27/09/2014 às 14h13min - Atualizada em 27/09/2014 às 14h13min

Análise de investimentos em projetos agroindustriais

O desenvolvimento dos mercados que envolvem a cadeia produtiva do leite tem exigido cada vez mais profissionalismo na gestão das empresas, independente do porte de seus empreendimentos. Diante de novas oportunidades de negócio, o investidor deve decidir com base no máximo de informações ao seu alcance, evitando assim assumir riscos desnecessários que podem comprometer o futuro de seus negócios.

A análise econômica de investimentos é uma ferramenta versátil e de múltiplas aplicações na administração das empresas, pois permite desde o estudo da viabilidade de implantação de uma instalação industrial completa até a decisão sobre a melhor opção para a troca de equipamentos em uma linha de produção. Mesmo para o pequeno investidor que procura uma oportunidade de negócio, a análise econômica é essencial para escolha dos melhores caminhos para a sobrevivência em um mercado cada vez mais competitivo e intolerante a erros.

É importante ressaltar, no entanto, que cada empreendedor possui um perfil particular, que envolve, dentre outras características, o nível de tolerância ao risco em seus investimentos. Perfis mais conservadores tendem a ser mais cautelosos nas suas escolhas, enquanto os mais agressivos se dispõem a assumir riscos maiores. Assim, os resultados das análises de investimento podem se apresentar de forma diferente para a visão particular de cada indivíduo, apesar dos números continuarem sendo válidos da mesma forma como balizas de julgamento.

1 O ESTUDO DE VIABILIDADE ECONÔMICA

Um estudo de viabilidade econômica considera basicamente o custo de oportunidade, o risco e a liquidez de um negócio, tornando-se portanto o primeiro passo para avaliação de um projeto.

A análise do custo de oportunidade determina se o investimento necessário para a condução do empreendimento terá um retorno financeiro que supere as mínimas expectativas do investidor, considerando o que seria oferecido por outras oportunidades de negócio, incluindo os investimentos em aplicações financeiras. Outra forma de dizer isso seria que um projeto, para ser economicamente viável, deve oferecer uma taxa de retorno financeiro superior a uma taxa mínima que o investidor considera atrativa, a qual se denomina taxa mínima de atratividade (TMA). Embora a TMA represente o limite entre o que é aceitável e o que não é, sua escolha é subjetiva e reflete os interesses pessoais do investidor.

O risco está relacionado às incertezas do mercado, que influenciam por sua vez nas flutuações do dólar, nos preços dos insumos, nas receitas de vendas e nos valores de diversas outras variáveis importantes para o andamento de um negócio. Quanto maior for o período de tempo levado em conta em um estudo, maior será a dificuldade na previsão dessas variáveis e, consequentemente, maiores serão os riscos a serem avaliados.

Finalmente, a liquidez de um investimento está relacionada com a facilidade de transformar seus ativos em dinheiro vivo. Quanto maior a liquidez, maior será a flexibilidade que o administrador terá em negociar seus contratos. Os estoques de produtos acabados de uma empresa são um ativo de maior liquidez do que suas máquinas e instalações, por exemplo, porque podem ser vendidos e transformados em dinheiro mais rapidamente. Empresas que apresentam baixa liquidez de seus ativos correm o risco de ficar sem saldo de caixa suficiente para aproveitar oportunidades de investimento ou sanar dificuldades financeiras em tempos de crise.

1.1. Indicadores De Viabilidade Econômica

Um estudo econômico adequado requer que o projeto disponha de todas as informações necessárias para a previsão do fluxo de caixa em cada ano de vida útil da empresa, incluindo o levantamento das necessidades de investimentos fixos e de capital de giro, assim como uma previsão dos custos operacionais e receitas anuais. Com base no fluxo de caixa obtido é possível obter indicadores econômicos como o Valor Presente Líquido, a Taxa Interna de Retorno, o Tempo de Retorno do Capital e o Ponto de Equilíbrio, entre outros.

