31/01/2013 às 12h34min - Atualizada em 31/01/2013 às 12h34min

Comer, nutrir e beneficiar

A tendência mundial é agregar cada vez mais funcionalidade aos alimentos e os lácteos destacam-se como excelentes veículos para trazer benefícios complementares aos produtos.

Quando se previa a alimentação no século XXI, imaginava-se que algumas pílulas trariam nutrientes necessários ao organismo e produziriam saciedade.  A humanidade pode não ter enveredado por esse caminho, mas os alimentos ganharam novas faces que vão além de nutrir, saciar a fome e dar prazer. Nunca se viu tantas teorias sobre as funções de alguns alimentos e, em muitos casos, os efeitos benéficos de certos ingredientes já foram comprovados pela ciência. Assim, podemos desfrutar de inúmeros produtos funcionais que trazem benefícios à saúde.

A tendência atual na área de alimentos, inclusive, entre os lácteos é o desenvolvimento de produtos com alegação de funcionalidade. “O mercado exige da indústria produtos que, além de nutrir, contenham na sua formulação, compostos bioativos que possam carrear funções visando uma alimentação mais saudável, com benefícios para a saúde dos consumidores”, afirma Paulo Cesar Stringheta, professor Titular. Coordenador do Laboratório de Corantes Naturais e Compostos Bioativos da UFV (Universidade Federal de Viçosa).

O primeiro lácteo com alegação de funcional foi o Yakult, desenvolvido nos anos 30, no Japão. O médico sanitarista Minoru Shirota descobriu os lactobacillus casei, denominado Shirota, que possuem alta capacidade de resistência à passagem pelos sucos digestivos e chegam vivos aos intestinos, onde se desenvolvem.

Pela ação de seus metabólicos, provocam a diminuição da população de bactérias nocivas na microbiota intestinal e estimulam o desenvolvimento das benéficas. A ação dos lactobacilos equilibra e melhora o desempenho intestinal, proporciona maior absorção de nutrientes, contribui para a eliminação de substâncias nocivas e diminui concentração de toxinas.

Atualmente, o fabricante de Yakult produz também uma sobremesa láctea fermentada, a Sofyl, com os mesmos lactobacilos utilizados no seu produto pioneiro. Em 2001, a empresa introduziu em sua linha, o Yakult 40, desenvolvido para pessoas que têm ritmo de vida mais agitada, com mais estresse ou que tomam medicamentos e também para pessoas mais maduras, que acabam adquirindo uma microbiota intestinal mais desequilibrada com o passar dos anos.

Outro pioneirismo em funcionais veio pela Parmalat, que trouxe para o mercado os leites adicionados de ômega 3. O desenvolvimento desses lácteos foi um dos fatores que levaram a ANVISA a criar, em 1999, a CTCAF – Comissão Técnico-Científica para Alimentos com Alegação de propriedades Funcionais e/ou de saúde. 

Comprovação e eficiência 

Para que uma propriedade funcional seja utilizada em produto alimentício, há necessidade de aprovar a alegação pretendida na ANVISA. Para que a avaliação seja realizada, a empresa deve seguir as exigências das normas publicadas pela agência, mais especificamente, no que se refere à Avaliação de Risco do Produto e da Eficácia da alegação pretendida. O processo encaminhando, normalmente é avaliado pelo grupo técnico da própria ANVISA e, quando necessário, é encaminhado à CTCAF para apreciação.

“Como um dos pesquisadores que contribuiu para o desenvolvimento de toda a legislação de funcionais no Brasil, acredito que nossa legislação seja uma das mais evoluídas e consistentes do mundo. Somos um dos pioneiros a normalizar as alegações de propriedades funcionais em alimentos. A legislação existe para proteger o consumidor de possíveis excessos nas alegações pretendidas, pois determinada propriedade tem que ser comprovada para evitar incentivo ao consumo de alimentos com funções que podem não existir”, Justifica Stringheta.

A ANVISA trabalha com corpo técnico competente e preparado para analisar todos os processos encaminhados para o órgão, porém o número de técnicos ainda é reduzido, contribuindo muitas vezes, para retardar as decisões com prejuízo considerável ao planejamento da indústria.

Para orientação dos consumidores, todos os produtos alimentícios com alegação de propriedade funcional aprovados na ANVISA devem conter no rótulo a indicação da quantidade diária necessária a ser consumida para atingir o efeito funcional que consta na alegação.

Já existem inúmeros produtos com alegação de propriedade funcionais aprovados e comercializados no Brasil. Entre eles, estão os probióticos, o creme vegetal com fitosterol e bebidas elaboradas a base de soja. O portal da ANVISA (
www.anvisa.gov.br) possui uma página especial contendo a relação dos produtos aprovados  com suas respectivas alegações e essas informações podem ser acessadas por qualquer cidadão.

 

Novas propostas 

Stringheta acrescenta que: “a cada dia surgem novas propostas de produtos lácteos inovadores encaminhados pelas indústrias para aprovação, requerendo alguma alegação de propriedade funcional. Entre eles, podemos mencionar  os probióticos com alegação relacionada ao sistema imune do organismo humano. São alegações novas, importantes para a saúde, porém de difícil comprovação frente às metodologias disponíveis hoje”.

A Danone está entre as empresas que obteve aprovação da ANVISA para seu funcional ao lançar, em 2004, o Activia, desenvolvido a partir do isolamento de um microrganismo com propriedades probiótica, o bacilo Dan Regularis.

