19/01/2017 às 11h01min - Atualizada em 19/01/2017 às 11h01min

Empresa potiguar é selecionada por programa de Barack Obama

Peso, quantidade de leite produzido, últimas vacinas tomadas, doenças contraídas, cruzamentos realizados. Todo o histórico do animal a um toque no smartphone do vaqueiro. Quem acha que a tecnologia digital se encontra muito distante da realidade do campo, está levemente enganado. É verdade que muitos produtores rurais ainda desconhecem essa realidade ou não sabem aplicá-la no negócio, porém, nos últimos anos, aplicativos vêm sendo desenvolvidos para ajudá-los na administração das propriedades.

Um deles é o Agromarra, que ganhou destaque nacional e até internacional, quando o seu desenvolvedor, o potiguar Ystallone Alves, participou em 2016 da Iniciativa Jovens Líderes das Américas, da sigla em inglês YLAI (Young Leaders of the Americas Initiative). O programa idealizado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, selecionou 250 jovens dos países da América Latina para participarem de encontros com empresários e investidores norte-americanos, além de conhecerem a realidade enfrentada pelos empreendedores naquele país. A maior delegação era a brasileira, com 20 jovens que apresentaram ideias inovadoras para problemas sociais. Três eram nordestinos.

O aplicativo Agromarra foi desenvolvido em 2015 por seis participantes de um programa do Sebrae, a Missão Agrotech. Nesse projeto, jovens de todo o Rio Grande do Norte foram convidados a realizar um curso dividido em quatro etapas. Ao longo de três meses eles conheceram a realidade dos empreendedores do agronegócio potiguar, observando as dificuldades enfrentadas por eles em diversos segmentos, desde fruticultura, passando pela apicultura e carcinicultura, até a pecuária, entre outros. O projeto chegou a participar de uma competição da Campus Party, em São Paulo, sendo o  aplicativo melhor avaliado, dentro da área do agronegócio.

Pensando na falta de ferramentas de gestão dos rebanhos, principalmente entre os pequenos e médios pecuaristas, o grupo vencedor da disputa apresentou uma versão preliminar do Agromarra. Por meio dele, os produtores têm como administrar seus rebanhos e prever necessidades, executar planejamento para seus negócios. “Parece muito básico, mas hoje eles não têm esse controle. Não têm dados confiáveis”, diz Ystallone.

Após passar por uma seleção, o projeto virou uma empresa incubada no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), em junho de 2016. Desde então, a equipe vem trabalhando na validação do projeto e na melhoria do programa. Nem todos os participantes iniciais, entretanto, permaneceram, por já estarem envolvidos em outras atividades. Um deles foi eleito prefeito no interior do estado. Hoje, além de Ystallone Alves, a empresa conta com os sócios Diego Obdon e Lucas Gurgel.
Três produtores rurais já estão usando a ferramenta nas suas fazendas. Eles dão sugestões aos empresários e apresentam novas demandas. Segundo explica Ystallone, o uso para os apoiadores ainda é gratuito. Posteriormente, quando o aplicativo estiver efetivamente no mercado, a ideia é cobrar R$ 1 por cabeça cadastrada.

No aplicativo, o animal tem um perfil onde o vaqueiro pode registrar diversas informações. Elas vão compor um banco de dados no qual o gestor da fazenda poderá ter detalhes atualizados acerca de todo o rebanho. “As pessoas não percebem muito o impacto social, mas é uma ferramenta voltada para o pequeno produtor de uma região carente, trabalhando com algo que é de uma nobreza, produz o alimento que vai para a casa das pessoas”, destaca Ystallone Alves.

Durante a fase de estudos de caso, os empreendedores perceberam que os pecuaristas do estado não tinham dados confiáveis do rebanho como a produção leiteira e o peso de cada animal. Sem essas informações, avaliaram, não é possível fazer um planejamento de investimentos ou mudanças para  melhorar a produção. “Não é só achar. É possível fazer planejamento. Ver que no ano que passou não teve uma produção de leite boa e a partir daí pensar em pegar empréstimo, comprar mais alimento para os animais, ou comprar, vender animais. É possível tratar melhor as doenças”, avalia.

