15/05/2012 às 07h40min - Atualizada em 15/05/2012 às 07h40min

Aumento da produção do leite mundial

Um tema que achamos interessante abordar neste final de ano é o balanço sobre o aumento da produção de leite no mundo e, em particular, no Brasil. Temos visto e ouvido falar sobre o povo que mora no campo e que está vindo para as grandes cidades, e este é um movimento mundial.

Ficamos pensando... Como pode ser e como vai se sustentar o aumento da produção de leite no mundo? Dentro desse cenário, aparece o Brasil, com produção em 2010 de 31.401.000 toneladas, com taxa de crescimento anual de + 4,4%. Em 2010, o Brasil ocupou a posição número 5 no ranking dos maiores países produtores, logo atrás da Rússia com 31.895.000 toneladas. Veja que com este crescimento seremos em muito breve o 4º maior produtor mundial, atrás apenas da China com 35.756.000 toneladas, da Índia com 50.000.000 toneladas e dos EUA com 87.500.000 toneladas anuais.

Um estudo do Dr. Paulo Martins, pesquisador da Embrapa e Professor da UFJF, mostra que o numero de produtores diminuiu 1 em cada 4 produtores de leite em 10 anos, porém, estamos aumentando a produção de leite a cada ano em 4,4%. Fica claro que é por causa do aumento de produtividade do gado e o aumento de numero de animais de cada produtor, mas a pergunta é até quando isto vai se sustentar. Os jovens estão saindo do campo para os grandes centros à procura de melhores oportunidades e também de mais estudos, e sendo assim, a população que esta ficando no campo um dia ficará velha e sem capacidade para sustentar este crescimento. Não pensem que isto acontece somente no Brasil, pois, em uma entrevista que o Srº Marcelo Pereira, coordenador do Portal Milkpoint, fez com um grande produtor da Holanda, reflete justamente à este temor. O entrevistado disse que ficou somente ele e a esposa no campo, que os filhos foram embora para estudar e que provavelmente não voltarão. Este cenário só pode ser mudado com a mecanização na produção do leite.

Porém uma informação que é boa e fortalece a produção leiteira é de que “na apresentação de especialistas em diferentes conferências na Assembléia da FEPALE, ocorrida de 15 a 17 de novembro na cidade uruguaia de Punta del Leste, concordaram em projetar um mercado de lácteos global consolidado e crescendo a uma razão de 2,5% anual para os próximos 10 anos", afirmou um comunicado do Centro da Indústria Leiteira (CIL) da Argentina. "Embora a volatilidade tenha sido citada como um fator muito presente também afirmou que os níveis médios de preços se manterão muito superiores aos que se registraram na última crise de 2008".  Portanto, ao mesmo tempo em que temos um cenário favorável para a comercialização de lácteos no mundo ao longo dos anos e mesmo que hoje estamos conseguindo aumentar a produção de leite, existe o temor da produção não se sustentar em longo prazo, o que já acontece em toda Europa onde foi negativo o crescimento na maioria dos países, ao longo dos últimos 10 anos, e lembrando que, atualmente, é o segundo maior continente produtor de leite do mundo.

Cepea: a atividade leiteira é sustentável no longo prazo?  O cálculo do Custo Operacional Total (COT) é uma forma de se avaliar se uma atividade é sustentável no longo prazo. Além do desembolso mensal do produtor (como gastos com insumos), o COT inclui também a depreciação da infra-estrutura da propriedade, de máquinas, implementos, animais de serviço, custos de reforma de pastagens e o pró-labore, que corresponde à retirada mensal do produtor. Ou seja, é o custo do produtor, que leva em consideração todo o desembolso necessário para que, no final da vida útil de cada item, ele possa renovar ou reinvestir na atividade, na forma de reposição de máquinas, reconstrução de instalações etc. 