Simultaneamente, foi desenvolvida uma matriz alimentar com características nutricionais adequadas à saúde do  consumidor. Os benefícios do produto foram comprovados por dezenas de estudos clínicos publicados em revistas científicas.

“A matriz base do produto é a mesma, desde o lançamento, mas a marca freqüentemente traz inovações de sabor e possibilidades de novos momentos de consumo para o consumidor” acrescenta César Tavares, gerente de marketing da Danone. Também para a linha de funcionais, a Danone desenvolveu o Actimel, um leite fermentado com propriedades probióticas, oferecidas pelo Lactobacillus casei defensis, que atua no equilíbrio da microbiota intestinal.

 

Suporte para inovar 

Para os fabricantes de produtos funcionais, as indústrias fornecedoras de ingredientes oferecem suporte para desenvolvimento de novos produtos, como a Chr. Hansen que dispõe culturas de bactérias que combinam culturas de fermentação e culturas probióticas. “Nossa experiência em formulação possibilita criar o produto perfeito em sabor e textura e, ao mesmo tempo, garantir altas contagens de células de bactérias probióticas que, por sua vez, asseguram benefícios à saúde”, afirma Lucio Alberto Forti Antunes, gerente da divisão de laticínios da empresa.

A Chr Hansen possui em seu portfólio algumas das cepas probióticas melhores documentadas disponíveis no mercado, como BB-12®, La-5® e L. casei 431®.

A empresa introduziu no mercado uma nova série de culturas Yoflex® e culturas probióticas nu-trish®, especialmente desenvolvidas para fabricantes de iogurtes bebíveis. As novas culturas garantem qualidade em suavidade, agradável sensação na boca, além da redução do tempo de fermentação do iogurte. Outro ponto favorável das culturas é a possível diminuição da adição de amido ∕ espessante, atualmente, utilizados na maioria dos iogurtes bebíveis, como um custo adicional aos fabricantes.

Disponíveis em três diferentes perfis de sabores: mild, classic e twist, as novas culturas permitem atender às expectativas dos consumidores, através da elaboração de produtos com baixo teor de gordura, com uma lista de ingredientes reduzida e, ao mesmo tempo, produtos saborosos, suaves e com probióticos bifiodobacterium BB-12®.

0s produtos lácteos podem ser considerados ótimos veículos para fornecer propriedades probióticas aos consumidores. As principais razões para isso são a praticidade e conveniência que oferecem, possibilitando uma dosagem diária adequada. Além disso, os produtos lácteos apresentam alto valor nutritivo que, associados aos probióticos, agregam benefícios à saúde.

Antunes ressalta: “Também existe uma tendência em funcionais para o segmento de queijos. Hoje, esse conceito ainda é mais difundido em países da Europa, mas os consumidores e a as indústrias no Brasil já começam a mostrar interesse nesse tipo de produto, podendo ser uma grande oportunidade para nosso mercado”. 

Fibra - O prebióticos também estão na lista de ingredientes que agregam benefícios funcionais aos produtos. Entre as empresas que trazem esses elementos ao mercado brasileiro está a Colloids Naturels Brasil, que disponibiliza a Equacia, um texturizante inovador, uma combinação de fibras solúveis prebióticas  da goma acácia com fibras insolúveis do trigo, utilizado como substituto de gordura.

A empresa oferece a linha Fibregum, goma acácia, produto em pó, totalmente natural, livre de modificações genéticas, químicas ou enzimáticas. Pode ser utilizada para enriquecer produtos com fibras uma vez que tem 95% de fibras prebióticas em base seca.

A CNI possui ingredientes que ainda não pode comercializar no Brasil por ainda não ter aprovação a ANVISA. Por enquanto, fornece apenas para as indústrias farmacêuticas, que vedem para magistrais (farmácias de manipulação). Entre esses produtos estão: o Serenzo, ingrediente cítrico com características antiestresse, aliviando sintomas como a ansiedade, variação de humor, agressividade, problemas digestivos, insônia e vícios. Na área de laticínios, pode ser incorporado, por exemplo, a iogurtes uma vez que seu sabor à agradável devido à sua origem cítrica; Vinitrox, extrato de frutas ricas em polifenóis que oferecem dupla ação (antioxidante e vasodilatadora) para aplicação em uma bebida para consumo pré-treino para melhoria da performance do atleta; Resveravine, resveratrol natural padronizado com 20% de oligoestibenos, possui alto poder antioxidante, pode ser incorporado a qualquer tipo de produto lácteo; Cactinea, ingrediente original do fruto do cacto, contém propriedades  diuréticas e antioxidantes, elimina o excesso de fluidos preservando  os minerais, pode ser incorporado a uma bebida láctea matinal, por exemplo, para o alívio do inchaço e retenção de líquidos.

As empresas de ingredientes estão prontas para ampliar sua atuação no mercado de funcionais e possibilitar que as indústrias de alimentos tragam inovação para seus consumidores. O Japão, Estados Unidos e Europa estão entre os mercados mais ricos em funcionais e a tendência de crescimento é mundial. No Brasil, os consumidores já estão atentos a esses produtos que prometem contribuir para a preservação de doenças e, à medida que as alegações dos produtos sejam comprovadas, é possível esperar muitas inovcações nesse segmento nos próximos anos.




Autor: Juçara Pivaro

Referências bibliográficas: 

Revista Indústria de Laticínios 15 anos - Ano XV


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