16/08/2010 às 14h53min - Atualizada em 16/08/2010 às 14h53min

Balanceamento de rações melhora produção

Que as vacas produzem mais e melhor se submetidas a dietas balanceadas, todo mundo sabe. Mas, no momento de fazer - ou comprar - a ração é preciso ter conhecimento das reais exigências dos animais que compõem o rebanho, sem o quê fica difícil atingir seu potencial produtivo. Na prática, o objetivo mais importante no balanceamento da dieta é fornecer todos os nutrientes, incluindo proteínas, carboidratos, vitaminas e macro e microminerais. No caso de vacas leiteiras, essa tarefa deve ser ainda mais rigorosa, segundo Dante Pazzanese Lanna, professor do Departamento de Produção Animal da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz-USP. 

"Primeiro, as vacas usam a energia da dieta para manter-se e produzir leite; depois, o que resta é dirigido para a reprodução", justifica. Além disso não se pode esquecer das bactérias do rúmen. De acordo com suas explicações, esta é chave para os animais alcançarem produção cada vez mais altas. "O bom balanceamento promove a maximização da atividade microbiana e, consequentemente, geram maior produção de proteína e de ácidos graxos voláteis, os quais vão significar energia", completa. Cita que as vacas leiteiras têm exigências próprias que só uma dieta devidamente compatível pode atendê-las. 

Optar por fazer a ração na fazenda ou comprá-la pronta depende de vários fatores. O professor da Esalq explica que, antes da decisão, é preciso definir a formulação do concentrado com base nas características do volumoso disponível na propriedade. "É fundamental complementar de forma correta o volumoso, algo muito difícil se este variar de composição. Quando se quer concentrado balanceado, o volumoso tem de ser definido, constante, homogêneo. Caso contrário, altera-se o concentrado de acordo com o volumoso, o que tornar o balanceamento da dieta muito complicado", argumenta. "O processamento deve ser o mais simples possível", destaca. 

Outro detalhe está voltado para se obter ração de qualidade com custos reduzidos. Para isso é preciso investir. "Tanto melhor é a ração quanto maior o número de ingredientes e maior a capacidade de adquirir componentes certificados e baratos", continua. A homogeneidade dos subprodutos é outra questão delicada apontada por Dante Lanna, pois seus teores variam muito. O caroço de algodão, por exemplo, se estiver muito úmido, apresenta problemas de armazenagem. Com tudo isso, o proprietário rural tem de pensar que quando opta por formular rações na fazenda aumenta sua responsabilidade. 

E o número de atividades a serem desenvolvidas também cresce. São necessários controle de estoque, controle de qualidade, sistema de armazenagem para manutenção da qualidade, pesquisa de preços, pessoal para fazer a mistura e, finalmente, controle da qualidade da mistura e do estoque de concentrado pronto. Geralmente, recomenda-se o nível intermediário, em que o produtor adquire premix (macro e microminerais e vitaminas que formam o chamado "núcleo"), misturando-o aos ingredientes do concentrado na fazenda. É uma questão de tamanho, de controle de gerenciamento e de escala. Dependendo disso, pode-se fazer tudo. 

Não se recomenda misturar ração em propriedades com menos de 100 vacas, pois neste caso os custos fixos do investimento podem não proporcionar retorno positivo. Pode, ainda, haver perdas vinculadas a deficiências no balanceamento das dietas. Se forem muito grandes, podem representar de 20 a 30% de leite a menos que seria obtido se a ração fosse corretamente balanceada. Além disso, uma vaca que produz 40 kg, se submetida a dez dias de alimentação não-balanceada, tem sua lactação inteira prejudicada, o que em volume total pode significar prejuízo de 200 a 300 litros. 

São quatro as fases da vaca lactante. A primeira é aquela que começa no parto e continua até duas ou três semanas após, caracterizada por alta produção de leite. O fator-chave de gerenciamento dessa fase é a habilidade de monitorar e observar os animais para assegurar a manutenção de sua saúde quando passarem para o alto grupo ou forem induzidos a isso mediante dietas de alto valor nutricional. A ração dessas vacas deve ser intermediária entre a de vacas em gestação e aquelas em final de lactação. Dietas de alto valor nutricional e instalações adequadas são recomendas por Lanna, bem como a identificação do aparecimento de cetose. Sugere um incremento de nutrientes na ração não superior a 10%, mantendo um nível saudável de fibras e possibilitando o alcance de altos níveis de energia, diminuindo riscos", diz. 

