O aumento dos custos de produção do setor agropecuário vem causando preocupação entre os produtores rurais. Um bom exemplo disso ocorre na pecuária de leite. De acordo com o boletim Campo Futuro, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Cepea, entre janeiro e junho de 2021, o COE (o Custo Operacional Efetivo) da atividade leiteira subiu 11,5%.
O assunto é um dos temas em discussão no Circuito Mineiro de Bovinocultura, que este ano está sendo realizado de forma virtual, no canal da Emater-MG no YouTube. O próximo webinar terá como tema “Tecnologias Agropecuárias para o Semiárido Mineiro”.
Na live de abertura do Circuito Mineiro de Bovinocultura, disponível no canal da Emater-MG, foram citados aumentos de gastos com ração, mão de obra, medicamentos, manutenção de máquinas e equipamentos, entre outros itens necessários no setor. Mas, o insumo que mais tem pesado no bolso do produtor é a ração concentrada que, segundo o Cepea, valorizou cerca de 11%, na média Brasil, no primeiro semestre de 2021.
A forte alta do concentrado é resultado dos elevados das cotações da soja e do milho. Nos últimos 12 meses, a oleaginosa se valorizou 35% e o milho teve uma alta de quase 86%. Valores que impressionam o presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias de Leite de Minas Gerais (Fecoagro), Vasco Praça Filho. “Nós vimos esse ano, o milho a R$92, a soja a R$155 e a silagem a R$183 a tonelada. O adubo está custando cerca de R$190, o dobro do ano passado. Já a ureia passou de R$98 para R$200, então todos esses custos preocupam muito o produtor”, afirma Vasco.
Margens apertadas
Diante desse cenário de alta de custo, Vasco destacou a importância de um bom planejamento alimentar do rebanho. “Ainda costuma haver um improviso muito grande nesta questão e isso é muito ruim. Às vezes, o produtor começa a achar caro e não faz a silagem. Daí acaba gastando um volume maior de concentrado. E é um grande erro. Um quilo de ração hoje é R$2,50 a R$2,70 e se uma vaca comer dez quilos, ela custa R$27 por dia. O quilo da silagem, com um valor de R$280 por tonelada, é R$0,28, então a diferença é muito grande”, calcula o pecuarista.
As geadas, que afetaram o Centro-Sul do País em julho, diminuíram consideravelmente a qualidade das pastagens, prejudicando a alimentação volumosa, que já vinha limitada devido ao tempo seco. Para evitar perdas ainda maiores na produção de leite, os produtores aumentaram a demanda por suplementação mineral, resultando em alta de quase 4% no preço do insumo em julho. Por causa de todos esses aumentos, a Emater-MG alerta os pecuaristas que o cenário exige muita atenção, principalmente dos produtores que, na maior parte dos casos, encontram margens apertadas na atividade leiteira.
Lucratividade
O coordenador técnico regional da Emater-MG em Alfenas, Marcelo Martins, dá algumas dicas para o pecuarista melhorar a lucratividade do negócio. Ele diz que é fundamental o produtor ter no mínimo entre 40 a 45% de vacas do rebanho em lactação, “pois são elas que pagam a conta”. “Para maximizar a receita, o pecuarista não deve se ater ao custo mínimo. Ele deve ter um custo mais racional, ou seja, talvez um aumento no gasto na alimentação pode gerar uma lucratividade muito maior, pois também cresce a produção. O RMCA (receita menos os custos de alimentação) é o que otimiza os lucros da propriedade”, explica Martins.
Também é importante aumentar a produção de leite (sem baixar a qualidade) e o número de animais para a venda (aproveitando a valorização do preço do bezerro), reduzir os custos de produção e partir para a especialização (reposição, leite, etc).
A pecuária tem uma grande importância econômica em Minas. “O estado tem quase 360 mil propriedades rurais envolvidas na cadeia da bovinocultura. São 22 bilhões de cabeças de gado, sendo 3,1 bilhões de vacas ordenhadas, o que mostra a envergadura do sistema”, ressalta o diretor presidente da Emater-MG, Otávio Maia. Apesar de o produtor necessitar mais do que nunca estar atento à gestão do negócio, o presidente da Fecoagro acredita num futuro positivo para a pecuária brasileira. “O leite é a atividade que mais gera emprego em Minas e nós acreditamos que vai viver momentos bons. O Brasil está se preparando para exportar e os mercados estão se abrindo”, comenta Vasco.