26/05/2014 às 13h00min - Atualizada em 26/05/2014 às 13h00min

Uso de leveduras vivas nas dietas de bovinos leiteiros

Com o crescimento da atividade leiteira no país, novas tecnologias foram introduzidas para maximizar a produção de leite e a rentabilidade na fazenda. 

De fato, a alimentação de vacas de alta demanda nutricional necessita de estratégias alimentares que manipulem a microflora ruminal, de modo a melhorar a eficiência digestiva. Uma dessas tecnologias consiste no uso de aditivos microbianos, leveduras ou cultura de leveduras.

Leveduras são organismos unicelulares eucariotos pertencentes ao reino dos fungos. Em outras palavras, são micro-organismos fermentadores ativos de carboidratos que se reproduzem por esporulação. A espécie de levedura mais utilizada na nutrição de ruminantes é a Saccharomyces cerevisiae. Atualmente existem mais de duas mil cepas registradas no Instituto Luis Pasteur (França). Essa levedura é comumente encontrada no ambiente ruminal, porém não possui capacidade de colonizar o trato digestivo devido a uma limitação do ambiente ruminal quanto à temperatura e à composição do fluido ruminal. Por isso, a ingestão diária de levedura torna-se necessária. Diante disso, várias empresas de nutrição animal incluem essa levedura em seus produtos de uso diário.

De maneira geral, os produtos comerciais que contêm leveduras são compostos de leveduras vivas e meio de cultivo que passam por um processo de desidratação com o objetivo de manter a capacidade fermentativa desses micro-organismos. Alguns produtos trabalham com o conceito de leveduras mortas. Seu mecanismo de ação envolve mecanismos não relacionados a processos metabólicos exercidos pelas leveduras vivas. Tais mecanismos não serão explorados neste artigo.

Os produtos disponíveis no mercado variam quanto a cepas específicas e o número variável de células vivas expressas por ufc/g (unidade formadora de colônia por grama). Um ponto muito importante a ser analisado pelos produtores e nutricionistas de vacas leiteiras diz respeito à escolha de produtos que contêm leveduras comprovadas experimentalmente, pois nem todas as espécies de Saccharomyces cerevisiae apresentam resultados positivos.

Nesse contexto, os principais mecanismos que justificam os ganhos positivos em produção animal quanto ao uso de leveduras não são totalmente esclarecidos, porém, pesquisadores e nutricionistas de vacas leiteiras apontam as alterações na fermentação ruminal como sendo a resposta mais plausível.  Newbold et al. (1998) relataram que a suplementação com produtos à base de S. cerevisiae aumentou a quantidade de bactérias ruminais e bactérias consumidoras de ácido lático (Selenomonas ruminantium e Megasphera elsdenii). Assim, é possível dizer que a estratégia de suplementação de vacas leiteiras com cepas vivas de S. cerevisiae pode interferir positivamente, acarretando o aumento do pH ruminal e o controle da acidose em animais alimentados com dieta rica em concentrados (BACH ET AL., 2007).

Outro mecanismo que pode justificar os ganhos em produção de leite com adição de levedura viva é o fato da levedura viva estimular o crescimento de bactérias que digerem celulose e hemicelulose como as Fibrobacter succinogens e Ruminococcus spp. Além disso, o aumento da digestibilidade da fibra no rúmen pode implicar em maior consumo de matéria orgânica e consequentemente aumentar a produção de leite (BITERCOURT ET AL., 2011). Desse modo, a adição de leveduras vivas para vacas que consumem dietas ricas em fibra pode ser uma estratégia muito promissora em aumentar a digestibilidade e consequentemente a produção de leite.

Quanto ao efeito da suplementação de leveduras vivas na produção de leite, encontramos na literatura respostas variadas, porém, de maneira geral, respostas indicam um aumento em torno de 3% a 7%. Robinson e Erasmus (2009) avaliaram 22 estudos com vacas leiteiras suplementadas com seis tipos de produtos comerciais à base de S. cerevisiae. Esses autores demonstraram um aumento na produção de leite em torno de 0,89 kg/dia nas vacas suplementadas com a levedura viva. Outro estudo envolvendo uma compilação de 32 experimentos com vacas em lactação suplementadas com leveduras vivas demonstrou um aumento médio de 0,93 kg/dia na produção de leite e um consumo de Matéria Seca (MS) de 250g/dia (RABIEE ET AL., 2008).

Recentemente o professor Marcos Neves Pereira e colaboradores realizaram um experimento utilizando 28 vacas holandesas (207 ± 87 dias de lactação) por dez semanas suplementadas ou não com levedura viva (10x1010ufc/g).

As vacas suplementadas com levedura aumentaram a produção de leite em 1,3kg/dia (P<0,01, média de produção 26 kg/dia/vaca) e o consumo de MS em 0,5 kg/dia (P<0,01, média de consumo de 19,25 kg de MS/dia/vaca) comparadas com as vacas não suplementadas (SALVATI ET AL., 2011). Os dados demostram que no que concerne à produção de leite os resultados positivos são consistentes, e a expectativa é que ocorra um aumento em torno de 0,9 a 1,2 kg/dia no volume produzido.

Outra função importante desempenhada pelas leveduras vivas e que tem aumentado o volume de pesquisas refere-se à capacidade de resposta imunológica. Em aves e suínos o uso de leveduras é bastante difundido por induzir à melhoria no sistema imune. As leveduras apresentam em sua composição compostos glucanas com capacidade imune-estimulante. Esses compostos, quando absorvidos pela corrente sanguínea, estimulam a migração de células do sistema imune para determinados locais de ação. Um exemplo seria a glândula mamária, fato que pode diminuir o número de CCS em vacas leiteiras.

Diante disso, o conceito de melhoria no sistema imunológico proporcionado pela suplementação de leveduras vivas tem sido aplicado na criação de bezerras leiteiras. O uso de algumas cepas de S. cerevisiae favorece um ambiente mais propício para o crescimento da flora digestiva e acelera o processo de mudança do epitélio ruminal, estimulando a transição da dieta líquida para a dieta sólida em menos tempo que o convencional.

Considerações finais

Um exemplo econômico feito por fornecedores e consultores considera os seguintes cálculos:

• – O custo da inclusão de levedura viva fica em torno de R$ 0,15 a R$ 0,20 vaca/dia (média R$ 0,17);

• – A estimativa de aumento de produção de leite está em torno de 0,9 a 1,2 kg/dia (média 1,0 kg/dia);

• – Considerando o custo do litro de leite como R$ 1,10, seria necessário apenas 0,170 ml de leite/dia/vaca para pagar o investimento da suplementação de levedura viva;

• – Desse modo, o retorno aproximado seria de R$ 0,90 por vaca/dia

O uso de leveduras é um investimento muito baixo se comparado com os resultados positivos encontrados nas pesquisas. O mercado disponibiliza numerosos produtos que contêm leveduras vivas. A escolha adequada de cepas e concentrações (ufc/g) pode resultar no sucesso dessa tecnologia implantada na fazenda.

*Vitor Augusto Silveira e Anderson Augusto Dipietro integram o Departamento Técnico de Nutrição de Ruminantes Vaccinar. 




Autor: Vitor Augusto Silveira e Anderson Augusto Dipietro

Referências bibliográficas: 

Fonte: Confinar 2014


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