Para vacas nesta fase, pode ser adotada a seguinte estratégia: alimentação com um a três quilos de forragem de alta qualidade, para manter a função ruminal; utilização de mistura que contenha proteína não-degradável e fibras digestíveis (como farelo de soja ou polpa cítrica) como fontes de energia; incremento da concentração de nutrientes na ração, para ajustar a baixa ingestão de alimento; adição de tamponantes, para estabilizar o pH do rúmen; fornecimento de 12 g de niacina para minimizar cetose; adição de propilenoglicol (225 g) ou propionato de cálcio (180 g) para elevar a glicose no sangue.

BALANCEAMENTO DE ACORDO COM CADA FASE ANIMAL

A fase seguinte, de início de lactação, corresponde ao período de 14 a 100 dias após o parto. Nela, as vacas alcançam o pico de produção de leite, há queda de peso (isto exige fonte adicional de energia) e a ingestão de matéria seca é mais lenta. O professor informa que o tipo e o nível de proteína são críticos para que se alcance o pico de produção de leite. Limitar a quantidade de gordura suplementar é recomendável para manter o consumo de matéria seca. As estratégias de alimentação para vacas nesta fase envolvem: fornecimento de forragem de alta qualidade para aumentar o consumo de matéria seca; provimento de fontes de ingestão de proteína não-degradável, para corresponder às necessidade de lisina e metionina; incremento gradual de energia proveniente de grãos (máximo de 0,45 kg por dia); limitação da quantidade de gordura suplementar a 0,6 kg. 

Na terceira fase - intermediária -, as vacas declinam a produção de leite. O pico de ingestão de matéria seca tem sido alcançado com ganho de peso. O professor informa que, quando a produção de leite ou os componentes declinam muito rapidamente, é sinal de que as necessidades nutricionais não estão sendo atingidas. A duração desta fase pode compreender de 70 a 200 dias após o parto ou até as vacas secarem. É nela que injeções com BST são iniciadas. O que garante o sucesso desta fase é a otimização da ingestão de matéria seca, devendo ser adotados, ainda, os seguintes procedimentos: início da reposição das condições corporais perdidas; elevação de gordura suplementar até os níveis desejáveis e revisão da necessidade de aditivos.

A última fase pode começar 200 dias após o parto e terminar quando as vacas secarem, havendo possibilidade de não ser alcançada por alguns rebanhos e por animais de alta produtividade. Elas ficam prenhes, ganham peso (0,450 a 0,700 kg por dia), e a produção de leite declina de 6% (vacas em primeira lactação) a 9% ao mês (vacas em segunda lactação ou mais). De acordo com Lanna, a estratégia de alimentação deve abranger: incremento de proporção de forragens na ração; possível diminuição de fontes suplementares de proteína não-degradável; remoção de fontes suplementares de gordura; eliminação de aditivos; reposição das condições corporais perdidas; estabelecimento de níveis de condições corporais de 3,25 a 3,75 quando seca e redução do custo diário de alimentação por vaca. 

"Se o gerenciador da propriedade entende os quatro fatores que influenciam as necessidades nutricionais (produção de leite, componentes do leite, ingestão de matéria seca e perda de peso), várias fases de alimentação podem ser desenvolvidas. Ele pode não necessitar de todas, mas precisará gerenciar as mudanças economicamente (considerando produção de leite versus custo de alimentação). Se conseguir ‘controlar’ a transição dos programas de alimentação, problemas metabólicos podem ser minimizados e a produção de leite, otimizada. A escolha do sistema de alimentação deve servir a essas exigências nutricionais identificadas", diz o professor.

RAÇÃO COMPLETA: FORNECIMENTO MAIS HOMOGÊNEO DA DIETA 

Alexandre Vaz Pires, professor do Departamento de Produção Animal da Esalq-USP, diz que a freqüência de fornecimento é outro aspecto que merece atenção. "Quanto mais assiduamente os animais voltam aos cochos, consumindo alimento mais fresco e em quantidades adequadas, melhor". O teor de umidade também deve ser considerado. Se a freqüência for baixa, o alimento pode fermentar e, conseqüentemente, diminuir o consumo e provocar perda de valor nutritivo. A formulação de dietas para confinamento envolve alimentos volumosos e concentrados, de acordo com o teor de fibras, tendo como fatores que mais interferem na participação de cada um na dieta o custo e a disponibilidade regional. 

