30/01/2023 às 08h54min - Atualizada em 30/01/2023 às 08h54min

Associação projeta retomada do consumo interno de leite

Um dos mais importantes setores da agroindústria mundial acumula desafios cada vez maiores para manter os produtores na atividade. A cadeia de laticínios enfrenta desde 2020 a maior inflação do agro, com aumento no valor das commodities exportáveis, taxa de câmbio, energia elétrica e combustíveis, o que elevou bastante os custos de produção.

Em entrevista ao Jornal O Presente Rural, o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), Geraldo Borges, enfatiza que estes fatores fizeram, principalmente de 2021, um ano muito desafiador, com cinco trimestres consecutivos de queda inédita na produção. “Em 2022 esse cenário melhorou com o ajuste dos preços, porém os custos ainda subiram em torno de 15%, especialmente por conta dos fertilizantes”, expõe Borges, ampliando: “Nos últimos dois anos muitos produtores saíram do negócio, porém a produção se manteve relativamente estável. Isso mostra que a produtividade e a escala das fazendas vêm aumentando”.

Segundo ele, para esse ano existe um novo patamar de oferta e procura. “No fim do ano passado já existia uma pressão baixista nos preços, mostrando que o mercado está abastecido, porém o consumo continua deprimido pela baixa renda da população”, avalia, complementando: “Também fomos afetados por volumes recordes de lácteos importados, o que ajudou a deprimir os preços”.

A queda na taxa de desemprego, em torno de 8,9% no terceiro trimestre do ano passado, apontou para uma melhoria na recuperação da economia brasileira. Com maior ganho de poder aquisitivo, Borges vislumbra melhores margens de lucro aos produtores. “Esperamos ganho de renda em 2023 em virtude da queda na taxa de desemprego”, menciona. De acordo com o presidente da Abraleite, o setor deve se manter equilibrado ao longo de 2023, sem grandes incentivos de preços. “A pressão dependerá da taxa de câmbio, se o dólar cair vamos enfrentar importações deletérias ao segmento do leite, tirando ainda mais produtores da atividade”, afirma.

Presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), Geraldo Borges: “Nosso consumo vinha crescendo 5% ao ano até 2014, mas a crise econômica brasileira desencadeada por uma série de choques de oferta e demanda fez com que o consumo e a produção estacionassem” – Divulgação/Abraleite

Com projeção de queda de 7% no consumo de lácteos no Brasil, o recuo no mercado interno do produto se manteve estável, igual ao ano anterior. O ano de 2022 fecha com média de consumo de 170 litros per capita. “Esperamos uma nova onda de crescimento a partir da retomada do consumo, com maior renda da população. Nosso consumo de leite fluído é alto, comparável a países desenvolvidos, mas precisamos crescer em produtos de valor agregado, como queijos e iogurtes”, frisa Borges.

O presidente da Abraleite diz que o leite custa em dólares, mas é vendido no mercado doméstico em reais, essa desvalorização causa grande impacto aos produtores na venda e aos consumidores nas gôndolas dos supermercados. “Nosso consumo vinha crescendo 5% ao ano até 2014, mas a crise econômica brasileira desencadeada por uma série de choques de oferta e demanda fez com que o consumo e a produção estacionassem”, lembra Borges.

Entre os maiores produtores
O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de leite, com mais de 35 bilhões de litros produzidos por ano. A atividade está presente em 98% dos municípios brasileiros, tendo a predominância de pequenas e médias propriedades, empregando perto de quatro milhões de pessoas. O país conta com mais de um milhão de propriedades produtoras de leite.
Diante de um cenário de elevação dos custos de produção, a Secretaria de Política Agrícola estima que até 2030 devem permanecer na atividade apenas os produtores mais eficientes, que se adaptarem à nova realidade de adoção de tecnologia, melhorias na gestão e maior eficiência técnica e econômica.

Preço pago ao produtor
Conforme estimativas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP), o leite pago ao produtor deve encerrar 2022 em desvalorização, ainda que em menor intensidade. O preço do leite captado em setembro e pago aos produtores em outubro foi de R$ 2,8481/litro na Média Brasil líquida, recuo de 6,5% em comparação ao mês anterior, se configurando na segunda queda consecutiva no campo, mas o valor ainda ficou 15,5% superior ao registrado em outubro do ano passado, em termos reais.

Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Demanda desaquecida
A demanda por derivados lácteos também desaqueceu na reta final do ano passado. Conforme o levantamento do Cepea-Esalq/USP, os preços dos derivados lácteos seguiram em queda em outubro, sobretudo devido ao enfraquecimento da demanda, entretanto, houve aumento na disponibilidade de matéria-prima no campo, elevando a captação na indústria e reduzindo os custos com a produção de lácteos. “Apesar dessa recuperação na oferta de leite, a pressão sobre as cotações vem do consumo retraído na ponta final da cadeia”, aponta no boletim de novembro.

Importação
Após cinco meses de altas consecutivas nos volumes de lácteos importados, em outubro, o total adquirido pelo Brasil recuou 15,4% frente ao mês anterior, com volume somando 172,3 milhões de litros em equivalente leite, segundo dados da Secex. Ainda assim, a quantidade internalizada de lácteos em outubro permaneceu em patamar bastante elevado, estando 80,8% acima da quantidade importada no mesmo mês do ano anterior.

Custo Operacional
Em relação ao Custo Operacional Efetivo (COE) da pecuária leiteira houve um ligeiro recuo de 0,08% em outubro na Média Brasil, que considera as variações nos estados da Bahia, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, sendo que este foi quarto mês consecutivo de baixa. Ainda assim, no acumulado de 2022, o COE acumula avanço de 3,04%.

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Fonte: O Presente Rural

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