15/04/2013 às 13h22min - Atualizada em 15/04/2013 às 13h22min

A qualidade da silagem como determinante da produção e qualidade do leite: Fatores Microbiológicos

Como já descrito no artigo anterior a qualidade da silagem é resultado da espécie forrageira a ser ensilada e dos fatores de manejo da cultura e tecnologia na ensilagem. O produtor de leite tem que ter sempre presente o fato de que a produção e a qualidade do leite, no que se refere a composição química e microbiológica, tem relação direta com a qualidade da dieta fornecida ao animal. 

 

Além dos fatores mencionados no artigo anterior, outro fator altamente relevante na produção de leite com uso de silagem é a qualidade higiênica-sanitária da forragem. O leite, em qualquer situação, deve ser produzido em condições de máxima higiene e, em situações de uso de silagem de baixa qualidade sanitária, a forragem pode se constituir em um dos principais veículos de contaminação ambiental e do leite com  microrganismos. 

 

Portanto, a vida útil do leite na prateleira começa com o manejo nutricional da vaca, ou mais, começa com o manejo adequado na produção e utilização da silagem. Assim sendo, destacamos a seguir os principais fatores relacionados à qualidade de silagens que afetam a produção e a qualidade do leite.

 

Fatores microbiológicos

 

A qualidade da forragem é determinada em grande parte pelo tipo de atividade microbiológica durante a ensilagem e utilização da silagem. Na atividade leiteira, especialmente em situações em que há predominância de fermentações secundárias, os prejuízos são maiores em relação a produção e qualidade do leite. Em primeiro lugar, destaca-se o aspecto da redução no valor alimentício da silagem, em razão das perdas de nutrientes e redução da ingestão por produtos da fermentação (álcool, aminas, amônia) e em segundo lugar os efeitos sobre a produção e qualidade do leite.

 

Atualmente existe maior preocupação com relação a inocuidade do alimento produzido, uma vez que o consumidor busca valorizar produtos de origem animal que sejam saudáveis. Nesse contexto, a segurança em relação aos aspectos sanitários no uso de forragens conservadas é altamente relevante na bovinocultura leiteira.

 

O leite é secretado pelas células epiteliais da glândula mamária e enquanto permanece armazenado nos alvéolos da glândula é isento de microrganismos. No entanto, durante o processo de ordenha e armazenagem do leite pode haver contaminação com vários gêneros de microrganismos que comprometem a qualidade do produto.

 

Nesse contexto, o produtor deve tomar atenção redobrada pois, além de afetar a produção e a qualidade do leite, outros problemas para a saúde do rebanho são comuns. Destaca-se aqueles relativos a presença de toxinas e de bactérias do gênero Clostridium nas forragens conservadas. 

 

 

 

Problemas com micotoxinas

 

As micotoxinas são metabólitos secundários tóxicos produzidos por fungos, ou seja do ponto de vista prático a micotoxina é um metabólito fúngico que pode causar problemas sanitários aos animais  e ao homem. Dentre os principais efeitos da ingestão de micotoxinas por vacas leiteiras estão as doenças hepáticas, renais e do sistema nervoso central e também efeitos estrogênicos.

 

Os mofos podem se desenvolver na cultura a campo ou durante as fases de armazenagem e utilização de forragens. Assim, deve-se ter cuidados para evitar que as vacas ingiram forragem mofada, eliminando aquelas frações da silagem que apresente bolores visíveis. Mesmo que a quantidade de toxinas seja pequena uma ingestão diária e por longos períodos, fato comum na alimentação de vacas em lactação, pode acarretar em sérios problemas de saúde dos animais.

 

O problema da presença de micotoxinas em alimentos destinados a vacas leiteiras podem ser prejudiciais da seguinte forma: a) redução do valor nutritivo pela perda de nutrientes, conseqüente da ação dos fungos sobre o alimento; b) redução de consumo; c) irritação do aparelho digestório do animal reduzindo a absorção de nutrientes; efeito sobre a performance reprodutiva (zeralenona); d) efeito imunosupressor, reduzindo as defesas das vacas (DON, toxina T2) e aumentando os problemas sanitários.

 

Embora no Brasil amostras de silagens analisadas para a presença de micotoxinas estejam restritas basicamente a experimentos, é provável que o problema seja bastante acentuado em razão de condições em que essas silagens são produzidas. Como exemplo alguns dados apresentados na Tabela 1, evidenciam que a presença de toxinas em silagens é um fator que atinge produtores do mundo inteiro. 

 

Tabela 1 – Presença de toxinas em silagens de milho e grãos de milho em amostras oriundas de produtores da Carolina do Norte –EUA. (clique na imagem para ver maior)

 










 
 
Fonte: Clóves Cabreira Jobim

 

Dentre as recomendações para evitar a ingestão de micotoxinas estão: cuidados básicos na confecção e utilização de silagens (tratos culturais, rápido carregamento do silo, compactação enérgica e vedação eficiente, descarga adequada com cortes em fatias, eliminar forragem deteriorada, retirar restos dos cochos). 

