa, amêndoa ralada e hambúrguer de babaçu. Cooperativas e associações de quebradeiras de coco, além de instituições, como a Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Instituto Federal do Maranhão (IFMA) e Universidade Federal do Ceará (UFC) participam da pesquisa.

Fonte: Revista Globo Rural

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