Em apenas dois anos, o pequeno produtor de Bozano, Jurandir Paulo dos Santos, viu sua produção de leite saltar de 1.600 litros, em abril de 2008, para 4.526 litros, em abril de 2010. O aumento de 280% tem uma justificativa: onze instituições de ensino, pesquisa e extensão rural, reunidas no chamado Programa em Rede de Pesquisa-Desenvolvimento em Sistema de Produção com atividade Leiteira no Noroeste Gaúcho (Rede Leite). “A gente tinha vontade de melhorar, mas não tinha instrução”, disse Jurandir.
Em atividade desde 2008, o Rede Leite é desenvolvido em 50 pequenas propriedades rurais de 48 municípios da Região Noroeste Colonial e Alto Jacuí, através da parceria entre Emater/RS-Ascar, Embrapa, Fepagro, Unijuí, Unicruz, Instituto Federal Farroupilha, Agel, UFSM, Instituto Federal Farroupilha, Cooperfamiliar e Cotrisa. “Existem produtores que estão à margem do processo e o programa faz justamente isto, busca esses produtores e apresenta a eles alternativas”, disse o gerente da Emater/RS-Ascar regional de Ijuí, Romeu Rohde.
Depois da adesão ao Rede Leite, a propriedade de 17 hectares de Jurandir e da mulher, Clecir, se transformou no centro das atenções do programa. Pelo menos uma vez por mês, o técnico agrícola da Emater/RS-Ascar de Bozano, Edevin Bernich, visita os Santos e recolhe informações sobre manejo, sanidade, alimentação, gestão.
De posse dessas informações, Edevin preenche uma planilha onde é possível visualizar praticamente tudo: a quantidade de máquinas, a produção de grãos, o número de animais em produção, a quantidade e o tipo de comida servida aos animais, quantos litros de leite são produzidos e como são produzidos. “Calculamos o peso do plantel e a partir daí, indicamos a quantidade de comida que deve ser produzida na propriedade”, exemplificou Edevin. A alimentação, segundo ele, deve ser balanceada. “Não adianta oferecer apenas uma alimentação rica em proteína, por exemplo, se o animal está precisando mais de fósforo ou cálcio”, disse Edevin.
Com informações adequadas, Jurandir parou de cortar e transportar ao potreiro milho para o gado. Plantou forrageiras como tifton e aveia e, principalmente, parou de comprar resíduo de armazéns para alimentar o gado. “A saca de 60 quilos de milho custa em torno de R$ 14,00 e a de resíduo, R$ 18,00”, comparou Edevin. “Além de mais barato a qualidade do milho é superior”, completou o técnico. O sal oferecido às vacas ganhou uma formulação caseira e os 21 animais adultos, como touros, que em 2008 se alimentavam sem produzir, foram reduzidos a 17. “Melhorou cem por cento”, comemorou Jurandir.
“Para cada um real investido, o produtor está recebendo R$ 2,65”, disse Edevin. O preço do litro de leite também melhorou. Em 2008, Jurandir recebia em média, R$ 0,50 pelo litro de leite. Atualmente, ele recebe, R$ 0,55. Contudo, há muita coisa por fazer, como a construção de uma nova sala de ordenha, de alvenaria e com fosso no centro, por onde os produtores podem permanecer em pé enquanto ordenham as vacas, sem prejudicar a saúde.
“O Rede Leite permite que o técnico compreenda melhor o que se passa na propriedade, de forma sistêmica. Primeiramente compreendendo a lógica do sistema de produção que a família do produtor adotou para, então, construir alternativas de intervenção ou redesenhar a propriedade, se for o caso”, disse a supervisora regional da Emater/RS-Ascar, Auria Schröder”.
O trabalho é respaldado pela Frente Programática Assistência Técnica e Extensão Rural, criada pela Emater/RS-Ascar em sintonia com os Programas Estruturantes do Governo do Estado para auxiliar o produtor na busca pela qualidade na produção e no estilo de viver.