26/09/2010 às 15h49min - Atualizada em 26/09/2010 às 15h49min

A água na produção do leite

    A água é um recursos mais importantes na atividade leiteira. Indispensável para o consumo humano e animal, sua qualidade deve ser verificada regularmente, e preservada. Esse cuidado é necessário também porque ele é intensamente utilizada no manejo animal e na limpeza de equipamentos.

            O professor Luiz Augusto do Amaral, da Faculdade de Ciências Agrária e Veterinárias da Unesp, Jaboticabal (SP), explica que são necessários vários cuidados para evitar o uso de água contaminada. Ela se caracteriza pela presença de microrganismos patogênicos, diretamente relacionados a agentes eliminados pelas fezes, urina e secreções de animais e seres humanos. A água contaminada pode transmitir doenças para as pessoas que trabalham na fazenda e para o gado e pode ter implicações, inclusive, como a ocorrência de mastite. Além disso, ela oferece riscos de contaminar equipamentos, comprometer a qualidade do leite e levar agentes causadores de doenças aos consumidores. Para o professor Amaral, o ideal seria que a água utilizada em toda a cadeia produtiva leiteira seguisse as mesmas características requeridas para o consumo humano, ou seja, fosse isenta de coliformes fecais em 100 ml da amostra e apresentasse um número máximo de 500 UFC/ml na contagem total de microrganismos. No Brasil, a Resolução Conama 357 de 17/03/2005, que define os parâmetros para a água de consumo animal, permite a presença de até 1.000 coliformes fecais para cada 100 ml de amostra. 

Como captar a água 

            A preocupação do produtor coma qualidade da água deve começar nas formas de captação. Muitas propriedades rurais usam poços rasos e nascentes. Principalmente os poços com menos de 20 metros de profundidade são bastante susceptíveis à contaminação por sujidades, microrganismos ou substâncias químicas. Para garantir a qualidade de água na origem, o professor da Unesp faz várias recomendações. No que se refere aos poços, por exemplo, é preciso construir paredes internas impermeabilizadas até, pelo menos, quatro metros de profundidade, além de uma calçada ao redor com um metro de largura. É necessário usar sempre tampas e ter um sistema que desvie as enxurradas da direção do poço. A medida evita contaminação por meio de água de escoamento. A parede do poço também precisa estar, no mínimo, 40 centímetros acima do solo.

            Quanto à localização, Amaral destaca que os poços devem ser construídos no ponto mais alto da fazenda, fora de áreas de enchentes e com, pelo menos, 30 metros de distância de fontes de poluição, como pocilga, estábulo e fossas.  Antes de serem utilizados pela primeira vez, os poços os poços precisam ser desinfetados. Recomenda-se fazer análise da água uma vez no período de chuva e uma vez no período de seca. O produtor deve produrar laboratórios, estações de tratamentos ou universidades que realizam o exame de potabilidade da água. Segundo Amaral, nestes locais, o produtor receberá todas as orientações sobre como coletar as amostras para análise. “Há laboratórios que vão até a fazenda fazer esse procedimento”, acrescenta. Os cuidados com as nascentes possuem o mesmo grau de importância. A água das nascentes pode ser límpida e pura. Porém, descuidados na hora da captação, muitas vezes, comprometem a sua qualidade. Segundo o professor, é indispensável cercar as nascentes para impedir o acesso de animais e proteger o ponto de saída da água com caixa de alvenaria. Recomenda-se ainda não construir fontes de poluição acima da nascente: fossas, pocilga e estábulos devem estar, no mínimo, a uma distância de 30 metros.

            Se o produtor receber indícios de contaminação, tanto da água captada das nascentes como dos poços, é necessário providenciar a desinfecção dos reservatórios. A forma mais comum é a aplicação de produtos à base de cloro. 

Principais cuidados 

             Para o professor Luiz Augusto do Amaral, estes são os principais pontos de atenção para garantir a qualidade de água utilizada na cadeia produtiva do leite: 

·            Fazer análise da água para confirmar sua potabilidade, pelo menos uma vez no período da chuva e uma vez no período da seca;

·            Conhecer a composição química da água;

·            Adotar medidas de prevenção para proteger da contaminação a água de poços e nascentes;

·            Fazer semestralmente a desinfecção do poço, reservatório e canalizações.

·            No caso de manancial contaminado, fazer a aplicação de produtos à base de cloro utilizando bombas dosadoras;

·            O ideal é que toda a água utilizada na propriedade rural seja desinfetada pelo cloro, que deixará a água sempre protegida da grande  maioria dos microrganismos patogênicos. 

Indispensável na limpeza 

            Além de ser usada na lavagem dos tetos e úbere em caso de necessidade, a água é o principal ingrediente para a limpeza e desinfecção dos equipamentos. Neste caso, os processos de higiene incluem a aplicação de detergentes e desinfetantes para eliminar possíveis bactérias. Independente do sistema de limpeza e do produto químico escolhido pelo produtor, a última etapa é sempre o enxágüe apenas com água. Assim, utilizar água contaminada nesse momento poderá prejudicar todo o trabalho anterior com a limpeza e desinfecção. Em conseqüência, afetará o leite e comprometerá a produção. 

            A água também precisa estar ajustada aos índices de dureza. Água dura caracteriza-se pelas altas concentrações de cálcio e magnésio e é expressa em mg/L de CaCO3 (carbonato de cálcio). Segundo o Regulamento de Inspeção Industrial e sanitária de Produtos de Origem Animal, de 1997, na água usada para limpeza de equipamentos de ordenha, o índice máximo é de 20 mg/L CaCO3.

            Essas substâncias alteram a atuação dos detergentes e interferem no resultado da limpeza. Além disso, o uso da água dura favorece a formação de filmes nas superfícies internas dos equipamentos, locais onde ocorre a adesão e a multiplicação de bactérias. Antes de aplicar produtos de limpeza, a recomendação é sempre conhecer a dureza da água para ajustar os detergentes e desinfetantes. O índice de dureza pode ser medido com a análise química da água da fazenda.  

            Evite a contaminação 

·          Não lance fezes e urina de pessoas e animais no solo ou na água sem tratar esses dejetos pelo uso de fossas, compostagem, biodigestão, esterqueira, lagoa de estabilização ou outros métodos.

·          Produtos químicos usados na produção animal e vegetal, como herbicidas e inseticidas, podem poluir a água. Descarte adequadamente os recipientes. 




Autor: Luiz Augusto do Amaral

Referências bibliográficas: 

Retirado da Revista Leite DPA número 57
O autor é professor da Faculdade de Ciências Agrária e Veterinárias da Unesp, Jaboticabal (SP).


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