Para conseguir cobrir custos de produção e atravessar uma crise financeira, produtores de leite do Estado querem isenção do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) durante quatro meses e redução da alíquota nos oito meses restantes de cada ano. Com isso, as indústrias poderiam pagar mais pelo litro do leite, que pode sair dos atuais R$ 0,74 para até R$ 1,00, o que representaria aumento de 35%.
A proposta já foi apresentada ao Governo do Estado, segundo o diretor do Departamento de Leite do Sindicato Rural de Campo Grande, Wilson Igi. Ele explica que o aumento não implicaria em alta de preços para o consumidor final, mas iria apenas dar melhores condições de trabalho aos produtores.
“Na cadeia do leite, quem mais ganha dinheiro hoje é o varejo e toda vez que diminui o preço na indústria, o varejo não abaixa. Então o grande vilão é o varejo”, defende Wilson.
O diretor explica que atualmente, o ICMS sobre o leite spot, aquele comercializado entre empresas é 10,3% e para o industrializado é 6%. O ideal para reanimar o setor, segundo Wilson, seria diminuir as duas alíquotas para 2%.
“É possível chegar ao preço de R$ 1, principalmente para os produtores maiores, pois tem alguns que já recebem R$ 0,95, então os grandes com certeza vão chegar lá e os menores vão chegar próximo disso”, estima Wilson, ao apresentar o aumento da produção como caminho para a recuperação do setor. “A grande preocupação é que muitos só produzem leite no período das águas e aí você tem um excesso de oferta de leite e o preço reduz bastante e nós não temos ainda um programa de escoamento da safra, que seria a solução”, detalhou.
Pequeno produtor – A dificuldade com relação aos preços não é de hoje, em especial para pequenos produtores, mas o cenário se agravou entre janeiro e março, segundo a presidente da Cooperativa de Produtores de Leite de Terenos, Lucília de Almeida. Produtores de alguns municípios chegaram a receber apenas R$ 0,35 pelo litro do produto, o que não paga nem os custos de produção.
Para Lucília, a assistência oferecida pelo Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) foi o que fez com que os cooperados não desistissem da atividade no interior do Estado, além do interesse dos mais jovens em continuar no ramo, permanecendo nas propriedades das famílias. Muitos se formam e acabam voltando para as fazendas ou assentamentos para apostar na produção de leite.
“Se a gente reduzir os impostos, a indústria ia ter uma carga tributária menor e ia conseguir também pagar melhor o produtor, que hoje precisa da indústria e vice e versa e precisamos do consumidor. Então, somos uma cadeia, temos que andar junto e ver a rentabilidade também do produtor que levanta cedo e ordenhas as vacas, ele tem que ser bem reconhecido”, avalia a presidente da entidade, que tem 325 cooperados.
Caroline Maldonado