Os volumosos mais utilizados no Brasil, de acordo com dados fornecidos pelo professor, são silagens de milho, sorgo, gramíneas tropicais, fenos de gramíneas e leguminosas, cana-de-açúcar e bagaço de cana tratado a vapor. No caso dos concentrados, há dois grupos: alimentos protéicos (farelo de soja, farelo de algodão, sementes de oleaginosas - algodão, soja, entre outras -, cama de frango, subprodutos de origem animal, levedura e uréia) e energéticos (milho, sorgo, farelos de trigo e arroz, polpa cítrica seca e peletizada, raspa de mandioca, milheto e melaço). "A classificação de alguns alimentos gera algumas controvérsias, pois estes podem apresentar características que os enquadram em mais de um grupo. É essencial, portanto, que os produtores conheçam o custo relativo dos alimentos - ou o valor da unidade nutricional -, resultante da divisão do preço do alimento por seu teor de proteína bruta (R$/tonelada de PB) ou pela concentração de nutrientes digestíveis totais (R$/tonelada de NDT)", ensina Pires. 

Destaca que para o cálculo de rações com custos de produção menores é interessante atender às exigências energéticas com alimentos de baixo custo energético relativo, o mesmo devendo ser feito com relação ao valor protéico. E, como alguns alimentos podem apresentar restrições de uso, é necessário informar-se sobre eles antes de sua utilização. Segundo Pires, os alimentos volumosos produzidos na propriedade devem custar o menos possível e apresentar elevada qualidade nutricional. Quando em pequenas quantidades, os concentrados energéticos ocupam seu lugar na dieta, participando em elevada proporção e suprindo praticamente toda a exigência protéica dos animais, o que diminui a necessidade de concentrados protéicos. 

O uso de subprodutos agroindustriais e grãos de cereais menos nobres, geralmente menos custosos, também é indicado por Pires, desde que esses alimentos apresentam que apresentem valores nutricionais satisfatórios. "A maior utilização de alimentos concentrados gera dietas de maior densidade energética, promovendo ganhos de peso vivo relativamente altos, sem elevar muito os custos por tonelada de matéria seca na dieta", ensina. Destaca que sementes de oleaginosas in natura - caroço de algodão, por exemplo - podem reduzir os custos de produção, pois seu preço é relativamente baixo e sua densidade energética, elevada, o que gera baixo custo relativo por unidade de NDT e também responde, em boa parte, às exigências protéicas, diminuindo a necessidade de outras fontes de proteínas, geralmente mais caras. 

"A capacidade comercial do produtor e as oscilações do mercado podem ser decisivas para determinar os alimentos e sua proporção na dieta, já que os preços interferem de maneira decisiva no ritmo de engorda a ser imposto aos animais e nos custos de produção", insiste. Pires valoriza o uso de rações completas, em que todos os ingredientes da dieta são misturados para atender às exigências dos animais, afirmando que a mistura, além do balanço nutricional, deve levar em conta a relação entre volumosos e concentrados. "É essencial que os alimentos sejam bem homogeneizados - picados ou moídos - e que haja um tempo mínimo de mistura", recomenda, destacando que o fornecimento adequado da ração completa elimina o problema da dominância de um animal sobre outro no momento da alimentação. 

Tal prática facilita ainda a estabilidade do consumo médio individual de matéria seca total, impede a seleção de ingredientes; diminui a fermentação no cocho (o maior teor de matéria seca na ração é responsável por isso), e melhorar a palatabilidade de alguns ingredientes. Adicionar uréia em níveis mais elevados pode amenizar possível toxicidade da ração. O fornecimento à vontade da ração completa reduz a incidência de distúrbios digestivos, aumenta a eficiência dos alimentos, estabilizando o pH, o que torna as bactérias digestivas mais ativas. "A maior freqüência de fornecimento permite ingestão menor e gradativa, fermentação uniforme, melhores digestão e fluxo de nutrientes no trato gastrointestinal e na corrente sangüínea dos animais", recomenda o professor.  

Por fim, destaca que o preço de equipamentos de ração completa e distribuição automática no cocho é mais alto no Brasil (em torno de R$ 25 a 30 mil), sendo necessário calcular o custo/benefício - é possível amortizar esse investimento em dez anos (R$ 2,5 mil por ano). A mistura é obrigatória, pois, com o fornecimento separado de concentrados, o consumo entre os animais fica desuniforme, e diminui o pH, reduzindo o uso de carboidratos estruturais no rúmen",comenta.

Tabela 1 - Recomendações de nutrientes para vacas leiteiras em diferentes fases de lactação


Link
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Fale pelo Whatsapp
Atendimento
Precisa de ajuda? fale conosco pelo Whatsapp