14/02/2024 às 08h57min - Atualizada em 14/02/2024 às 08h57min

Embrapa sugere diversificação e especialização para vencer a crise

Para analistas da empresa de pesquisas, medidas do governo para frear importações ainda não resolvem conjuntura adversa

Rafael Walendorff
Globo Rural - Leite
Foto Divulgação Wenderson Araujo/CNA
As medidas anunciadas pelo governo federal para frear as importações de lácteos do Mercosul e oferecer crédito novo para capital de giro de produtores e cooperativas serão insuficientes para resolver o problema estrutural de ineficiência e falta de competitividade do setor produtivo nacional diante de países concorrentes, na análise de especialistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Neste mês, entrou em vigor o decreto que visa estimular a venda de leite in natura nacional, com a limitação de aplicação de 20% dos créditos presumidos de PIS e Cofins no âmbito do Programa Mais Leite Saudável para laticínios e cooperativas que importam o produto em pó. Quem compra produção interna se credita em 50%.

O pesquisador Glauco Carvalho, do Centro de Inteligência do Leite (CILeite) da Embrapa, diz, em análise antecipada à reportagem, que a medida deve ter um efeito limitado, já que grande parte das importações não é realizada por laticínios, mas por traders, indústria de chocolates e varejistas. Já a linha de capital de giro de R$ 700 milhões para cooperativas de produtores de leite deverá atenuar problemas financeiros dos últimos meses, mas não terá “efeito estrutural sobre a eficiência e competitividade do setor, que é um tema mais complexo”, aponta Carvalho.

A avaliação da Embrapa é que a cadeia leiteira brasileira continuará sob pressão em 2024, em decorrência da conjuntura internacional e da fraca demanda interna. O cenário vai excluir da atividade pecuaristas menos eficientes e pequenos laticínios, apontam os pesquisadores e analistas do CILeite. Para reverter a situação, a sugestão da Embrapa é que o setor tem investir em diversificação, especialização e criatividade. Uma das dicas, por exemplo, é a produção de leite artesanal, em ascensão entre consumidores.

“A atividade leiteira é complexa e permite fragmentar a produção em setores como volumosos, recria de animais e leite. Pode ser que o pecuarista tenha maior vocação em alguma dessas áreas e ao se especializar, otimiza a produção”, afirma o analista Lorildo Stock. No caso da indústria, a pesquisadora Kennya Siqueira diz que os laticínios devem diversificar seus produtos de acordo com a tendência do consumo, que aponta para alimentos saudáveis, funcionais e sustentáveis. As observações dos analistas da Embrapa mostram o nível de complexidade para encontrar uma saída nesse setor, que há alguns anos está com a produção estagnada em 34 bilhões de litros anuais, fruto do desestímulo dos pecuaristas. De janeiro a setembro de 2023, o volume nacional havia crescido 1,4%, mas os 2 bilhões de litros de leite importados do Uruguai e da Argentina no período de entressafra brasileira ajudaram a derrubar os preços internos e a elevar em 5,3% a disponibilidade do produto per capita.

Remuneração
As importações descapitalizaram o pecuarista brasileiro. “Em vários Estados, pequenos produtores estão recebendo menos de R$ 1,80 pelo litro de leite, o que é insuficiente para remunerar a produção”, avalia o pesquisador Glauco Carvalho. Desde julho do ano passado, a relação de troca do produtor é menor que a média dos últimos sete anos. A relação de troca é a equação entre o preço recebido pelo leite e o valor gasto com insumos para alimentação do gado leiteiro. As cotações do leite UHT caíram 18,6% de maio a novembro de 2023, chegando a R$ 3,76 por litro. Na muçarela a queda foi de 15,6%. “Não é só no campo. Nas indústrias, as margens também foram ruins, com diversos laticínios contabilizando prejuízo no ano que se inicia”, afirma Carvalho. Mesmo com os preços internos baixos, os produtos lácteos estrangeiros são mais competitivos, devido à eficiência da Argentina e do Uruguai. Na muçarela, por exemplo, a diferença de preços praticados no Brasil e nos países exportadores chegou a 45,8%, segundo a Embrapa. No leite em pó integral, o índice chegou a 31,5%. Enquanto aqui o preço médio do litro de leite está em US$ 0,39, o leite argentino custa US$ 0,35 e o uruguaio, US$ 0,36.

Fonte: Globo Rural 

Foto: Wenderson Araujo/CNA

 
 
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