01/03/2022 às 11h55min - Atualizada em 01/03/2022 às 11h55min

Suplementos Nutricinais - Parte I

Cristina Garcia Lopes

Tem se tornado muito comum o uso de suplementos nutricionais nos dias de hoje. Na maioria das vezes, esses suplementos referem-se a cápsulas de vitaminas e sais minerais. Na busca de melhor qualidade de vida, muitas pessoas têm investido no consumo desses produtos, como forma de prevenir doenças, melhorar o desempenho nas atividades físicas e mentais e, principalmente, retardar o envelhecimento.

 

Mas será que tais suplementos realmente têm o efeito que lhes é atribuído? Muitos são os argumentos de quem comercializa tais produtos. Os principais são aqueles que relacionam as condições de vida atual (stress constante, exposição à poluição) com o aumento das exigências nutricionais que, dificilmente, seriam supridas pela alimentação comum.

 

Primeiramente, precisamos definir o que é necessidade nutricional, que significa a quantidade de nutrientes presentes nos alimentos suficientes para satisfazer as necessidades fisiológicas normais e prevenir sintomas de deficiências.

 

Com relação às quantidades adequadas dos diversos nutrientes (vitaminas, minerais etc), os cientistas e estudiosos do assunto procuram estabelecer as recomendações nutricionais (chamadas no meio científico de RDAs), as quais são definidas como “os níveis de ingestão de nutrientes essenciais que, com base nos conhecimentos científicos, são julgados por órgão de reconhecimento internacional (o Food and Nutrition Board) como sendo adequados para cobrir as necessidades de nutrientes específicos de praticamente todos os indivíduos saudáveis”.

 

Portanto, o estabelecimento das quantidades de nutrientes, a serem obtidas a partir dos alimentos, é fruto de anos de pesquisas e estudos muito bem conduzidos, para que possam ser aceitos no meio científico mundial. Normalmente, essas recomendações, uma vez estabelecidas, são utilizadas como base para toda a população mundial, salvo algumas pequenas variações de acordo com o clima e as condições de algumas regiões do globo (por exemplo: maior necessidade de vitamina D para pessoas que vivem em países onde há pouca incidência da luz solar).

 

Sendo assim, enquanto entendemos que os nutrientes devem ser obtidos, primariamente, através das refeições diárias, existem quantidades estabelecidas para cada vitamina ou mineral. Vale frisar que tais quantidades podem ser obtidas, normalmente, na alimentação diária, sem necessidade de suplementação, quando se trata de pessoas saudáveis.

 

Não se sabe, também, se a exposição a agentes poluentes, por exemplo, levaria a maiores necessidades de vitaminas e minerais e, se assim fosse, se uma alimentação equilibrada já não seria o bastante, uma vez que as cotas estabelecidas já prevêem quantidades suficientes para prevenir deficiências que podem ocorrer ao longo da vida. Para isso, seriam necessários estudos que definissem as perdas de nutrientes geradas por esses agentes externos e qual a necessidade de reposição. O mesmo pode se dizer quanto ao stress, tão citado como importante causa para levar a um maior consumo de vitaminas e minerais.

 

É sabido, entretanto, que algumas doenças ou alterações no metabolismo podem comprometer a absorção de nutrientes ou exigir um maior consumo de alguns tipos de vitaminas ou minerais. Nesses casos, são necessários exames específicos e acompanhamento médico.

 

Resumindo, as cotas de vitaminas e sais minerais são definidas a partir de intensas pesquisas, desenvolvidas durante um tempo relativamente longo, e as definições de quantidades diárias necessárias por pessoa têm por objetivo a manutenção de uma boa qualidade de vida e a prevenção de doenças possíveis de serem evitadas através de uma alimentação adequada. Teoricamente, segundo esses estudos, uma alimentação equilibrada, onde todos os alimentos necessários estejam presentes em quantidades adequadas, é o suficiente para esse fim, sem haver necessidade de nenhum suplemento. Nessas quantidades, definidas por comissões de especialistas no assunto, já são previstas algumas necessidades extras, como a resistência a infecções, manutenção da integridade da pele, alterações climáticas etc.

 

Como já foi dito, podem ocorrer condições em que as necessidades indicadas a serem ingeridas através da alimentação não são suficientes. Tais situações, porém, são geralmente transitórias, normalmente causadas por doenças ou condições que impedem o organismo de manter a sua integridade normal. Um exemplo disso é a anemia, que exige, para o seu tratamento, uma ingestão de ferro acima das recomendações nutricionais até que as reservas de ferro do organismo sejam recompostas. A partir daí, volta-se às recomendações para um consumo normal. O mesmo pode ocorrer na osteoporose, sendo que, nesse caso, a suplementação pode ser necessária por tempo indeterminado.

