22/04/2023 às 12h06min - Atualizada em 22/04/2023 às 12h06min

Seab vai realizar um diagnóstico da cadeia do leite no Paraná

A ideia é criar um protocolo para melhorar a produção leiteira do Estado e manter os produtores no campo; assunto foi um dos temas do Seminário da Produção Sustentável de Leite realizado na ExpoLondrina.

Andreia de Paula Vieira
Minuto Rural
Lunartty Souta

O Recinto Horácio Sabino Coimbra ficou lotado de produtores que assistiram ao Seminário da Produção Sustentável de Leite, promovido pelo Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) dentro da programação técnica da ExpoLondrina 2023. 

Foram quatro palestras que trataram do uso de alimentos energéticos alternativos ao milho, bem-estar em bovinos leiteiros, o futuro da produção leiteira familiar e as vantagens e desvantagens do uso de sêmen sexado e embriões no gado leiteiro. A pecuária de leite conta ainda com uma unidade demonstrativa na Smart Farm Via Rural.

O seminário foi realizado em parceria com a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Universidade Estadual de Londrina, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab), Centrais de Abastecimento do Paraná (Ceasa) e Sociedade Rural do Paraná.

O secretário estadual da Agricultura, Norberto Ortigara, lembrou que o Sul do Brasil já produz mais leite que Argentina e Uruguai juntos. “Novas empresas estão se instalando no Paraná, inclusive uma importante produtora de muçarela. Então, é muito importante entender as dificuldades do pequeno produtor e trazer alternativas para que ele continue evoluindo.” 

Por conta dos poucos dados que existem sobre o setor, a Secretaria Estadual de Agricultura decidiu realizar um levantamento para mapear os produtores e realizar um diagnóstico da cadeia do leite no Paraná. Pelo menos 80 extensionistas vão aplicar um questionário em 1.517 propriedades. 

“Hoje, de todos os produtores de leite do Estado, apenas 30% têm renda exclusiva do leite. Temos muita produção, os últimos dados mostram cerca de 57 mil estabelecimentos agropecuários que venderam leite de vaca no Paraná, mas poucos vivem exclusivamente da atividade leiteira”, declarou o veterinário, que apresentou os diversos programas de extensão de pecuária leiteira ofertados pela Seab hoje aos produtores paranaenses.

“Vamos levantar o número de produtores em 21 municípios espalhados por todo o Estado e entender como eles contribuem para a produtividade leiteira do Paraná”, disse Piovezan, explicando que a partir deste levantamento, a Seab vai elaborar uma proposta de assistência técnica para o produtor de leite do Paraná.

“Vamos formar grupos de produtores em diferentes regiões que, com o auxílio dos técnicos, vão discutir os problemas e pensar soluções específicas para cada região. A partir desses resultados, será criado um protocolo que servirá de referência aos produtores”, detalhou o veterinário.

Para ele, o “produtor precisa ter um plano de ação, dentro de um sistema de gestão, que vai mostrar o compromisso dele em mudar a realidade da propriedade e permanecer na atividade”.

Alimentos energéticos que são alternativas ao milho

O técnico do IDR-Paraná Vanderlei Belt comentou sobre o uso de substitutos energéticos no lugar do milho na alimentação de vacas leiteiras. Ele elencou algumas alternativas que contém matéria seca com índices de minerais, proteínas, gorduras e fibras suficientes quando comparados ao alimento concentrado padrão.

Segundo Belt, de 40% a 60% do custo operacional da atividade leiteira está relacionado à alimentação. Por isso, é importante que o produtor tenha alternativas para equilibrar gastos quando o preço do milho está em alta.

Entre os alimentos volumosos mais usados pelos produtores de leite estão as pastagens perenes, as forragens conservadas, que incluem a silagem de milho e sorgo, e a silagem in natura, representada pela cana-de-açúcar e o capiaçu.

Por conta da produção estacional das forrageiras, Belt citou a necessidade de complementar a alimentação bovina. Isso é feito, normalmente, com alimento concentrado padrão, que pode ser proteico, com farelo de soja, e energético, com milho. “Mas é possível usar alimentos substitutos, desde que com avaliação técnica para decidir qual é o melhor para o sistema produtivo da propriedade”, alertou.

Para decidir pelo uso do alimento energético alternativo, o produtor deve levar em consideração algumas variáveis, como preço, se é livre de patógenos ou princípios ativos tóxicos, se é bem aceito pelo animal, se tem disponibilidade no mercado próximo e por período longo e se é de fácil manejo e utilização.

