07/01/2023 às 16h19min - Atualizada em 07/01/2023 às 16h19min

Patrimônio Imaterial: Queijo Minas Artesanal busca chancela mundial

Considerado um dos símbolos da identidade mineira, o Queijo Minas Artesanal (QMA) já conquistou fama e reconhecimento nacional e, agora, ruma ao sucesso global ao se candidatar ao título de Patrimônio Imaterial da Humanidade, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

O primeiro passo é uma missão oficial, entre os dias 27 de novembro e 2 de dezembro, a Rabat, no Marrocos, durante evento do Comitê Intergovernamental da Unesco. Integram a delegação mineira representantes da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), da Associação Mineira de Produtores de Queijo Artesanal (Amiqueijo), do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG), e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

A candidatura do QMA foi lançada, em Minas Gerais, no dia 24 de setembro, durante a quarta edição do Festival do Queijo Minas Artesanal, em Belo Horizonte. A entrega oficial à Unesco deve acontecer em março do ano que vem. A partir disso, acontece um criterioso processo de análise de um dossiê preparado pelos candidatos, além de informações complementares que se façam necessárias e visitas técnicas. A expectativa é que o processo termine em 2024, mas sem uma data predefinida.

De acordo com o superintendente de Abastecimento e Cooperativismo da Seapa MG, Gilson Sales, a expectativa para esse primeiro contato oficial com a Unesco e para a candidatura ao título são as melhores possíveis.“Estamos indo em uma missão internacional em que vamos dialogar com a Unesco, antes mesmo da candidatura oficial, para falar do QMA. Isso significa que existe uma abertura, uma sensibilidade para a nossa candidatura. Esse é um trabalho de sensibilização e mobilização junto aos formadores de opinião e a quem tem direito de voto para mostrar como o nosso queijo tem merecimento para se tornar patrimônio da humanidade”, explica Sales.

Valor histórico

O processo de reconhecimento do valor histórico do modo produtivo do queijo em Minas começou há bastante tempo com o esforço conjunto de produtores e governo local. O “Modo de Fazer o Queijo Artesanal” foi reconhecido primeiramente na região do Serro, em 2002, pelo Iepha, sendo o primeiro bem cultural a ser registrado como patrimônio imaterial no Brasil. Em 2008, o “Modo de Fazer do Queijo Minas Artesanal” foi reconhecido nacionalmente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), contemplando as regiões do Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre/Alto Paranaíba.

De acordo com a Lei Estadual nº 23.157, de 18/12/2018, é considerado Queijo Minas Artesanal o queijo confeccionado conforme a tradição histórica e cultural da região do Estado onde for produzido, “a partir do leite integral de vaca fresco e cru, retirado e beneficiado na propriedade de origem, que apresente consistência firme, cor e sabor próprios, massa uniforme, isenta de corantes e conservantes, com ou sem olhaduras mecânicas”.

Durante o evento no país africano será realizada uma apresentação do modo de fazer queijo em Minas e das regiões produtoras reconhecidas. Além disso, será promovida uma degustação dos produtos e visitas técnicas a produtores artesanais de queijo marroquino e cooperativas para troca de experiências.

“Saímos do Brasil com 120 quilos com a devida autorização das autoridades sanitárias para o evento, em um trabalho articulado pela Seapa e a Secult. Essa candidatura lança um olhar do Brasil e do mundo para o QMA. Uma missão como essa é notícia mundial. Há possibilidade de ter uma mídia espontânea que vai gerar curiosidade nas pessoas. Esse evento traz, ainda, uma reafirmação de uma propriedade cultural mineira. É a preservação de uma cultura secular. E, por fim, teremos diversos mercados abertos para produtos brasileiros. Podemos trabalhar regionalmente, com a América do Sul e depois com o mundo todo. Isso sem esquecer que, primeiro, temos que pensar no mercado interno que ainda tem muito a ser estendido”, pontua o superintendente.

