07/07/2023 às 13h44min - Atualizada em 07/07/2023 às 13h44min

Argentina e Uruguai inundam o mercado brasileiro com leite.

O défice de produtos lácteos no Brasil leva-o a aumentar os volumes de importação, a comprar maiores volumes e a oferecer melhores preços à Argentina e ao Uruguai

Valéria Hamann
Edairynews
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O Brasil continua a ser o principal destino do leite de Uruguay e Argentina, em grande parte devido à aplicação da Tarifa Externa Comum (TEC) de 28% aos produtos lácteos de outras origens, o que torna estes produtos pouco competitivos no mercado brasileiro. O défice de produtos lácteos no Brasil leva-o a aumentar os volumes de importação, a comprar maiores volumes e a oferecer melhores preços à Argentina e ao Uruguai, os seus principais fornecedores.

Desde dezembro do ano passado, o valor médio das exportações para o Brasil tem-se mantido estável em cerca de 3.800 dólares por tonelada. Na primeira quinzena de junho, o valor médio foi de US$ 3.872 por tonelada, cerca de US$ 100 acima do preço de venda para a Argélia. De acordo com o MilkPoint, para os próximos meses, mesmo com a redução esperada das importações, devido à queda dos preços no mercado brasileiro e a conseqüente redução da competitividade dos volumes importados, a disponibilidade de leite deve apresentar um crescimento em relação ao primeiro semestre do ano, devido ao aumento sazonal da produção.

Esta situação poderá alterar a tendência para o segundo semestre do ano. O governo brasileiro, juntamente com a indústria de lacticínios, está a analisar a possibilidade de restringir as importações de lacticínios do Uruguai e da Argentina, para salvaguardar a sua indústria nacional. Os produtores brasileiros enfrentam um duplo desafio: efeitos climáticos e pressão das importações

Os produtores do sul do Brasil estão atentos e preocupados com o impacto das importações. Os seus custos de produção estão a aumentar, o preço do seu leite está a baixar e esta concorrência brutal está a virar a rentabilidade do seu negócio de pernas para o ar. Exigem proteção do seu governo. A economia da região está em risco, uma vez que a produção de leite desempenha um papel fundamental na criação de emprego e no comércio local. A agravar uma situação já difícil, os efeitos das recentes secas afectaram a produção, provocando uma escassez de alimentos para o gado.

Medidas proteccionistas previstas

Espera-se que as autoridades estejam atentas a estas realidades e adoptem medidas para proteger os produtores locais, preservando o emprego e a economia rural. Essas medidas poderiam incluir políticas de incentivo e apoio aos produtores de leite do Rio Grande do Sul, como a redução de impostos e taxas, a disponibilização de recursos e assistência técnica para melhorar a eficiência da produção e, assim, reduzir os custos de produção. Seria também muito útil sensibilizar os consumidores para a importância de valorizar e apoiar a produção local de leite, que, de um modo geral, tem vindo a diminuir a nível nacional, através de campanhas publicitárias que incentivem o consumo de produtos nacionais, realçando a qualidade e o valor socioeconómico da escolha de produtos locais.

Por que razão não é fácil aplicar políticas proteccionistas?

No contexto atual, as medidas governamentais de proteção parecem apresentar complicações, uma vez que as taxas violam o acordo do Mercosul. A possibilidade de acordos entre países, tais como a limitação das quantidades importadas, como aconteceu anteriormente com a Argentina, parece menos provável neste momento. Uma das questões em jogo é o interesse do governo brasileiro em manter boas relações com os países vizinhos, como parte da sua estratégia para se posicionar como um importante ator político regional. Não menos importante, a atual prioridade do Governo brasileiro é a redução das taxas de juro, e a redução contínua da inflação desempenha um papel fundamental neste contexto, pelo que medidas que possam aumentar a inflação, como dificultar a entrada de leite mais barato no país, não serão facilmente aplicadas.

Autor: Valéria Hamann


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