24/08/2018 às 17h50min - Atualizada em 24/08/2018 às 17h50min

Itália desafia UE e pretende rejeitar acordo de comércio com Canadá

Acordo comercial - O novo governo da Itália quer rejeitar o acordo comercial meticulosamente negociado entre a União Europeia (UE) e o Canadá, assinado em 2016 e que precisa ser ratificado por todos os países-membros do bloco para valer de forma completa - por enquanto o pacto está valendo parcialmente.

A intenção do governo é apoiada principalmente por produtores rurais do país como Ettore Prandini, um pequeno agricultor no norte da Itália que vende leite para produtores do famoso queijo Grana Padano.
 

Segundo ele, sua receita deve cair um quinto neste ano em comparação com 2017. A culpa, diz, é do Acordo Econômico e Comercial Global (Ceta, na sigla em inglês), que no ano passado eliminou tarifas entre a UE e o Canadá em muitos produtos. O produtor rural italiano tem objeções contra colegas canadenses, que agora podem competir de forma mais agressiva na Europa, oferecendo queijos semelhantes aos da Itália. "A indústria de alimentos é um ativo fundamental para este país", disse Prandini. "Deve ser protegido."

Essas reclamações de pequenos agricultores levaram o novo governo da Itália, formado pela coalizão do Movimento Cinco Estrelas e da Liga, a dizer que votará contra o Ceta no Parlamento, embora não tenha estabelecido uma data para isso. O acordo entrou em efeito provisório e parcial em setembro do ano passado. Para tornar o acordo comercial permanente e totalmente eficaz, todos os Estados-membros da UE devem ratificá-lo. Se um país da UE o rejeitar, todo o acordo é anulado.

O fracasso do acordo representaria um duro golpe para as esperanças da UE de fortalecer o comércio global baseado em regras, chegando a acordos semelhantes com outros parceiros. Um veto italiano também destacaria o desafio crescente da UE de manter políticas comuns em meio à ascensão de partidos anti-establishment dispostos a desafiar as autoridades do grupo.

Nenhum país da União Europeia até a data desistiu de um acordo comercial após a sua aprovação pelos governos membros e pelo Parlamento Europeu. Se a Itália não ratificar o Ceta, teria que notificar a UE para iniciar o processo de rescisão do acordo, que permaneceria provisoriamente em vigor nesse meio tempo. "Sempre há dúvidas sobre a política comercial", disse Daniel Rosario, porta-voz do comércio para a Comissão Europeia, o braço executivo da UE, no mês passado.

"A Comissão Europeia está trabalhando em conjunto com os Estados membros para mostrar que as políticas comerciais são mutuamente benéficas". O Movimento e a Liga dos Cinco Estrelas expressam há muito o ceticismo em relação ao livre comércio, à globalização, ao multilateralismo e à UE, embora nenhum dos partidos esteja pressionando para que a Itália deixe o bloco.

As duas partes prometeram proteger pequenos produtores italianos, como Prandini, dos acordos comerciais que, segundo eles, mais provavelmente beneficiarão as grandes corporações. Eles também estão desafiando o apego da UE a mercados abertos e competitivos, prometendo uma maior intervenção do governo para proteger os setores bancários e aéreos da Itália.

Dados da UE sugerem que a Itália já está se beneficiando do Ceta. No total, as exportações italianas para o Canadá aumentaram 2% nos oito meses desde que o pacto comercial entrou em vigor, em comparação com o mesmo período do ano anterior. As exportações italianas de alimentos e gado para o Canadá foram ainda melhores, crescendo 12%.

O principal lobby empresarial da Itália, a Confindustria, apoia o acordo comercial e pressiona o governo a ajudar a UE a defender o livre comércio em um momento em que a administração do presidente dos EUA, Donald Trump, aumentou as tarifas sobre algumas importações e ameaça levantar outras. "Este acordo é do interesse de nosso país, que é um exportador por vocação", disse o presidente da Confindustria, Vincenzo Boccia. "Devido a políticas protecionistas vindas dos EUA, precisamos abrir outros mercados para aquela que é a segunda maior economia industrial da Europa".

Por outro lado, as exportações para o Canadá dos famosos queijos italianos Parmigiano-Reggiano e Grana Padano caíram 10% em valor no primeiro trimestre, em comparação com o ano anterior. O total de queijo italiano e as exportações de produtos lácteos para o Canadá recuaram 2% no mesmo período.

Fonte: Valor Econômico


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