Projetos não aprovados podem ser descartados ou alterados em suas configurações até que apresentem resultados favoráveis. Como exemplo, uma análise poderia concluir que a localização de uma fábrica de laticínios geraria custos inaceitáveis no transporte da matéria-prima, o que poderia ser equacionado pela instalação da unidade mais próxima da região produtora de leite.

1.1.1. O Valor Presente Líquido

Se os saldos de caixa de cada ano da vida útil de uma empresa forem corrigidos monetariamente para o tempo presente, descontando-se os juros equivalentes à taxa mínima de atratividade (TMA) e então somados, será obtido um número conhecido como Valor Presente Líquido (VPL). Se o VPL for positivo, isso indica que o projeto prevê um retorno acima daquele considerado mínimo para compensar o investimento, sendo portanto uma escolha válida. Embora seja um indicador confiável, o VPL depende da definição prévia de uma taxa de atratividade, que nem sempre pode ser prevista com segurança em um ambiente de flutuações como é o caso do mercado financeiro.

1.1.2. A Taxa Interna de Retorno

A taxa interna de retorno, mais conhecida como TIR, é aquela que iguala as entradas e saídas do fluxo de caixa quando esses valores são atualizados para o momento presente. Em outras palavras, é a taxa que torna o VPL igual a zero. Em termos práticos, a TIR pode ser entendida como a taxa de remuneração do capital investido em um projeto. Isso significa que, se o valor da TIR calculada for superior ao valor da TMA, o projeto em estudo renderia mais do que o mínimo desejado pelo empreendedor, o que indicaria a viabilidade do investimento.

A TIR não exige que se defina previamente uma taxa de atratividade, permitindo assim que a comparação seja feita com várias opções de investimento ao mesmo tempo. Essa é uma vantagem em relação ao uso do VPL. Nem sempre, no entanto, o cálculo da TIR resulta em uma solução consistente, em decorrência das particularidades de seu cálculo, que utiliza um processo interativo, ou de tentativa e erro.

1.1.3. O Tempo de Retorno do capital

Em projetos que envolvem alto risco, o estudo da viabilidade econômica com base unicamente na rentabilidade dos projetos em longo prazo não é suficiente, pois o empreendedor deseja ter um retorno rápido do capital investido. Nesses casos, um indicador adequado para essa análise é o Tempo de Retorno do Capital (TRC), também conhecido como Payback. A determinação do TRC permite prever em quanto tempo o lucro líquido acumulado da empresa será equivalente ao total de capital investido no projeto. O TRC também apresenta limitações de aplicação, sendo melhor utilizado como um indicador auxiliar, após considerados o VPL ou a TIR.

1.1.4. Ponto de Equilíbrio

O Ponto de Equilíbrio(PE) indica qual a produção mínima necessária para que as receitas geradas cubram a soma dos custos do empreendimento no mesmo período. No caso de uma fábrica de laticínios, por exemplo, o ponto de equilíbrio indicaria qual ao percentual mínimo da linha de produção deveria ser ocupada continuamente para que a empresa cobrisse seus custos e não apresentasse prejuízos ao final do ano. Um valor baixo do ponto de equilíbrio representa uma maior flexibilidade da empresa em trabalhar com capacidade ociosa, o que é interessante em mercados em que a produção está sujeita a oscilações decorrentes de fatores externos.

1.2. A análise de sensibilidade

Para se chegar ao cálculo do fluxo de caixa, parte-se da premissa que, durante o horizonte de tempo previsto para a duração do projeto, os preços dos insumos não sofrerão variações, assim como os preços de venda dos produtos fabricados. A Análise de Sensibilidade estuda o impacto causado no cálculo dos indicadores econômicos de rentabilidade quando da variação, para mais e para menos, de algumas dessas variáveis. Uma variável é considerada “sensível” quando uma pequena variação em seu valor causa uma grande variação na rentabilidade do projeto. A identificação das variáveis “sensíveis” alerta o empreendedor para o fato de que o comportamento dos preços dessas variáveis pode comprometer a viabilidade do negócio.