Nos painéis de custo de produção realizados pelo Cepea em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) em 2010 nos principais estados produtores de leite (GO, MG, PR, RS, SC e SP), contatou-se que: · na maioria das regiões, a receita do produtor superou o Custo Operacional Efetivo (COE), que diz respeito ao desembolso correntes do produtor; · entretanto, a renda total da atividade foi, em média, 10% menor que o COT, não sendo, portanto, suficiente para cobri-lo.

O resultado dessa situação, destacam pesquisadores do Cepea, é o sucateamento dos bens de produção, ou seja, o produtor não consegue manter a capacidade produtiva da terra, reconstruir benfeitorias, renovar máquinas e equipamentos e manter o rebanho. Dessa forma, apesar de a atividade apresentar resultado econômico positivo no curto prazo, o balanço é negativo no médio e longo prazo. Apesar disso, a pesquisadora Aline Ferro destaca assistência técnica de qualidade, que consiga aliar o conhecimento técnico-produtivo ao econômico, é possível que o produtor reverta essa situação. "Daí a importância de controlar os custos de produção da propriedade e seus índices zootécnicos", comenta.

De acordo com as informações coletados em campo, a pesquisadora infere que um dos principais problemas é a estruturação do rebanho, o que prejudica principalmente a reprodução. Segundo as pesquisas, o intervalo entre partos (IEP) de 14 meses e a idade ao primeiro parto (IPP) de 33 meses, médias dos indicadores obtidos em campo, estão mais altos que o considerado normal, 12 e 26 meses, respectivamente. Conforme as apurações, a proporção de vacas em lactação frente ao total de vacas está atualmente em 70%, quando deveria ser no mínimo de 83%. Problemas reprodutivos, por sua vez, são ocasionados principalmente pela alimentação deficiente. Os indicadores de produtividade também são muito importantes, principalmente os que dizem respeito à produtividade por área, comenta Aline Ferro. Das regiões pesquisadas, as que estão nos três estados do Sul foram as que tiveram os melhores resultados quanto à produtividade por área, com média de 9.100 litros/ha/ano. Já Goiás, Minas Gerais e São Paulo ficaram com média de 2.300 litros/ha/ano. "O aumento da produtividade se faz necessário para que sejam diluídos os custos fixos como depreciação de benfeitorias, máquinas, forrageiras perenes, animais de serviço e o custo de oportunidade da terra" explica a pesquisadora.

Com base nos dados dos painéis, a equipe observou que as pastagens estão, em sua grande maioria, em algum nível de degradação. Somente 30% dos produtores fazem algum tipo de manutenção anual (controle de pragas e daninhas, calagem e adubação). Na média, o tempo de vida útil do pasto gira em torno de 13 anos, informa o Cepea. No entanto, como não é feita a manutenção adequada, cada vez mais as reformas estão sendo feitas num período menor, tornando-se inviável para o produtor economicamente. Nesse caso, medidas simples de manejo poderiam otimizar esse recurso e diminuir os custos com alimentação, sugerem os pesquisadores da equipe Leite/Cepea. Na avaliação dos responsáveis por essa pesquisa, não há complicação para o produtor e/ou seus funcionários manter(em) anotadas as operações realizadas na propriedade e com o rebanho, os insumos e suas quantidades utilizadas bem como os custos dos produtos e das aplicações. Essa providência relativamente simples ajudaria o produtor a ter maior controle das atividades, dos gastos, ajudando-o a avaliar a eficiência das operações realizadas. "Com base nesses dados, seria possível direcionar a tomada de decisões de forma adequada e eficiente", comenta Aline Ferro. Nesse processo, completa, "fica clara a importância de se contar com mão-de-obra treinada, de modo que os funcionários saibam alocar os recursos existentes na propriedade adequadamente. Esse seria o caminho para se obter uma produção leiteira sustentável economicamente no longo prazo."


Autor: Marco Antônio Cruvinel de Lemos Couto

Referências bibliográficas: 

Observação: Essas análises constam da edição especial do Boletim do Leite nº 200 - Milkpoint


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