 

Micotoxinas em silagens e ingestão de matéria seca

 

Os efeitos biológicos aparentemente ocasionados pela contaminação por micotoxinas, estão diretamente relacionados com o nível de contaminação e tempo de exposição dos animais. A recusa de grãos ou forragens contaminados por micotoxinas tem sido um dos grandes problemas encontrados na alimentação animal. 

 

 O efeito negativo de algumas micotoxinas sobre a ingestão de alimento, pode ser devido às alterações no odor ou palatabilidade dos alimentos contaminados. O pó presente nas forragens secas associado com a presença de mofo e esporos pode estar envolvido no decréscimo da palatabilidade.  

 

Diante disso, é muito importante que ao fornecer volumosos conservados aos animais seja eliminado as partes estragadas (mofadas), mesmo quando presentes em pequenas quantidades. Isso porque mesmo que a quantidade de fungos presentes não seja suficiente para reduzir o consumo, a ingestão continuada de micotoxinas poderá acarretar sérios problemas aos animais.

 

Efeitos de micotoxinas sobre a saúde de vacas leiteiras

 

Vacas leiteiras são altamente expostas a ação de micotoxinas devido a dependência de concentrados e volumosos conservados como feno ou silagem. É  possível que no Brasil os prejuízos na bovinocultura leiteira, em razão da ingestão de alimentos contaminados, estejam entre os fatores limitantes para atingir-se alta produtividade e eficiência na exploração.

 

A presença de micotoxinas pode reduzir a ingestão de alimentos, alterar a digestibilidade e a absorção de nutrientes, além de ter um efeito tóxico para o animal. De acordo com esses autores, a presença de fungos não significa que haverá presença de micotoxinas, mas sob certas condições a produção é rápida e  as micotoxinas permanecem estáveis por longo período após a atividade dos fungos cessarem. 

 

Os grãos de cereais contaminados, freqüentemente apresentam contaminação de Zearalenona, a qual induz a respostas estrôgenicas em vacas leiteiras, e grandes doses dessa toxina estão associadas a abortos. Outras respostas de vacas leiteiras à Zearalenona vão desde menor ingestão de alimento, menor produção de leite, vaginite, aumento uterino, vulva e glândulas mamárias túrgida em novilhas virgens, declínio na taxa de ovulação e ciclos longos.  

 

Deve-se destacar também que a qualidade higiênica da dieta, em relação ao uso de silagens, pode ter efeito sobre a concentração de células somáticas (CCS). Os valores de CCS depende da contagem de bactérias psicrófilas no leite devido às infecções que acometem a glândula mamária. A limpeza e desinfecção dos tetos é essencial para menor concentração de bactérias psicrófilas no leite produzido. 

 

Problemas com bactérias

 

Dentre os microrganismos que podem trazer grandes prejuízos aos produtores e a indústria de lácteos estão os do gênero Clostridium. As bactérias anaeróbias do gênero Clostridium têm  efeito negativo sobre a qualidade da silagem especialmente se o pH não for suficientemente baixo para inibir o seu crescimento. 










 

 
Fonte: Divulgação

 

 

 

Além das perdas ocasionadas no processo de fermentação, um dos principais problemas da ingestão de alimentos contaminados com esporos de Clostridium é a contaminação do leite. A presença de esporos de Clostridium em número elevado no leite pode ter conseqüências catastróficas para a fabricação de queijos. 

 

Assim, maior atenção deve ser dada à contaminação do leite por Clostridium, em sistemas de produção de leite com uso de silagens. O ciclo de contaminação do leite é conhecido, da mesma forma que as medidas a serem adotadas para quebrar essa cadeia. Mas a aplicação de regras desde a colheita da forragem, conservação, utilização e higiene do local de ordenha dificilmente são observadas com a atenção que merecem. Os estudos realizados em relação ao tema têm demonstrado que cuidados básicos na confecção da silagem são de grande importância. Como exemplo, deve-se evitar a contaminação com terra, que é o principal veículo de contaminação da silagem. Nesse contexto, destaca-se que também um rápido carregamento e vedação adequada dos silos são essenciais. 

 

Quando vacas leiteiras são alimentadas com silagem contaminada por Clostridium o leite pode levar sérios problemas para a fabricação de queijos. Os esporos de Clostridium são resistentes à temperatura de cozimento de alguns queijos e encontram condições ideais de desenvolvimento e fermentação. Com as condições favoráveis durante a maturação do queijo, esses microrganismos proliferam. 

 

A contaminação do leite ocorre geralmente, durante o trato e ordenha. Essa contaminação pode ser por fragmentos de silagem, pó ou fezes, considerado o principal vetor. 

 

Considerações finais

 

 

 

Fator de grande relevância no contexto dessa abordagem é em relação a qualidade higiênica-sanitário do leite. Essa é uma questão de saúde pública e deve estar acima da questão empresarial. O produtor deve produzir leite de alta qualidade não somente para alcançar maior rentabilidade, mas para atingir maior qualidade nutricional do produto.   




Autor: Clóves Cabreira Jobim

Referências bibliográficas: 

IPEC - Instituto de Estudos Pecuários


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