 

É importante lembrar que, quando um determinado nutriente precisa ser ingerido acima das quantidades recomendadas, ele torna-se um medicamento, devendo ser ingerido mediante recomendação e acompanhamento médico, e sempre com um objetivo específico, como tratar uma determinada doença ou deficiência alimentar grave, que dificilmente seria resolvida só pela alimentação. Um exemplo disso é a medicina ortomolecular, que utiliza dosagens altas de vitaminas e minerais por tempo determinado e com prescrição e acompanhamento médico.

 

Apenas o profissional médico está devidamente habilitado para prescrever suplementos de minerais e vitaminas que ultrapassem as recomendações nutricionais, uma vez que tais dosagens podem causar diversos efeitos colaterais, a médio e longo prazo, e só o acompanhamento desse profissional pode reduzir ou minimizar esses efeitos. Nenhum outro profissional de saúde está devidamente habilitado para isso, sendo importante que se procure acompanhamento antes de adquirir e utilizar tais produtos.

 

Existem também estudos novos na área da nutrição que mostram que, para a maioria dos casos de deficiência nutricional, os alimentos fortificados (enriquecidos com vitaminas e/ou minerais) são a forma mais eficiente para suprir necessidades especiais de nutrientes, como é o caso do tratamento da osteoporose.

Concluindo, podemos assim resumir as vantagens e desvantagens dos suplementos vitamínicos ou minerais:

 

Vantagens:

  • Podem ser úteis em casos de deficiência alimentar grave, quando a pessoa, por algum motivo, não pode consumir determinados alimentos que são fontes de nutrientes importantes (exemplo: intolerância ao leite e/ou derivados pode levar a uma grave deficiência de Cálcio, o que necessitaria de reposição através de outros alimentos fortificados com esse nutriente ou suplementos de minerais que contenham boa quantidade de Cálcio).

  • Normalmente são indicados quando já há uma deficiência nutricional grave, que demoraria a ser tratada apenas através da alimentação diária; nesse caso, devem ser utilizados por tempo determinado, até a redução dos sintomas da deficiência.

 

 

Desvantagens:

  • Quando ultrapassam as recomendações nutricionais (RDAs) exigem prescrição e acompanhamento médico.

  • Podem ter efeito cumulativo no organismo, dependendo da sua formulação química, o que dificilmente ocorreria no consumo de alimentos ricos em vitaminas e minerais.

  • Não podem ser utilizados por tempo indeterminado, a não ser sob orientação específica.

  • Os de melhor procedência são, geralmente, caros e podem ser substituídos por combinações de alimentos facilmente adquiridos sem grande despesa.

 

Para quem se preocupa com sua alimentação e acredita que tem necessidade de ingerir cápsulas de vitaminas e/ou minerais, experimente, primeiro, buscar uma alimentação equilibrada, ingerindo boas quantidades de legumes, verduras, frutas, cereais etc, reduzindo o consumo de gorduras e açúcar, e não exagerando no consumo de carnes e outras fontes de proteína animal.

Se ainda assim acreditar que existem deficiências em seu organismo, procure a opinião de um especialista no assunto, fazendo exames específicos para detectar se realmente existem deficiências antes de ingerir suplementos. Acima de tudo, é importante nunca seguir conselhos de leigos no assunto, principalmente, aqueles que trabalham na venda desses produtos, assim como não se deve utilizar suplementos por conta própria, sem orientação profissional.

Vale frisar que as vantagens dos alimentos sobre os suplementos são inúmeras e, entre elas, se pode citar:

  • têm diversos nutrientes associados, o que geram uma melhor facilidade para o organismo absorvê-los;

  • dificilmente irão se acumular no organismo, mesmo quando se consome em quantidades grandes, porque existem mecanismos fisiológicos de eliminação das quantidades excessivas, o que geralmente não ocorre com os suplementos;

  • são relativamente baratos e de fácil aquisição, uma vez que há uma grande variedade de alimentos que são fontes de um mesmo nutriente, oferecendo várias opções de consumo.

Observação: Quando os cientistas e estudiosos da Ciência da Nutrição estabelecem as RDAs (ou recomendações nutricionais), também estabelecem níveis seguros de ingestão de nutrientes (mesmo que ultrapassem as RDAs), assim como dosagens tóxicas, que seriam aquelas em que esses mesmos nutrientes começariam a causar efeitos colaterais no organismo, muitas vezes gerando sintomas próximos daqueles gerados pela deficiência. Desse assunto trataremos na segunda parte desse artigo.

 

 

Cristina Garcia Lopes é nutricionista formada pela Universidade Federal de Viçosa

Fonte: Site Acessa.com 


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