Entre as opções, Belt elencou: silagem de grãos de milho reidratados, que oferece 50% da matéria seca total da dieta das vacas leiteiras; silagem de grão de sorgo reidratado (30%), triguilho, que é um coproduto do trigo (40%); farelo de trigo (25%); polpa cítrica peletizada (30%); centeio (40%); cevada (40%) e aveia (10% a 40%, dependendo do teor de amido da dieta total da vaca).

Respeitadas as variáveis, para vacas de baixa produção de leite, é possível substituir o milho pelo alimento alternativo na mesma proporção. Já para vacas muito produtivas, o ideal é usar apenas o alimento concentrado padrão.

“Como o sistema de produção de leite é uma atividade de alta complexidade, o produtor sozinho não dá conta, por isso ele precisa buscar ajuda técnica da extensão rural, que é especializada na atividade, e oferece um serviço sistêmico, multidisciplinar, periódico e continuado”, sugeriu o técnico do IDR-Paraná.

Para ele, para ter sucesso na produção de leite o produtor deve sempre “observar as vacas, monitorar o consumo de alimento, anotar as informações e corrigir problemas de maneira rápida”.

“É importante lembrar que cabe muita comida no rúmen. Uma novilha, por exemplo, tem que dar 20 mil bocados para encher o rúmen, então o criador tem que saber produzir capim e saber que uma comida de boa qualidade esvazia mais rápido o rúmen, fazendo com o gado coma mais, promovendo mais eficiência”, alertou Vanderlei Belt.

Bem-estar no manejo de bezerras melhora produção de leite

A médica veterinária Andreia de Paula Vieira mostrou como as boas práticas no manejo de bezerras contribui para o bem-estar animal, que o consumidor tanto preza.

“Mais do que nunca o produtor tem que mostrar para a sociedade como é feito o trabalho em campo, já que é ele quem cuida da relação entre homem e animal todo dia”, comentou a veterinária.

Para ela, o Brasil é o único país no mundo que consegue entregar qualidade e bem-estar na produção animal, principalmente com a adoção de práticas sustentáveis, como o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta, que pode, inclusive, colocar o país na liderança da produção mundial de carne.

Mas como medir o bem-estar da vaca no sistema de produção leiteira? A partir de três princípios: vida natural, que leva em conta restrição de comportamentos e o ambiente, boa saúde e funcionamento, que discorre sobre doenças e produtividade, e estados afetivos, que englobam fome, sede, dor, desconforto, medo e preferências do animal.

De acordo com a pesquisa dela, bovinos criados em pasto bem manejado e com sombra e bem cuidados antes de serem transportados para o abate preenchem os requisitos de bem-estar com saúde básica, estado afetivo e vida natural. 

Ela citou algumas práticas de criação que melhoram o bem-estar de bezerras: imunidade colostral, alimentação, criação em grupos e mochação. “É muito importante fornecer colostro dentro das seis primeiras horas de vida da bezerra, mas o ideal é três horas, para maximizar a absorção de nutrientes. Também é essencial fornecer apenas colostro de alta qualidade”, ensinou Andreia.

Segundo ela, o aleitamento natural – feito de cinco a dez vezes por dia, com duração de cinco a dez minutos, com um volume de 10 quilos de leite por dia – também é muito mais eficiente para a produção leiteira futura desta bezerra. “O desaleitamento também deve ser gradual, reduzindo progressivamente o volume ou a concentração do leite fornecido.”

Andreia recomendou, ainda, a criação de bezerras em grupos de seis a nove animais. “Em grupo, a incidência de doenças respiratórias é 40% menor e o ganho de peso diário é maior. Os efeitos do ambiente social na reatividade das bezerras estão na melhora do desaleitamento, reagrupamento, exposição a bezerras desconhecidas e exposição a novos ambientes.”

Ainda conforme a pesquisadora, o pareamento aumenta a ingestão de alimentos concentrados antes do desaleitamento, reduz o número de vocalizações ao desaleitamento e melhora o acesso ao alimento e a performance durante o reagrupamento. 

A pesquisa mostrou que existe vínculo do animal mais jovem com o animal mais velho, por isso a bezerra só deve ser apartada da mãe pelo menos 24 horas após o parto. “A mãe é o primeiro companheiro social da bezerra, é quem vai ensinar a bezerra a ser ruminante e proteger contra predadores, trazendo tranquilidade e bem-estar.”

“A reflexão que fica é como a ciência do bem-estar animal pode informar estratégias de manejo para que o produtor desenvolva uma relação mais sustentável com o animal e que dê condições para a boa genética se expressar”, propôs a veterinária.

Fonte: Minuto Rural


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