Comer bem sem gastar muito. Em um país com grandes problemas sociais, essa equação ajuda a melhorar a qualidade de vida das famílias de baixa renda. O Governo Federal tem investido em ações que educam para o aproveitamento de alimentos regionais ? muitas vezes com potencial nutritivo pouco conhecido. Na hora da refeição, esses componentes podem dar um bom reforço no prato e matar a fome de muita gente.
O consumo dos alimentos deve estar vinculado às culturas regionais das famílias e populações. É o que acredita Anelise Rízzolo, gerente de Projetos da Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição (CGPAN) do Ministério da Saúde. ?A identidade cultural e religiosa de cada povo estabelece os alimentos consumidos, sendo eles nutritivos ou não?, explica. ?Na cultura indiana, por exemplo, a vaca é um animal sagrado e, por isso, o consumo da sua carne é proibido. A Política Nacional de Alimentação e Nutrição do Governo Federal respeita e considera os hábitos culturais do brasileiro, tendo como princípios a segurança alimentar e nutricional e o direito humano a alimentação adequada?, ressalta Anelise.
Com esse enfoque, a Coordenação produziu uma publicação chamada Alimentos Regionais Brasileiros. O livro estimula o consumo de alimentos locais, levando em conta aspectos como a higiene e o valor nutritivo. ?A publicação pretende resgatar e fomentar o consumo de alimentos saudáveis como frutas, legumes, verduras, grãos, cereais e sementes?, enumera Anelise. Ela observa que essas são fontes nutritivas típicas da flora brasileira e podem contribuir para a melhoria da alimentação da população.
Em Alimentos Regionais Brasileiros, o leitor tem acesso a informações sobre vegetais de alto poder nutritivo e que não são tão conhecidos nacionalmente. Dividida por regiões, a obra traz informações sobre frutas, verduras e legumes. O texto mostra as características desses vegetais, seu potencial nutritivo e ainda destaca receitas.
É o caso da palma, leguminosa encontrada no Nordeste, com mais vitamina A do que vegetais citados habitualmente, como o tomate e o chuchu. A palma já foi objeto de reportagens na grande mídia, não apenas por sua qualidade nutricional como pelo potencial econômico.
A publicação passeia pela vasta diversidade de frutas da região Nordeste, que inclui o cacau, o cajá, a graviola, a pitomba, o sapoti, o tamarindo e a fruta-pão. A culinária da região Norte também é destaque. Ensina-se, por exemplo, o preparo de um pudim de açaí. Do Centro-Oeste, o leitor conhecerá o abacaxi-do-cerrado, o coco-babão e o coco-cabeçudo.
Do Sudeste, comparecem receitas tradicionais, de alimentos como o saboroso queijo frescal e de dois pratos que fazem a alegria dos freqüentadores das festas juninas: o cural de milho verde e a pamonha. Quem não é da região Sul, aprenderá um pouco sobre hortaliças como o broto-de-bambu e a parreira.
Economia e saúde - O conhecimento sobre o valor nutricional pode facilitar a escolha ou a substituição de alimentos mais caros por outros mais baratos, de valor nutritivo semelhante. ?Para termos uma alimentação saudável é fundamentalmente necessária a garantia de acesso, a manutenção do sabor, o prazer do ato de alimentar-se e os custos acessíveis?, observa Anelise Rízzolo.
A Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde está produzindo uma nova publicação para estimular ainda mais o resgate dos alimentos regionais. Esse material baseia-se em receitas saudáveis e está sendo elaborado em parceria com as coordenações estaduais e municipais de Alimentação e Nutrição, Centros Colaboradores e Centros de Referência em Alimentação e Nutrição.
Além dos produtos regionais, temas dessas publicações do Ministério da Saúde, Anelise cita como fonte de reforço nutricional partes dos alimentos que não costumam ser aproveitadas: talos de hortaliças como couve ou brócolis, sementes de hortaliças como a abóbora e cascas de frutas como a laranja. Elas podem ser utilizadas em sucos, farofas, doces, bolos, chás e saladas.
?Em geral, desperdiçam-se esses pedaços por falta de informação ou por tabus alimentares e culturais?, diz Anelise. A Coordenação também desenvolve ações em parceria com o Programa Fome Zero, do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. A cooperação rendeu a publicação Guia da Família, que trata de orientação alimentar e cuidados com a seleção e manipulação dos alimentos, e a contribuição para os conteúdos de programas educativos relacionados à alimentação. O Ministério da Saúde tem ajudado ainda na implantação e na consolidação do Programa Bolsa Família.
O Bolsa Família é um programa de transferência de renda para famílias em situação de pobreza, aquelas com renda per capita de até R$ 100 mensais. O programa associa direitos sociais básicos (saúde, alimentação, educação e assistência social) à transferência do benefício financeiro. O Bolsa Família integrou vários programas de transferência de renda já existentes, entre eles o Bolsa Alimentação e o Bolsa Escola.
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