22/10/2015 às 10h56min - Atualizada em 22/10/2015 às 10h56min

Seminário de líderes rurais discute mercado e inovações para a agricultura catarinense

Federação da Agricultura e Pecuária de Santa Catarina – FAESC

As dificuldades que marcam o quadro macroeconômico começam, lentamente, a atingir o agronegócio, um dos setores mais dinâmicos da economia brasileira, cujos superávits na balança comercial dão, há mais de 20 anos, estabilidade ao País.

Nesse momento, o mercado para o leite está em baixa e, o de carne, em alta. Isso é o que ficou demonstrado no Seminário Estadual de Líderes Rurais que a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (FAESC) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR/SC) promoveram em Lages, na última semana, durante a Expolages 2015, no parque de exposições Conta Dinheiro.

O Seminário reuniu mais de uma centena de presidentes de Sindicatos Rurais, foi coordenado pelo presidente da FAESC/SENAR José Zeferino Pedrozo e teve a presença do governador João Raimundo Colombo e do secretário da Agricultura Moacir Sopelsa, além dos presidentes das empresas estatais Cidasc e Epagri. O anfitrião do evento foi o presidente do Sindicato Rural de Lages e coordenador geral da Expolages, Márcio Cícero Neves Pamplona.

Pedrozo fez um balanço das ações de defesa técnica e política do produtor rural pela Federação, de um lado e de qualificação e requalificação profissional pelo SENAR, de outro. Destacou o papel da Expolages no fomento à pecuária de corte e de leite, na difusão tecnológica, no aprimoramento genético e no estímulo aos negócios. Destacou o apoio do Governo do Estado ao agronegócio barriga-verde e citou, como exemplo, o subsídio aos juros para produtores rurais que tomam financiamentos do Programa ABC (agricultura de baixo carbono). Lembrou que, na década de 1990, ele e o governador Colombo defendiam o setor primário na condição de deputados com assento na Assembleia Legislativa de Santa Catarina.

O presidente da FAESC explicitou que o dólar elevado implica em aumento dos custos de produção no campo e na indústria porque grande parte dos insumos – especialmente milho e farelo de soja para nutrição animal, equipamentos, embalagens, aminoácidos etc – são cotados em dólar. “É errôneo afirmar que a agricultura exportacionista e a agroindústria têm lucros automáticos com o aumento do dólar”, esclareceu.

O governador João Raimundo Colombo disse que o agronegócio é o “maior orgulho de Santa Catarina”. Ensinou que “se alguém quer ir rápido, deve ir só, mas, se quer ir longe deve ir em grupo”, referindo-se a importância da organização sindical e cooperativista para proteger e promover o produtor rural. Mencionou que o mercado mundial está dominado por gigantescos grupos econômicos do agronegócio e essa concentração gera um dilema – como manter competitivos os pequenos e médios produtores rurais nesse mercado competitivo e hostil.

O governador manifestou preocupação com a necessidade de reformar o Estado brasileiro em razão dos insuportáveis encargos decorrentes da Previdência Social (milhões de aposentados e pensionistas), folha de salários e recursos para investimentos em obras e serviços públicos. Assinalou que Santa Catarina é uma das poucas unidades da Federação com as finanças em ordem e que acaba de pactuar uma reforma na Previdência dos servidores públicos.

Colombo considerou “um erro e um cochilo da diplomacia brasileira” não ter acompanhado, negociado ou participado das tratativas que resultaram na aprovação do acordo que criou o mercado comum do Pacífico. Teme, agora, que o Brasil perca mercado para suas carnes. Observou que 90% da carne de frango importada pelos japoneses é brasileira, mas, esse mercado pode ser abastecido pelo frango norteamericano, pois, Japão e Estados Unidos são, agora, parceiros do Acordo Transpacífico.

DOMÍNIO
O vice-presidente da FAESC e presidente da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), Enori Barbieri, apresentou o programa de emissão da Guia de Trânsito Animal (GTA) com Reserva de Domínio. Esse sistema foi desenvolvido pelo serviço de tecnologia da informação da Cidasc para proteger os criadores que expõem e comercializam animas nas feiras catarinenses. Ele evita prejuízos ao criador e assegura a transferência da propriedade dos animais vendidos em feiras somente após o integral pagamento pelo comprador.

Barbieri observou que existem mais de 1.700 pequenas, médias e grandes feiras de animais em território catarinense, mas, apenas 700 estão cadastradas na Secretaria da Agricultura. Os promotores de feiras pecuárias devem urgentemente cadastrá-las para receberem os benefícios da nova GTA eletrônica.

O secretário da Agricultura Moacir Sopelsa enfatizou que o maior patrimônio da agropecuária catarinense é o seu status sanitário como área livre de febre aftosa e peste suína clássica sem vacinação. Essa é uma condição única no Brasil e vem assegurando a conquista de mercados internacionais. Advertiu, contudo, que a manutenção desse status depende da ação conjunta dos criadores, das agroindústrias e do serviço de inspeção sanitária do Governo Estadual.

Lamentou que alguns criadores irresponsáveis já foram apanhados tentando introduzir carga viva, o que constitui delito grave em termos sanitários e, por isso, foram severamente reprimidos. “A ocorrência de uma doença em território catarinense arrasaria a economia do Estado”, alertou o secretário.

MERCADOS
Uma completa avaliação da situação comercial do leite e da carne bovina e perspectivas de mercado futuro foi o tema da palestra ministrada por Alcides de Moura Torres, engenheiro agrônomo formado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP), diretor-fundador da Scot Consultoria, analista e consultor de mercado, com atuação nas áreas de cadeia de pecuária de corte, leite, ovinos, grãos e insumos agropecuários.

“Precisamos ser realistas” disse, ao discutir a situação do leite: o mercado está baixista, com oferta elevada e demanda fraca. Demonstrou que a oferta está aumentando e “a demanda patinando”. O resultado é a queda na remuneração do produtor. No plano nacional, o produtor está recebendo 9,4% menos neste ano, em relação ao mesmo período do ano passado e, no plano estadual, 6,5% menos, em valores reais. Os produtos lácteos com maior valor agregado foram os mais afetados pelo quadro econômico, razão pela qual caiu o consumo de iogurtes, queijos e leite condensado, entre outros.

A expectativa é a queda de preços ao produtor, situação que se agrava pelo aumento dos custos de produção – energia elétrica, combustíveis, mão de obra, suplementos minerais e fertilizantes.

De outro lado, a situação da pecuária de corte é bem diferente. “A carne bovina remunera como nunca”, frisou Alcides Torres, porque, nos patamares de preços atuais, a arroba remunera muito bem a atividade pecuária e permite investimentos. De janeiro até a primeira quinzena de outubro, a variação de preços no varejo em São Paulo (maior mercado interno) aumentou 19,44% nos cortes de dianteiro e 9,1% nos cortes de traseiro bovino.

O mercado continuará bom para os produtores e empresários rurais em 2016, mas começará a mudar em 2017. O PIB terá retração de -3% em 2015 e de -1% em 2016. Em consequência disso, a economia brasileira iniciará o ano de 2017 reduzida em 4% com o rebanho bovino maior que o atual.

ASSEMBLEIA
A última etapa das atividades consistiu na assembleia geral da FAESC para aprovação da previsão orçamentária para 2016 que prevê as receitas e estabelece as despesas em 2 milhões e 704 mil reais. A maior parcela das receitas (2 milhões e 74 mil reais) será originária da contribuição sindical do próximo ano.


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