1.3. Análise sob condições de risco e incerteza

Os dados que compõem o Investimento fixo, o capital de giro, os custos operacionais e as receitas, são estimativas de valores baseadas nos preços praticados no mercado. Embora esses valores sejam, presumivelmente, as melhores estimativas, nada garante que eles se manterão constantes, e nem mesmo a proporcionalidade entre eles, no decorrer do tempo. Na elaboração dos orçamentos para o cálculo do Investimento em obras civis, por exemplo, utiliza-se normalmente o preço médio do metro quadrado de construção, desconsiderando-se a possibilidade de sua variação, que poderia de fato ocorrer for força de influências externas imprevisíveis. Essa abordagem simplificada é denominada de Modelo Determinístico, a qual também resulta em indicadores econômicos invariáveis.

O Modelo Probabilístico por sua vez realiza essa mesma análise sob condições de risco e incerteza, considerando a probabiliadade de ocorreren variações nos valores envolvidos nos cálculos orçamentários. Embora essa análise demande uma simulação matemática de maior complexidade, ela permite uma avaliação mais abrangente e realista do projeto, apresentando os indicadores variando dentro de um intervalo de confiança. Assim, é possível prever, por exemplo, que o capital investido em uma empreendimento tem 80% de chance de apresentar uma TIR acima da TMA desejada, dentro de uma faixa de 5 e 15%, que representa a pior e a melhor situação esperada.

2 AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE PROJETOS: ESTUDO DE CASOS

2.1. Estudo comparativo de custos e viabilidade econômica da produção de doce de leite tradicional, light e diet

Este trabalho fez parte um estudo comparativo da viabilidade econômica de três projetos para a instalação de uma linha de produção de doce de leite, aplicável a uma unidade agroindustrial de pequeno porte, com capacidade de processamento de 3.000 litros diários. Esse volume de leite corresponde à produção de 1350kg/dia de doce de leite tradicional, 1440kg/dia de doce de leite light (58% a menos de gordura) e de 1215kg/dia de doce de leite diet (isento de açucar), conforme modelo operacional desenvolvido em estudos tecnológicos na planta piloto do Centro de Tecnologia de Laticínios (Tecnolat), do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), em Campinas-SP. Partiu-se da premissa que os produtos finais seriam envasados em potes de 450g e comercializados com base nessa unidade, utilizando-se um markup de 10% sobre seu custo unitário. Os preços definidos para a comercialização dos produtos no atacado tiveram como base o valor de venda médio de produtos similares encontrados no varejo, considerando um markup de 35% aplicado na revenda pelos distribuidores atacadistas.

A Tabela abaixo apresenta os resultados dos indicadores econômicos relativos aos projetos em estudo. Verifica-se que os valores mais atrativos do VPL, TIR, TRC e PE foram obtidos para o investimento na produção de Doce de Leite Light. Embora esse produto exija um investimento total maior e apresente maiores custos variáveis, decorrentes principalmente do valor de mercado dos substitutivos da gordura, a sua lucratividade é maior em decorrência do posicionamento no mercado com um mesmo markup que os demais em relação ao custo unitário.

Esse resultado, no entanto, precisa ser bem analisado dentro de uma perspectiva realista, considerando que um novo produto está competindo em um segmento já bastante explorado por outras marcas, que competem com níveis de preço diferenciados, dependendo da estratégia utilizada para a entrada, exploração, expansão ou consolidação do mercado.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora a análise econômica de investimentos seja apenas um estudo matemático, incapaz de resguardar o futuro de uma empresa de todos os riscos que envolvem o mercado, sua aplicação é importante para a tomada de decisão em questões envolvendo a aplicação de capital em projetos, as quais ocorrem continuamente durante a administração de negócios. Os indicadores econômicos apresentam limitações e pontos fortes que precisam ser considerados em cada caso particular pelo profissional analista, levando em conta as necessidades do gestor ou empreendedor.



 




Autor: Renato Abeilar Romeiro Gomes e Manuel Carmo Vieira

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