Culturas como soja e milho (anuais), conforme a consultoria, tiveram rentabilidade de 2,5% em 2014; em 2013, ficou em 3,5%. Já a rentabilidade média do arrendamento em regiões de cana caiu de 7,6% em 2013 para 4,5% em 2014. “Prova disso é que o leite tem se destacado em regiões onde a terra está cara e atualmente ocupadas com soja, milho, suinocultura e avicultura”, diz o chefe-geral da Embrapa Gado de Leite. Segundo ele, a atividade leiteira continua crescendo, por exemplo, na região que vai de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, a Cascavel, no Paraná; no Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e leste de Goiás; e na região que sai de Belo Horizonte rumo ao sertão mineiro. O zootecnista Nascif avalia que a atividade tem crescido de forma consciente no Brasil. “Os produtores que estão aumentando o volume de produção estão fazendo isso sobre bases sustentáveis. As vacas dos produtores que estão saindo da atividade não vão para o frigorífico, e sim para a fazenda de outros produtores que têm obtido sucesso na atividade leiteira.”
Ainda segundo a Scot, registraram menor rentabilidade que o leite de alta tecnologia em 2014 atividade de cria com aplicação crescente de tecnologia (2,4%), atividade de ciclo completo com baixa tecnologia (2,3%), atividade de recria e engorda com baixa tecnologia (0,7%) e produção e fornecimento de cana-de-açúcar (-1,4%). Para Rafael Ribeiro, da Scot, o investimento e a aplicação de tecnologia na propriedade buscando a melhoria dos índices produtivos e ganhos em escala têm sido a “chave do sucesso” não só na pecuária de leite. Em 2014, compara Martins, da Embrapa, a inflação oficial acumulada de janeiro a dezembro foi de 6,4%. Nesse período, quem aplicou na bolsa perdeu dinheiro. “Afinal, o Ibovespa, que é a medida da valorização média das ações, teve resultado negativo e foi de -2,9%.” Quem aplicou em poupança também pouco ganhou, pois o rendimento foi de 7,1% no acumulado do ano. Já o dólar e o ouro se valorizaram 12,2% e 12%, respectivamente. “Quem ganhou dinheiro, mesmo, foi quem produziu leite.”
Para comprovar sua “tese”, ele conta que acompanhou o desempenho de produtores ligados à Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais (CCPR)/Itambé e encontrou produtores que conseguiram até 23,8% de retorno sobre o capital investido em 2014. “Tudo isso considerando todos os custos e capital imobilizado, desconsiderando apenas o investido em terra, já que terra é um ativo que se valoriza. Inacreditável esse desempenho. Então, sob a ótica individual, é claro que leite é bom negócio”, afirma. Para se ter ideia da importância de uma boa gestão financeira e tecnológica para o lucro da atividade, a pecuária de leite de baixa tecnologia, ainda segundo levantamento da Scot, deu prejuízo, com rentabilidade negativa de 3,8% em 2014, ante -3% em 2013. “Entre todas analisadas, foi a atividade com o pior desempenho no ano passado.”
O consultor diz que pecuária leiteira de “alta tecnologia” corresponde a uma produção de 25 mil litros/hectare/ano; já a de “baixa tecnologia” consiste em volume de 1.500 litros/hectare/ano. Além disso, contam itens como mão de obra, gestão da propriedade e assistência técnica. O cálculo das rentabilidades médias abrange dados de SP, MG e PR. “Os números mostram a maior capacidade do produtor que trabalha com aplicação crescente de tecnologia em lidar com cenários de crises e quedas nos preços”, diz. “Como qualquer atividade, seja urbana ou rural, há empresários que ganham dinheiro e outros que perdem, portanto há produtores de leite que têm obtido lucro com a atividade leiteira. As comparações entre as rentabilidades de diferentes negócios devem ser feitas considerando os mesmos níveis de eficiência. Deve-se comparar produtores de leite eficientes com os de outras atividades eficientes, e ineficientes com ineficientes”, explica Nascif.
