07/08/2008 às 10h15min - Atualizada em 07/08/2008 às 10h15min

Mercado da terceira idade à espera de alimentos especiais

Maria Lúcia trabalha numa função estratégica para observar os hábitos e necessidades alimentares do público. Ela é hostess em uma movimentada loja de supermercado na zona oeste de São Paulo. ?Percebo que a fila da caixa de idosos e atendimento preferencial está crescendo sempre?, aponta. ?Os idosos são mais numerosos e estão mais conscientes e críticos. Perguntam sobre os produtos, apontam defeitos, fazem sugestões?.

Maria Lúcia enxerga na prática o que as estatísticas demonstram nitidamente - o crescimento dessa faixa da população, que desponta como mercado em alta em diversos setores. Há 17 milhões de idosos no Brasil, segundo o IBGE, considerando o número de pessoas com idade acima de 60 anos. Quatro milhões deles estão em São Paulo e dois milhões no Rio de Janeiro. Sua renda média vem crescendo, assim como a participação social e a própria avaliação da saúde. A renda melhorou, segundo a Fundação Getúlio Vargas, 43% entre 91 e 2003. Quase metade (44%) dos que estavam entre 66 e 70 anos consideravam bom ou muito bom seu estado de saúde, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios, de 2003.

A camada populacional dos idosos cresce mais do que a população em geral, devendo chegar na casa dos 30 milhões em 2020. O Brasil já é hoje o oitavo país do mundo em população idosa. Era o décimo oitavo em 1950.

Necessidades - ?A dieta da terceira idade é um mercado em expansão?, diz a nutricionista Cibele Crispim, da RGNutri. ?Há necessidade de alimentos para as características dos idosos?. ?Nessa faixa, diminuem as necessidades energéticas, mas aumentam as de micronutrientes e continuam sendo importantes as proteínas?, define a nutricionista especializada em idosos, Elci Almeida Fernandes, do Hospital das Clínicas da USP.

Há oportunidades de mercado, portanto, para alimentos com as demandas dos idosos: nutritivos, de fácil digestão, com baixo teor de gorduras, de fácil preparo e manuseio e com informações eficientes para quem perdeu parte da acuidade visual.

Alimentos porcionados é uma das demandas desta faixa etária"Os idosos estão conscientes", prossegue a especialista em compras, Maria Lúcia. Os valores nutricionais devem estar bem à vista, a indústria nem sempre está atenta a alguns itens fundamentais. Eles precisam de porções menores, como o frasco de meio litro de leite, e a embalagem fracionada de pão integral. Muitos moram sozinhos, precisam de produtos semi-prontos para suas condições, não querem ser dependentes.

"Eles têm hipertensão e diabetes e compram muitas vezes alimentos infantis, nos quais a indústria é bem mais diversificada. Pedem também produtos sem glúten e com lactose reduzida. Além do mais, sua condição financeira não é alta, essa também é uma condição para a qual a indústria deve estar atenta". A condição financeira, apontada por Maria Lúcia, é uma realidade nacional que as estatísticas de crescimento de renda não desmentem, apenas mostram que já foi mais difícil.

Cardápio - As necessidades apontadas pelos profissionais que "enxergam" os idosos dão muitas pistas para alimentos em falta nos supermercados e no comércio de refeições fora do lar. De maneira geral, os produtos dos idosos não fogem às regras de alimentação saudável para todos, o que amplia ainda mais o número de consumidores potenciais.

Alimentos notritivos devem constar no cardápio da terceira idade.Um quadro resumido dos alimentos de alta demanda para a faixa etária dos mais velhos inclui: produtos feitos exclusivamente com óleos vegetais, sem gordura animal; lácteos de baixa caloria que permitam diversificar o consumo do leite puro, muito necessário pela presença do cálcio; semi-preparados à base de soja; embalagens pequenas de peixes de águas frias, como o salmão e de peixes em geral; produtos com adição de fibras solúveis e não-solúveis com explicações didáticas; alimentos com teor reduzido de sódio sem perda do sabor; vegetais verde-escuro; produtos desenvolvidos para quem tem problemas odontológicos; alimentos de baixo preço com adição de aveia, castanha do Pará, tomate, cenoura e outros nutrientes saudáveis.

"A dieta tem que ser nutritiva e gostosa", explica Cibele Crispim. "Os idosos têm sua sensibilidade de paladar diminuída. Não se pode perder de vista o estímulo que eles precisam para ter prazer ao comer".

Elci Fernandes informa que várias pesquisas têm demonstrado deficiência de energia, vitaminas e minerais em pessoas acima de 60 anos que moram sozinhas ou em asilos. Ela destaca que os profissionais devem ficar mais atentos à qualidade da dieta dos idosos. As nutricionistas também apontam uma diminuição da sensibilidade à sede, o que demanda criatividade e diversificação nos sucos e chás.

"O fracionamento das refeições é importante. O idoso precisa ingerir porções menores e bem distribuídas ao longo do dia", acrescenta Elci. Outra dica para indústria e fornecedores: alimentos para idosos têm que ser equilibrados, mas não podem parecer remédio, produtos que os idosos geralmente já são obrigados a consumir mais do que gostariam.

Mercado - Uma das poucas marcas de alimentos que se identifica como dirigida aos que querem gozar uma terceira idade saudável, a Becel, linha de margarinas da Unilever, destaca os riscos do consumo de gorduras saturadas e trans na sua propaganda. "Gorduras trans" é uma expressão que a empresa ajudou a popularizar no Brasil. Ela é obtida depois que os óleos vegetais são submetidos a um procedimento químico chamado hidrogenação.

Fornecedora de um produto de preço mais elevado do que os concorrentes convencionais, apresenta didaticamente os benefícios dos produtos com alto nível de óleos poliinsaturados e baixo nível de saturados, o que ajuda a disseminar os termos e conceitos da alimentação saudável, principalmente para idosos. A Becel é atuante em marketing junto a profissionais de medicina e nutrição e patrocina congressos médicos. Depois do pioneirismo da marca Becel, a Unilever estendeu a não-utilização de gorduras prejudiciais à circulação sanguínea e ao coração às suas outras marcas de margarina, explorando melhor o segmento de idosos e dieta saudável.

Eliana Haberli - www.fispal.com


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