31/05/2015 às 07h39min - Atualizada em 31/05/2015 às 07h39min

Leite orgânico ganha mercado

Produtores adaptam fazendas tradicionais para criar vacas livres nos pastos, tratadas com homeopatia. Custos chegam a ser mais baixos que os da produção tradicional. Vacas criadas em grande áreas e alimentação natural são alguns dos pré-requisitos da produção orgânica.

O leite orgânico começa a ganhar espaço nas fazendas brasileiras. O produto e seus derivados (queijo, requeijão, manteiga e iogurte) chegam a custar de 20% a 40% mais que os convencionais. A preocupação cada vez maior dos consumidores com a alimentação saudável leva o mercado a crescer no País. Para adaptar as fazendas de leites tradicionais à atividade orgânica, o criador gasta de dois a três anos. A produção chega a ser mais barata que a convencional. Se o produtor já tem genética adaptada, boas condições de pastagem e de ambiente e pratica técnicas corretas de manejo, o custo inicial cai bastante e chega a ficar 10% abaixo do da pecuária comum.

A produção do leite orgânico dispensa o uso de produto químico, como carrapaticida e antibiótico. Os animais recebem somente as vacinas obrigatórias, exigidas pelo Ministério da Agricultura, e os medicamentos são utilizados em último caso. Normalmente, as doenças são controladas com homeopatia, fitoterapia e técnicas preventivas. As vacas são criadas livres nos pastos. A idéia é manter o animal saudável, pois, desse modo, ele resiste mais facilmente às doenças e se cura mais rápido quando contaminado.

Em Minas Gerais, ainda há poucos produtores de leite orgânico. “O mais difícil é a transformação da fazenda, pois não podemos usar veneno, adubo químico e hormônios. Depois que chegamos a um equilíbrio da natureza, é mais fácil manter o bem-estar do animal”, afirma Sérgio Reis Peixoto, produtor da Fazenda Monte Verde, em Faria Lemos, a 360 quilômetros de Belo Horizonte. Ele demorou cerca de três anos para fazer a conversão de sua fazenda para a produção de leite orgânico. Não se arrepende. “Os produtos homeopáticos para tratar os animais são mais baratos, diminuindo meu custo. Além disso, o mercado de orgânicos vem crescendo”, diz.

O leite da Monte Verde é industrializado na Cooperativa de Laticínios Orgânicos de Faria Lemos. Além da bebida, são produzidos ainda iogurte e queijo frescal light. Segundo o gerente da cooperativa, Eduardo Vilela Gomes, o litro do leite orgânico é vendido pela cooperativa por R$ 0,59, cerca de 30% a mais do que o leite tradicional. Ele afirma que qualquer gado pode produzir leite orgânico, mas a recomendação é que a ordenha seja mecânica, em circuito fechado, para o produto não ter contato com o ar.

Em Belo Horizonte, na loja Fito Artes, o iogurte orgânico é um dos produtos mais procurados entre os 1 mil comercializados na loja. “Quem experimenta não quer trocar, pois é 100% natural. Não tem produto químico e nem conservante e, por isso, o sabor é melhor”, afirma Graciana Daher Campos Vermeulen, uma das proprietárias da loja.

Adaptação é lenta

Na Fazenda Sula, em Serra Negra, Noroeste de São Paulo, o produtor Ricardo José Schiavinato integra a produção de leite e hortaliça orgânicos. Há 15 anos, ele trabalha com produtos orgânicos, em que colocou a marca Nata da Serra. A fazenda produz e a comercializa leite, iogurte, queijo, manteiga e doce de leite. 

A bebida, segundo Schiavinato, tem período de duração de sete a dez dias e tem que ser comercializada gelada. “É um absurdo quem diz que há leite longa vida orgânico. Para isso, seria preciso usar um pouco de química que acaba matando a qualidade biológica do produto”, afirma.

Para as fazendas produzirem orgânicos, diz, demora de dois a três anos até atingir o equilíbrio com insetos e cadeia alimentar. “O orgânico faz a propriedade ficar auto-suficiente e não nos deixa sair do sistema”, observa. O produtor afirma que o mercado está crescendo, mas a passos lentos. “Em torno de 5% ao ano, e é difícil entrar em redes que não sejam especializadas em orgânicos, como supermercados. Além disso, se o produtor ficar longe da propriedade, quebra. É preciso perceber as mudanças que ocorrem nas fazendas”, diz. Para divulgar a produção, ele iniciou em 2001 um projeto de turismo rural em sua propriedade.

No Triângulo Mineiro, a Fazenda Felicidade produz leite e mandioca orgânicos. O dono, o zootecnista José Jacionto Júnior, é produtor há 20 anos. Seis anos atrás, iniciou o processo de transição para orgânicos na propriedade. “Mudei porque sofremos com uma grande infestação de mosca-do-chifre. Aí decidi que não iria mais trabalhar com veneno na fazenda”, afirma Júnior. A produção vem crescendo cerca de 15% ao ano.

NORMAS A Instrução Normativa nº 7, de 17 de maio de 1999, do Ministério da Agricultura, trata das normas de produção, processamento, distribuição, identificação e certificação da qualidade dos produtos orgânicos de origem vegetal e animal. É destacado que não podem ser usados organismos geneticamente modificados, os transgênicos.

O produtor Joe Carlo Valle, da Fazenda Malunga, em Brasília, teve que adaptar o ambiente de sua propriedade para passar a produzir orgânicos: plantou mais árvores e leguminosas nas pastagens, aumentou a biodiversidade e fez uma mudança na base genética do rebanho, saindo de um gado europeu para outro de origem zebuína (gir leiteiro).




Autor: Equipe Técnica do Estado de Minas

Referências bibliográficas: 

Fonte: Jornal Estado de Minas


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