De acordo com dados da Seapa, existem hoje cerca de 30 mil produtores de queijos em Minas Gerais e, desse total, aproximadamente 9 mil são produtores de Queijo Minas Artesanal, com produção aproximada de 40 mil toneladas anuais. Além disso, 112 queijarias estão registradas no Instituto Mineiro de Agropecuária com o Selo Arte, o que permite a comercialização dos queijos em todo o território nacional.

Festival do Queijo Minas Artesanal é vitrine e leva mais conhecimento aos produtores | Crédito: Divulgação

Trajetória do Queijo Minas Artesanal

São dez as principais regiões onde o QMA é produzido, onde o Modo de Fazer, o clima, o território e a biodiversidade de cada região conferem sabores e qualidades singulares incorporando nuances e características locais: Araxá, Campo das Vertentes, Serras do Ibitipoca, Triângulo de Minas, Diamantina e Entre Serras da Piedade e do Caraça, além da Canastra, Serra do Salitre/Alto Paranaíba e do Serro. O resultado é uma diversidade de cores, texturas e sabores que vêm conquistando os mais exigentes paladares amadores e profissionais.

Para o presidente da Amiqueijo, João Carlos Leite, essa é uma oportunidade de abrir mercado não só para o Queijo Minas Artesanal, mas também para outros produtos mineiros artesanais de excelência, como café, azeite, cerveja, cachaça e vinho, entre outros.

“Isso vai dar visibilidade aos nossos queijos, agregando valor. Ganhar esse título da Unesco seria excepcional. A expectativa é um aumento da demanda e, assim, a rentabilidade para os produtores. É também construir um legado, fazer nossos filhos desejarem continuar essa cultura. Impacta o turismo local e valoriza a identidade, a cultura e a gastronomia mineira. Além de abrir mercados para os queijos, vai atrair visitantes que vão conhecer esta cultura e  outros produtos mineiros. Pessoas viajam o mundo atrás de vinhos, azeites, cafés, por exemplo, e temos tudo isso aqui. Vamos, agora, começar a criação de suínos alimentados pelo soro que sobra da fabricação do queijo e, em breve, vamos oferecer aos visitantes produtos de charcutaria”, anuncia Leite.

O caminho para o reconhecimento foi longo, desde 2002, quando o Modo de Fazer do Queijo Minas Artesanal foi reconhecido na região do Serro pelo Iepha/MG, sendo o primeiro bem cultural registrado por Minas Gerais como patrimônio imaterial. De lá pra cá foram vários passos até que em 2022, seis queijos mineiros conquistassem medalhas no World Cheese Awards, importante concurso europeu que aconteceu desta vez no País de Gales. E, em 2021, os produtores mineiros conquistaram 40 medalhas no concurso internacional Mondial du Fromage et des Produits Laitiers, realizado na França.

“Em 1950, a Lei 1.283 qualificou a produção agroindustrial e deixou de fora o agroartesanal. Então, a cultura queijeira de leite cru, que  é milenar e que começou no Brasil em 1581, foi jogada na clandestinidade. Só nos anos 2000 foi criado um programa para qualificar o queijo de leite cru e Minas passou a ter um arcabouço jurídico que permitisse a produção. Em 2015 fizemos a lendária viagem para a França e ganhamos a primeira medalha no concurso internacional Mondial du Fromage et des Produits Laitiers. Em 2018, a Lei do Selo Art legalizou a produção artesanal de produtos de origem animal. Cada passo desse foi muito comemorado e deu ânimo aos produtores. Este ano, o The Taste Atlas (site norte-americano especializado) avaliou os 50 melhores queijos artesanais do mundo e o Canastra foi o escolhido. Isso tudo é notoriedade. Os turistas agora vêm pra cá, a mídia veio. Quem vai ganhar com tudo isso é o Estado. Isso mostra a maturidade de organização do povo mineiro”, avalia o presidente da Amiqueijo.

Fonte: Diário do Comércio


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