31/01/2015 às 18h09min - Atualizada em 31/01/2015 às 18h09min

Intensificação de sistemas de produção

Alguns dos requisitos básicos para atingir eficiência elevada em sistemas de produção de leite são: a) explorar vacas especializadas; b) ter um manejo sanitário adequado; c) ter bom manejo reprodutivo; d) ter bom manejo nutricional, e e) oferecer condições adequadas de conforto para os animais.

O conceito de vaca especializada não está relacionado à raça, pureza racial, tipo ou aparência do animal, mas sim a aspectos produtivos como potencial genético, persistência de lactação, eficiência reprodutiva, longevidade e outros. No Brasil, a difusão do conceito de animal rústico em detrimento do animal especificado resultou em uma pecuária leiteira baseada em vacas com alto grau de sangue zebuíno, de baixo potencial genético e baixa persistência de lactação. 

Em um sistema eficiente de produção de leite, tem-se como objetivo vacas dando uma cria a cada 12 meses, produzindo leite durante 10 meses. Isso significa que a vaca deve estar em, produção pelo menos 83% dos dias do ano. Transferindo esse valor para o rebanho, o produtor deve ter em média 83% das vacas do rebanho em lactação e apenas 17% das vacas secas ao longo do ano. Para isso, o fator mais importante é trabalhar com animal de alta persistência aquela que apresenta queda de produção após o pico de lactação de no máximo 10% a cada 30 dias.  

Manejo reprodutivo

Alguns dos principais objetivos de um manejo reprodutivo eficiente são: estabelecer ou restabelecer a lactação, manter percentagem elevada de vacas em lactação, minimizar os custos com animais improdutivos, maximizar a produção de leite por vaca/ano, gerar fêmeas de reposição geneticamente superiores e em número adequado para permitir descarte de vacas entre 25 a 30% ao ano e reduzir os ricos da disseminação de doenças sexualmente transmissíveis dentro do rebanho.

Entende-se por reprodução eficiente a obtenção de um intervalo médio entre partos ao redor de 12 meses com boa taxa de concepção no rebanho. O efeito negativo de um intervalo entre partos prolongado na produção média de leite de uma vaca ou de um rebanho é muito mais intenso quando se explora animais com baixa persistência de lactação. A combinação de vacas não especializadas e reprodução ineficiente resulta em uma perda de leite vultosa para o produtor.

Os prejuízos não se restringem apenas à quantidade de leite produzido. O número de fêmeas de reposição geradas durante o no também é afetado, diminuindo a chance do produtor fazer descarte de vacas inferiores ou com problemas como infertilidade, mastite crônica, casco etc.

É verdade que não é fácil atingir valores de intervalo entre partos ao redor de 12 meses. Entretanto, fazendas bem produzidas tanto em sistemas de confinamento total como em sistemas que exploram pastagens conseguem obter intervalos médios de 12 a 13 meses entre partos.

Manejo nutricional

Quando se fala em manejo nutricional, estamos nos referindo a práticas que vão muito além da simples formulação de dietas. Apesar da essencial, a formulação de dietas bem balanceadas, utilizando alimentos volumosos e concentrados de boa qualidade, é apenas o primeiro de uma série de passos necessários para que se tenha um bom manejo nutricional em rebanhos leiteiros.

Para o animal apresentar a produção esperada, além de receber uma dieta bem balanceada, é necessário que a vaca atinja o consumo adequado. Caso o consumo esteja abaixo do exigido, a produção esperada de leite só será atingida às custas do uso de reservas corporais.

Inúmeros fatores relacionados ao manejo diário da propriedade terão reflexo direto na ingestão de alimento pela vaca, tais como manejo pré-parto, condição corporal ao parto,, qualidade da forragem, manejo da silagem, disponibilidade de água de boa qualidade, problemas de casco, manejo de cocho – incluindo limpeza e área de cocho por animal - , disponibilidade de alimento para o animal para maior parte do dia, horário de alimentação, separação de vacas primíparas das vacas de segunda lactação ou mais, uso de ração completa, número de ordenhas, horário de ordenha e conforto visando reduzir ao máximo o nível de estresse do animal (térmico, local para descanso, piso etc.).