Em média, calcula, considerando só os custos variáveis da atividade, estes estão comprometendo 76% do preço recebido pelo leite. Se forem considerados os custos totais, comprometem 91% do preço recebido pelo leite, segundo o consultor. “Há produtores que têm uma eficiência maior na gestão de custos, onde os custos variáveis comprometem 67% e os custos totais 80% sobre o preço do leite recebido pelo produtor. Obviamente, há produtores que não são eficientes, que comprometem 97% do preço recebido para pagar os custos variáveis; já para os custos totais comprometem 116%, ou seja, estão perdendo dinheiro”, afirma Nascif, citando dados coletados em grupo de 400 produtores participantes do Projeto Educampo, do Sebrae de Minas Gerais, no período de março de 2014 a abril de 2015. O projeto do Sebrae busca, por meio da capacitação gerencial e técnica de produtores rurais, desenvolver aspectos de gestão da propriedade, tornando-os mais eficientes e competitivos.
A análise do custo de produção de leite auxilia na organização e no controle do sistema de produção, permite a análise da rentabilidade e indica custos que podem ser reduzidos. O custo de produção de leite pode ser dividido em variáveis e fixos. Os custos variáveis são aqueles que dependem da quantidade de leite produzida e, se o processo de produção for interrompido, deixam de existir. Por exemplo mão de obra, alimentação do rebanho, reprodução, medicamentos. Já os custos fixos são aqueles independentes da quantidade de leite produzida – depreciação de máquinas, benfeitorias na propriedade, animais, implementos, seguro e impostos.
O consultor destaca ainda a importância da mão de obra como parte da “estratégia” de obter lucro com a atividade leiteira. “Mão de obra é um dos itens que mais pesam no custo de produção. Portanto, aumentar a produtividade da mão de obra é uma saída para diminuir os custos.” Produtores com produtividade da mão de obra baixa, de 286 litros/dia/homem, comprometem 15% da renda bruta da atividade leiteira para pagar funcionários. Já produtores mais eficientes obtêm índices de 390 litros/dia/homem (comprometimento de 11,6% da renda com mão de obra) e até 490 litros/dia/homem (9% de comprometimento da renda com trabalhadores).
“Ter boa gestão na atividade leiteira equivale a saber administrar a sua empresa com sucesso, obtendo lucro com sustentabilidade. E as melhores tecnologias são aquelas que forem mais apropriadas a cada sistema de produção, sempre buscando aumentar a produtividade da terra, da mão de obra e das vacas. Ser eficiente é produzir mais e melhor com menos. Daí, quanto menos capital imobilizado na atividade e mais leite com maior renda, melhor.”
Há três anos na atividade leiteira, o produtor Armando Rabbers, da propriedade Genética ARM, em Castro, PR, diz que só passou a se considerar “realmente um produtor de leite” depois que passou a investir em tecnologia. “Nos tempos de hoje, para termos eficiência de produzir no nosso ramo, é preciso de muita gestão e planejamento, o que fazem a diferença na lucratividade da fazenda. Temos que ter planejamento de quantos hectares precisamos plantar de forragens e escolher as melhores cultivares; montar um cronograma de vacinações e tratamentos, treinar constantemente os colaboradores, pois inovações tecnológicas estão avançando e mudando os conceitos de produzir; e, de forma consciente, saber o que queremos da atividade”, diz o produtor.
Com 135 vacas em lactação, 29 vacas secas e 155 animais jovens, Rabbers obtém, em média, 36,5 litros/vaca, a um custo entre R$ 1,02 e R$ 1,05/litro. “No último mês recebemos R$ 1,10”, conta. A ordenha, 100% mecanizada, tem capacidade de ordenhar 140 vacas por dia. Com experiência na suinocultura – ele produz quase 2.000 suínos de engorda – Rabbers afirma que o segredo para ter lucro no leite é investir em produtividade e, principalmente, em qualidade, o que garante a “bonificação” da cooperativa onde entrega seu produto. “Acredito muito nessa atividade.”