29/01/2023 às 12h07min - Atualizada em 29/01/2023 às 12h07min

Produção de leite vira alternativa de renda para famílias assentadas

As áreas de reforma agrária no sul do Espírito Santo tornaram-se espaço interessante para a produção de leite. A exploração da cadeia tornou-se fonte alternativa à renda do café, principal atividade econômica capixaba. Três famílias de assentamentos distintos mostram a força do leite por sua capacidade de gerar renda. Segundo o superintendente regional do Incra, Fabrício Fardin, a atividade leiteira eleva a capacidade produtiva dos assentamentos e o amadurecimento das famílias que escolheram a cadeia por apresentar uma série de possibilidades na gestão do lote. “As famílias que trabalham com a pecuária de leite podem agregar valor ao produto ao elaborarem queijos e derivados, utilizar seus subprodutos para alimentar os animais, além da renda obtida, por exemplo, com a comercialização dos bezerros, que pode ser revertida a melhorias em outras áreas de produção”, afirma.

                                                                                                     Família Trevizani

 
soro de leite

soro de leite

Foto: Pixabay

Odair José (48 anos) e Solange Aparecida (44 anos) alcançaram bons resultados com a produção de café, leite e milho no assentamento Travessia. No lote da família Trevizani, três gerações residem juntas e duas delas buscam dias melhores: pai, mãe, filhos e nora integram a força de trabalho, fazendo diferença quando o tema é a produtividade obtida na propriedade.

A história da família iniciou em 2003, ano de criação no assentamento, localizado no município de Nova Venécia, com a aquisição de três vacas com recursos próprios. Em 2006, Odair Trevizani acessou o Pronaf A e comprou outras seis vacas, no valor de R$ 16 mil, cujo empréstimo foi quitado em 2012. No ano seguinte, acessou financiamento do Pronaf Mais Alimentos para novos investimentos no lote, no valor de R$ 42 mil, quitado em 2020.

A liberação do Fomento Mulher (R$ 5 mil), também em 2020, contribuiu com a potencialização produtiva da parcela. Hoje o plantel possui 28 vacas, das quais 16 em lactação, dois touros e 30 bezerros. Somente em 2021, a comercialização de 25 bezerros rendeu cerca de R$ 38 mil. E, em agosto deste ano, os mais de 4,8 mil litros de leite entregues a um laticínio da região gerou renda de quase R$ 17 mil.

Em maio de 2022, a família investiu mais de R$ 100 mil na reforma da cultura do café, com aquisição de 15 mil novas mudas e sistema de energia e irrigação, além de uma máquina forrageira nova. A ordenhadeira, no valor de R$ 12 mil, foi adquirida a partir de recursos obtidos com a venda de bezerros. Já os dois hectares de milho fornecem silagem aos animais por um bom período, resultando em economia de R$ 30 mil com suplementação alimentar.

A produção do lote melhorou a qualidade de vida da família Trevizani. Eles possuem hoje uma boa casa, construída e reformada com recursos disponibilizados pelo Incra, respectivamente, em 2004 (R$ 5 mil) e em 2011 (R$ 8 mil). Recentemente fizeram nova reforma com recursos próprios. Além disso, construíram casas para os pais dele e para o casal José Pedro e Naira Denone Boa Trevizani, filho e nora de Odair José e Solange Aparecida. No pátio ainda estão estacionados quatro veículos de uso familiar: duas motos, um carro de passeio e uma caminhonete.

Produção diversificada

Localizado no município de Ecoporanga, o assentamento Novo Sonho foi criado em 2012, com capacidade para 40 famílias, distribuídas em uma área de 745,7 hectares. Entre os beneficiários da área de reforma agrária está o casal Leidimar Gonçalves Barbosa (50 anos) e Joaquim Antônio da Silva (40 anos). Eles chegaram na fundação do projeto e aos poucos acrescentaram diversos itens ao rol de produção, como mandioca, utilizada para consumo da família e dos animais (porcos e galinhas), ou do feijão irrigado, cujo excedente gera aproximadamente de R$ 800,00 anualmente.

Segundo Antônio, a principal fonte de renda na propriedade é a atividade leiteira. A primeira vaca chegou no sítio a partir de doação de um parente no exterior. Com o tempo o plantel foi aumentado e hoje são 17 animais: sete vacas, duas novilhas e oito bezerros. O acréscimo ocorreu muito em função dos créditos acessados, caso do Fomento em 2018 (R$ 6,4 mil) e do Fomento Mulher em 2022 (R$ 5 mil).

Da mesma forma, a dinâmica de trabalho mudou com o passar dos anos: se antes a produção diária era acondicionada em um resfriador localizado fora do assentamento, hoje é feita no resfriador instalado no local. Embora poucas vacas estejam em período de lactação atualmente, o casal obtém com a atividade uma renda mensal líquida de cerca de R$ 900,00.

A renda é completada com a comercialização de ovos das galinhas (cerca de R$ 100 por mês) e de leitões criados no sítio. Em 2021, os 20 leitões vendidos geraram cerca de R$ 2,5 mil. De acordo com Antônio, os planos para os próximos anos incluem o aumento da pastagem, com o objetivo de potencializar a forragem oferecida aos animais, e a aquisição de uma máquina de silagem.

                                                                                                     Café, leite e pimenta

café

café

Foto: Acervo Seagri – Heckel Junior

Também em Ecoporanga, no assentamento Boa Vista – criado em 2004 – algumas famílias conciliam as cadeias do café e do leite. José Ivaninho Almeida da Silva e Fátima Aparecida Vieira da Silva Alves optaram por trabalhar nas duas atividades produtivas e se sentem confortáveis em dividir as tarefas do lote.

Sobretudo pelo protagonismo feminino na condução do gado de leite. Beneficiários da reforma agrária desde 2005, já percorreram uma longa caminhada até receberem o Título de Domínio em setembro de 2022, fato que deixou o casal satisfeito pela conquista. Para Fátima, com o título eles não desejam ir embora do assentamento, pois por conta do trabalho, estão trazendo os pais e construindo uma casa para eles, comenta.

Em 2010, iniciaram a atividade com gado de leite ao adquirirem as primeiras vacas. Na mesma época, a partir do acesso ao financiamento do Pronaf A, no valor de R$ 19.750,00, plantaram 3.475 pés de café na parcela. Em 2012, acessaram crédito do Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes), via Pronaf Mais Alimentos, no valor de R$ 45 mil, e investiram no sistema de irrigação do pasto, em seis novas vacas e no plantio de 4,7 mil pés de café. Hoje já são nove vacas e um touro, fornecendo em média 95 litros/dia a um laticínio da região. Em agosto deste ano foram entregues quase 2,7 mil litros de leite e uma renda de mais de R$ 8,4 mil. 

Em relação ao café, atualmente são cerca de seis mil pés, com uma safra de 80 sacas do produto pilado (beneficiado) em 2022, estocada à espera de melhor preço (na cotação atual, caso fosse comercializada, corresponderia a R$ 58,4 mil).

Além disso, outras fontes de renda também estão sendo inseridas pensando no futuro da família: caso do plantio de 1,1 mil covas de pimenta-do-reino (ocorrido em agosto de 2021 e que começa a dar frutos, com planos para cultivar outras 2 mil mudas) e da apicultura, com seis caixas de abelhas, que só este ano rendeu cerca de R$ 1.250,00.
Fonte: Canal Rural


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