07/08/2008 às 08h59min - Atualizada em 07/08/2008 às 08h59min

Delivery: um negócio com potencial para crescer

Márcia Eskinazi

Até alguns anos atrás, quando se falava em delivery de refeições, logo vinha à mente a imagem da embalagem descartável de alumínio, a famosa ?quentinha? ou ?marmitex?. Não havia quase nenhuma outra opção para acondicionar os alimentos, mantendo temperatura, integridade física e sabor, da porta do estabelecimento até a casa do consumidor. Hoje, tanto operadores do mercado food service quanto fabricantes de embalagens vêm buscando embalagens para transportar as refeições completas, sanduíches, entre outros alimentos preparados fora de casa. O crescimento do mercado de delivery, entretanto, depende de questões mais amplas, que vão além da embalagem.

Diferencial para crescer

Quem não conhece aquelas bandejas - chamadas pelo consumidor de bandejas de isopor - usadas em supermercados e padarias para acomodar fatias de frios envolvidos com um filme plástico fininho? Até cinco anos atrás, a Meiwa, fabricante de embalagens para o food service, produzia apenas este tipo de embalagem para estes canais. Foi quando percebeu que era hora de se diferenciar no mercado.

Sem abandonar o EPS (poliestireno expandido), matereial que oferece muitas vantagens, segundo Ivam Michaltchuk, gerente de desenvolvimento de mercado da empresa, a empresa investiu em novidades para servir e transportar refeições. Enquanto a concorrência continuou a apostar no mercado de bandejas, a Meiwa redirecionou seu foco, diferenciou-se e cresceu, embora ainda produza a bandeja de embalamento.

?O EPS é um material 100% reciclável, isolante térmico, impermeável, anti-aderente (não absorve gordura), oferece resistência mecânica que permite empilhamento no transporte e mantém o alimento íntegro até a casa do consumidor,? defende Michaltchuk. Ele garante ainda que os modelos de embalagens feitos pela empresa são herméticos, não vazam, muitos possuem tampas articuladas e até cinco divisórias para não misturar os alimentos que compõem o prato.

A aposta no diferencial mexeu na composição do faturamento da empresa. ?Houve inversão do mix, antes 100% do faturamento vinha da venda de bandejas em EPS. Hoje, mais da metade provém do portfólio de embalagens para o mercado de food service, (incluindo o delivery)?.

Tendência de consumo

?Hoje, pouquíssimas pessoas almoçam em casa,? observa Michaltchuk. Não é de espantar o crescimento do food service, com a proliferação de restaurantes a quilo, fast-foods, cafeterias, etc. De olho nesse mercado, a Meiwa oferece embalagens em formatos e capacidade diferentes, cor diferenciada, configuração interna variada.

Segundo Michaltchuk, no segmento de restaurantes, os que estavam no alumínio já começaram a migrar para o EPS. Bom Grillê, São Paulo I e o Brazeiro, no bairro da Vila Mariana, em São Paulo, são exemplos. Dos cerca de 30 mil galetos/mês preparados pelo restaurante, 80% segue viagem para a casa do consumidor.

O Brazeiro é cliente da Meiwa desde 2002, quando decidiu trocar a embalagem que usava pela de EPS. A substituição, segundo Michaltchuk, resultou em economia e melhoria no atendimento. Ele conta que, no sistema anterior, o Brazeiro precisava colocar três funcionários para embalar o frango assado para viagem. A embalagem em EPS permitiu reduzir o número de funcionários na linha de embalamento e transformou as longas filas de espera, que se formava nos finais de semana, em coisa do passado.

Outro case da fabricante de embalagens, a rede de fast-food Bonaparte, tinha um problema histórico no delivery: definir um número reduzido de embalagens para atender um cardápio tão variado. Foi quando a rede optou pela solução oferecida pela Meiwa. ?Testamos todo o mix do cardápio e definimos dois modelos (um com divisórias e o outro sem) capazes de atender todo o cardápio da rede?. A novidade chega ao delivery da rede em 2006, devendo começar por Recife, onde fica a sede, expandindo gradativamente para os demais cidades onde está presente. Entusiasta, Michaltchuk adianta: ?Para 2006 vamos oferecer uma solução definitiva em embalagem para o delivery de pizza?.

Canais com potencial

Rotisseria do supermercado Extra oferece feijoada em embalagem desenvolvida especialmente para o transporte da refeiçãoNa opinião do diretor da consultoria ECD, Enzo Donna, especialista no mercado food service, o serviço de delivery para sanduíches é um dos que possui maior potencial de crescimento e mais precisa de embalagens para conquistar o consumidor. O uso de embalagens mais adequadas também ampliaria a demanda no delivery de rotisserias, acredita. Um exemplo é a aposta feita recentemente pelo Grupo Pão de Açúcar no serviço de rotisseria da bandeira Extra. Com o apoio da Klabin, fabricante de embalagem, eles desenvolveram o kit feijoada, uma embalagem inovadora, segundo o fabricante, feita em papelão ondulado.