“É uma forma de ele gerar mais receita. O produtor sofre muito com a atividade, por não ter uma gestão, não ser capacitado. Essa é uma ferramenta que mostra como eles podem produzir mais e não ficar apenas na subsistência, mas gerar lucro para ele, para que ele possa crescer mais, produzir mais e fornecer comida para mais pessoas”, aponta Ystallone.

Agromarra busca por investidores e negócios

Como uma empresa incubada, o objetivo dos idealizadores do Agromarra é conseguir investidores para alavancar o negócio. Segundo explica Ystallone, já existem pelo menos dois concorrentes no Brasil. Ambos são do Sul e do Sudeste do país. O produto potiguar é o único voltado para o Nordeste. Apesar disso, sem recursos, o crescimento será muito lento. “Para crescer mais rápido, precisamos de representantes em outros estados, pessoas que cheguem até o produtor. O Agromarra não é uma demanda gerada pelo produtor, que em algum momento pensou em criá-lo. Ele precisa saber que (o aplicativo) existe para se interessar”, complementa.

O produto não é voltado apenas para bovinos. Serve para qualquer tipo de rebanho. A ideia, no futuro, também é desenvolver soluções voltadas para a agricultura. Além do aplicativo, a empresa fornece um brinco com um QR-code. Ao usar o celular para ler o código, o produtor tem as informações específicas do animal que está parado. Mas essa é uma solução inviável para o fazendeiro que tenha uma quantidade muito grande de animais. O público-alvo varia entre 500 e 4 mil cabeças. Quanto maior o rebanho, mais trabalho daria atualizar os dados de um por um.

O desenvolvedor Ystallone Alves afirma, porém, que o aplicativo pode ser interligado a outros equipamentos, para facilitar a atualização de grupos maiores de animais. É o caso de um chip que identifica automaticamente o boi que está passando sobre uma balança. Os dados são enviados para o aplicativo. Ystallone aponta que o aplicativo pode ser usado mesmo sem internet. Os dados são compartilhados em rede logo que ocorre a conexão.

Nos EUA, “os mesmos problemas do RN”

Após uma semana em Dallas, onde foram concentrados todos os participantes do YLAI nos Estados Unidos, Ystallone Alves, 27 anos, foi para Rino, no estado de Nevada. A cidade é apontada como uma das grandes metrópoles do futuro, no país. O  jovem empreendedor ficou instalado no Departamento de Agricultura da Universidade de Nevada, onde conheceu  pesquisas voltadas ao tema do agronegócio e desenvolveu parcerias. Em uma das etapas do projeto, ele também visitou pecuaristas da região para entender os problemas enfrentados por eles. Para Ystallone, os produtores, tanto no Rio Grande do Norte, como nos Estados Unidos, enfrentam os mesmo problemas, quando o assunto é gestão e informação acerca do próprio rebanho. Por outro lado, ele considerou que o governo norte-americano oferece muitos subsídios para que o agronegócio cresça no país.
No estado onde Ystallone ficou, 75% do investimento em infraestrutura é subsidiado, de acordo com ele. “Eles têm os mesmos problemas, apesar de terem mais infraestrutura e subsídios”, pondera. “É mais fácil empreender nesse segmento”, acrescenta.

No diálogo com pesquisadores, o empreendedor apontou que os dados conseguidos por meio do aplicativo também poderão ajudar no desenvolvimento científico. Tão raras, as informações captadas por ele poderão ajudar os estudiosos a entenderem problemas e avanços na produção regional. “Eles poderão descobrir, por exemplo, se o uso de determinado tipo de ração fez o gado aumentar a produção de leite, ou a qualidade da saúde dos bovinos”, argumenta.

Fonte: Novo Jornal


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