20/04/2010 às 09h56min - Atualizada em 20/04/2010 às 09h56min

Batavo de volta às origens

Gazeta do Povo

A cooperativa Batavo confirmou aposta no crescimento do mercado do leite ao anunciar investimento de R$ 60 milhões em uma unidade de beneficiamento (UBL), em Ponta Grossa, a 120 quilômetros de Curitiba. Apesar de os preços aquecidos apontarem para uma demanda em expansão, o setor produtivo está vulnerável frente o poder de barganha das grandes indústrias, avalia o gerente geral da cooperativa, Antonio Carlos Campos. “Resolvemos verticalizar a atividade novamente com a produção de semi-industrializados”, argumenta. A Batavo informa que estava afastada do setor industrial há 13 anos.
Esse afastamento teve início quando a Parmalat comprou 51% da Cooperativa Central de Laticínios do Paraná Ltda. (CCLPL), em 1997. As cooperativas Castro­landa, Batavo e Capal, que formaram a CCLPL em 1954, fecharam o negócio em busca de parceria para competir com os maiores grupos laticínios do país. Aos poucos, no entanto, os pecuaristas da região, considerada reduto de altas médias de produtividade leiteira, se afastariam do setor industrial. Abriram mão inclusive da marca da holandesinha, amplamente conhecida no Sul e no Sudeste do país, e que hoje aparece em produtos de outras regiões.
A Batávia, formada com a chegada da Parmalat à bacia leiteira dos imigrantes, teve sua estrutura de frigorífico e laticínios assumida pela Perdigão em 2001 e 2007, respectivamente. Era a conclusão de um ciclo, com a transferência total da estrutura para a empresa de origem catarinense, hoje Brasil Foods.
Pecuaristas que por muitos anos tiveram o leite industrializado “em casa”, passaram a depender das negociações de um pool de vendas, criado em 2001 e que ainda hoje comercializa a produção do trio Castrolanda, Batavo e Capal para as grandes indústrias – Batávia, Danone, Nestlé, Parmalat.
Apesar da reviravolta atual, as cooperativas não consideram que as decisões tomadas na década de 90 foram um mau negócio. Fato é que, corrigindo valores pelo IGP-M, pode-se dizer que a Parmalat pagou R$ 394 milhões por 51% da CCLPL e que vendeu essas mesmas ações à Perdigão por apenas R$ 164 milhões.
A UBL da Batavo reforça, no entanto, a avaliação de que a industrialização voltou a ser essencial para as cooperativas. Em agosto de 2008, menos de um ano depois de a Perdigão assumir totalmente a Batávia, a Castrolanda inaugurou sua unidade de beneficiamento de leite. Metade do volume recebido por essa UBL, que chega a 700 mil litros ao dia, passa por um processo de evaporação, perdendo até dois terços do volume, o que barateia o transporte e reduz a incidência de tributos. É o que o setor chama de semi-industrialização.
Um terço do leite recebido pela indústria da Castrolanda sai de regiões de outras cooperativas, como a Batavo, que agora terá sua própria UBL. Os dois projetos têm praticamente a mesma capacidade de recepção e industrialização. Como produz menos leite que a Castrolanda – numa diferença de 420 mil para 260 mil litros de leite ao dia –, a Batavo terá folga ainda maior para receber e industrializar leite de terceiros. Pode receber 2,7 vezes sua produção.
Juntas, as duas cooperativas poderão disputar com outras em­­presas participação no escoamento de 500 mil litros de leite de terceiros ao dia. O próximo passo, con­forme os diretores das cooperativas, é a produção de industrializa­­dos como creme de leite, leite condensado, leite em pó, e a criação de marcas próprias. A UBL da Batavo, ainda a ser construída, vai influir no mercado a partir de 2011.
Indústria colabora para a sustentabilidade das fazendas
Mesmo em época de preços em alta, os produtores de leite relatam estar correndo atrás de medidas para reduzir custos e ganhar escala. Só assim é possível se sustentar no setor, relata Janus Katsman, pecuarista em Carambeí. Cooperado da Batavo, ele avalia que, nessa disputa constante ditada pelo mercado, o investimento na industrialização se tornou uma nova tendência, que se justifica pela redução de custos e ampliação da renda.
A experiência de outras cooperativas, como a Castrolanda, mostra que é possível arrecadar 5% mais com o leite após a implantação de unidades de beneficiamento – que fornecem produto com menos água para as indústrias de iogurtes, queijos e outros derivados. Essas UBLs permitem também padronizar o leite, garantindo negociação de preço por qualidade, ponto alto da bacia dos Campos Gerais.
“O produtor precisa se concentrar em genética, qualidade. A cooperativa tem que se colocar da melhor forma possível no mercado. Quem fica parado, na verdade, está andando para trás”, resume Janus. A seu ver, sem muito tempo livre, o pecuarista necessita de um guarda-costas para avançar na pecuária leiteira, papel que uma cooperativa exerce ao facilitar o acesso aos insumos e a comercialização da produção. Com 60 vacas jérsei em lactação, ele tenta ampliar a média de 22 litros/dia por animal. A vantagem dessa raça está na maior concentração de sólidos, mas sem produtividade satisfatória esse diferencial se anula.
Os produtores reclamam menos dos preços do leite neste ano. No último mês, houve reajuste médio de 7% no Paraná, conforme estudo do Conseleite. O aumento foi de 10% nas principais regiões produtoras do país, conforme o Cepea – Centro de Pesquisas Econômicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), campus da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba. Isso deve-se à redução na captação, que recuou 7% em dois meses com o clima chuvoso, diz o Cepea.
Entre os 20 maiores produtores de leite do país, Maurício Greidanus também mostra-se favorável ao retorno da Batavo à industrialização. Com a marca de 14 mil litros de leite ao dia e um rebanho de 400 vacas holandesas, planeja ampliar a produção em 8% ao ano na fazenda Frankanna. “A indústria dá respaldo a esse crescimento. Nossa expectativa com a unidade é de preço mais justo e captação mais regulada.” A eficiência da porteira para dentro faz sentindo quando o leite recebe o preço que merece, afirma.
José Rocher
 


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