A intenção foi eliminar os riscos de transporte ao se levar para casa uma feijoada completa. A novidade já está sendo comercializada em todas as lojas da rede de supermercados Extra. Uma das preocupações do projeto era a questão do uso de um material ecologicamente correto, o que foi plenamente atendido, já que o papelão é 100% reciclável, renovável e biodegradável.

Investimento alto

O presidente do comitê de design da Abre (Associação Brasileira de Embalagem), José Bento, também diretor da agência Mazz Design e Comunicação, observa que a grande questão da indústria de embalagem hoje, é como produzir embalagem com tiragem mínima. Ou seja: oferecer embalagens diferenciadas com baixo custo.

?O desenvolvimento de uma nova embalagem requer pesquisa, teste de materiais, etc. Precisa envolver toda a cadeia produtiva no processo?, destaca Bento. Ele exemplifica, explicando que ao produzir a embalagem para pizza, o fabricante otimiza a produção, pois a mesma embalagem atende diversos operadores do food service. Ele diz que se não houver diversas redes dispostas a absorver a produção destas embalagens para delivery, dificilmente o fabricante terá capacidade de investimento para fazer uma embalagem diferenciada para cada cliente.

?Não compensa à indústria de embalagem fazer este investimento em matrizes se a demanda for pequena?, concorda Donna. Michaltchuk, da Meiwa, conta que para desenvolver cada um dos itens que compõe hoje o portfólio de mais de 40 embalagens exclusivas para o food service, a Meiwa vai a campo, conversa com seus clientes para saber o que precisam. ?Não criamos embalagens que atendam apenas um cliente específico. Desenvolvemos aquelas que poderão atender as necessidades do mercado?, explica. Se a necessidade detectada por um cliente pode atender a mais operadores do mercado, o projeto é aprovado. ?O molde é muito caro?, faz coro.

Ferramenta para comunicar

Donna defende a idéia de que os operadores devem aproveitar a embalagem para delivery como mídia, o que provocaria uma movimentação na cadeia produtiva, estimulando os fabricantes de embalagens a investirem em novidades neste setor.

Segundo ele, os operadores ainda não perceberam que a embalagem no delivery é ferramenta para comunicar marcas. ?O que vemos é apenas o nome da pizzaria na embalagem. O espaço poderia ser aproveitado para anunciar a marca de fornecedores da indústria de alimentos, por exemplo. Para o fornecedor, Donna destaca: ?Esta é umas das poucas armas para os fornecedores do food service divulgarem suas marcas.?

Vanguardista, a Mazz Design desenvolveu esta idéia há cerca de sete anos, quando criou a embalagem para sanduíche do lanche de bordo da Varig. ?Era uma caixinha que vinha com um sanduíche, servida na ponte aérea Rio-São Paulo. Quando o passageiro abria a caixinha, encontrava uma propaganda da Nestlé estampada na parte interna?, conta Bento, da Mazz Design.

Fidelizar consumidores no delivery, enviando uma toalha de mesa descartável com marcas gravadas ou um jogo de guardanapos especiais, são algumas idéias. ?Será que não haveria um patrocinador interessado??, questiona Donna. 

Bento diz que as pessoas estão buscando produtos que ?conversem? com elas e acrescenta: ?O mercado de delivery oferece esta possibilidade, pois o consumidor interage com a embalagem durante 15 min, 20 min, enquanto faz a sua refeição?. Mas para a empresa anunciar, precisa saber com quantas pessoas e com quem está falando, com que freqüência, faixa etária, classe social. ?O setor precisa coletar informações para transformar em potencial de venda?, lembra Bento.

Uma questão de negócio

A embalagem é apenas um dos obstáculos para o desenvolvimento do delivery no Brasil, que passa pela questão da gestão do negócio. Segundo Donna, ninguém pesquisa o potencial deste mercado. ?Há demanda reprimida,? aponta.

Ele destaca que no mar de operadores de fast-food brasileiro, o China in Box é um dos poucos que encara o delivery como um business. Segundo Donna, falta gestão profissional no delivery. O consultor se baseia nas informações colhidas em pesquisa feita pela ECD, consultoria que dirige. ?Através da pesquisa, feita com mais de 70 redes, detectamos que ninguém faz acompanhamento de cadastro de clientes. Possuem posição passiva; não fazem uma ligação telefônica pró-ativa. O delivery precisa ser encarado como negócio?, dispara Donna.

O presidente do comitê de design da Abre compartilha da opinião. ?Este é um mercado cheio de possibilidades, mas ainda pouco explorado. O custo é alto e, por isso, são poucas as novidades,? aponta.

Fórum de discussões - A iniciativa do Grupo Pão de Açúcar, entre outras, são, segundo Bento, passos importantes. ?Vejo para esse mercado um momento de evolução. O consumidor, por uma questão de falta de tempo, comodidade e praticidade está comprando mais pratos prontos, usando mais o delivery. Precisamos levar esta questão para todos, em fóruns de discussões, pois todos têm a ganhar?, finaliza Bento.

www.fispal.com


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