 

 

Tabela 1 – Perda de produção - Exigência nutricional de vacas de leite

 

Kg de leite

 

Consumo MS (Kg)

 

NDT* (%)

 

PB** (%)

 

10

 

12,86

 

62,80

 

12,14

 

20

 

16,70

 

66,30

 

13,80

 

30

 

20,04

 

70,15

 

15,00

 

*NDT: Nutrientes Digestíveis Totais. 

**PB: Proteína Bruto

A Tabela 1 mostra a exigência de uma vaca pesando 600 kg, produzindo leite com 3,5% de gordura e ganhando 330 g de peso vivo por dia.

Os dados da tabela 1 mostram que a diferença de um consumo entre uma vaca produzindo 20 ou 30 kg de leite por dia é de apenas 3,3 kg de matéria seca. Redução de consumo desta magnitude pode facilmente ocorrer quando alguns dos itens de manejo mencionados acima não são observados com atenção.

Na grande maioria das fazendas de leite no Brasil, a produção de alimento volumoso em quantidade e qualidade adequadas para suprir as exigências de vacas de leite durante os 365 dias do ano ainda é o principal fator limitante para a obtenção de índices de eficiência satisfatórios.

Sistemas baseados na exploração de pastagens tropicais são os mais comuns em nosso meio. Porém, é necessário ver o pasto como uma área de cultura, exigente em fertilidade de solo e manejo geral.

A adoção de sistemas rotacionados intensivos de manejo de pastagens tem permitido mudar radicalmente esse panorama em diversas propriedades nos mais diversos locais do País. Lotações de pastagens da ordem de 6 a 10 vacas por hectare durante 18 a 200 dias por ano vêm sendo obtidas, e, quando conciliadas a uma produção de alimento conservado para o inverno – na forma de silagem de milho, sorgo ou capim, ou ainda o uso de cana-de-açúcar – têm permitido aumentar de forma significativa a produção de leite por animal e por área. Produções superiores a 10.000 kg de leite por hectare/ano podem ser atingidas nessas condições, tornando a atividade leiteira altamente competitiva e vantajosa em relação a outras atividades agropecuárias.

A adubação de pastagens, muitas vezes considerada cara pelos produtores, quando feita de forma correta, propicia a produção de um alimento de boa qualidade a baixo custo. No geral, o custo da adubação para 200 dias de verão tem ficado em torno de 50 a 75 centavos por vaca/dia, o que representa ao redor de 1 a 1,5 litros de leite. Vacas recebendo este tipo de pastagem, e suplementadas com quantidades moderdas de concentrado, podem produzir ao redor de 4.000 a 6.000 kg de leite em 305 dias de lactação.

Conforto ambiental

Todo o esforço direcionado para a nutrição da vaca de leite pode não levar ao sucesso se a questão do “estresse” não for considerada. Por estresse entenda-se qualquer desconforto causado ao animal, seja por instalações ou por práticas de manejo inadequadas. Estresse térmico, competição por área de cocho  e área de descanso são fatores muitas vezes desprezados por técnicos e produtores, mas que podem comprometer muito o desempenho e a saúde do animal. Reduções na produção de leite da ordem de 10 a 40% podem ocorrer devido ao estresse por calor durante o verão em nosso meio, fazendo com que o fornecimento de sombra e água sejam fatores fundamentais para a vaca. A principal razão para essa redução na produção de leite é que vacas sob qualquer tipo de estresse comem menos e, por isso, produzem menos.

Pontos Importantes

Uma boa produtividade na propriedade depende, entre outros fatores, de:


 

  • Intervalo entre os partos – o ideal são 12 meses;

 

  • Persistência de lactação – 10 meses ou 83% do ano;

 

  • Bom manejo reprodutivo, que garanta a reposição das vacas menos produtivas;

 

  • Dieta balanceada, com alimentos volumosos e concentrados de boa qualidade;

 

  • Consumo adequado. Vacas que comem menos produzem menos;



Pastejo rotacionado com adubações adequadas para produzir alimento de boa qualidade a baixo custo, e redução dos fatores de estresse, que pode ocorrer por instalações ou pr´ticas de manejo inadequadas.


Autor: Flávio Augusto Portela Santos

Referências bibliográficas: 

Professor do Depto. De Zootecnia, USP/Esalq - São Paulo -SP


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