06/11/2011 às 15h01min - Atualizada em 06/11/2011 às 15h01min

Embrapa Gado de Leite comemora 35 anos

Embrapa Gado de Leite

A Embrapa Gado de Leite, uma das unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), completou no próximo dia 26 de outubro 35 anos de trabalhos dedicados em prol da bovinocultura leiteira tropical. A instituição é um marco no aumento da produção e da produtividade da pecuária de leite nacional, com resultados que vão além das fronteiras do país. 

Segundo o chefe geral da instituição, Duarte Vilela, juntamente com outras instituições nacionais de pesquisa, a Embrapa Gado de Leite contribuiu para alavancar significativamente a produtividade de leite brasileira, levando o país a ocupar a sexta posição entre os principais produtores mundiais.

Para o chefe adjunto de Pesquisa & Desenvolvimento, Rui da Silva Verneque, os resultados da pesquisa podem contribuir ainda mais para o aumento da produtividade. “A pesquisa agropecuária nacional possui tecnologias capazes de quadruplicar a atual produção de maneira sustentável”, diz Verneque. Segundo o chefe adjunto, o sucesso dos trabalhos da Embrapa Gado de Leite deve ser creditado aos profissionais que integram a equipe da Empresa. O corpo técnico da Embrapa Gado de Leite é formado por 314 colaboradores, sendo 69 pesquisadores, 65 analistas e 180 assistentes.

“Somos uma das instituições com um corpo de colaboradores dos mais qualificados do Brasil”, diz Verneque. “Cerca de 60% dos nossos pesquisadores e analistas possuem doutorado ou pós-doutorado, 20% têm título de mestrado e 15% possuem especialização em suas respectivas áreas”. A instituição conta ainda com o apoio de 200 bolsistas e estagiários oriundos de instituições de ensino de todas as regiões do Brasil e de outros países.

A qualificação se estende à infraestrutura. A sede da Embrapa Gado de Leite, localizada em Juiz de Fora/MG, possui 15 laboratórios e dois campos experimentais nos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, além de núcleos avançados em todas as Regiões do Brasil. 

Na cidade de Coronel Pacheco, na Zona da Mata Mineira, está localizado o Campo Experimental José Henrique Bruschi (CEJHB). Este Campo possui 1.037 hectares e cerca de mil animais em dois sistemas de produção: a pasto (com animais da raça Girolando) e em confinamento (com animais da raça Holandesa).

Em Barão de Juparanã (distrito de Valença/RJ) fica o Campo Experimental de Santa Mônica (CESM), com 1.678 hectares e uma ampla reserva florestal que preserva a biodiversidade da Mata Atlântica. Integra o patrimônio do CESM o Solar Duque de Caxias, uma construção histórica do Ciclo do Café, onde Duque de Caxias passou seus últimos dias.

Os campos experimentais são utilizados para o desenvolvimento de pesquisas de campo e transferência de conhecimentos e tecnologias. Os sistemas de produção de ambos os campos são reconhecidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento como livres de brucelose e tuberculose. Estes campos adotam o sistema de Boas Práticas Agropecuárias (BPA’s) e servem de unidades demonstrativas onde são realizados cursos e dias de campo. O objetivo é capacitar os produtores para a produção de um alimento seguro e com qualidade.

As áreas experimentais estão passando por um processo de revitalização. O objetivo é melhorar a atuação no processo de transferência das tecnologias. “O volume dos trabalhos realizados nos campos aumentou muito nos últimos anos. É urgente que eles recebam novos investimentos, principalmente voltados para a mecanização e automação dos serviços”, diz Vilela. Segundo ele, a modernização permitirá maior interação da Embrapa com agricultores; empresas estaduais de pesquisa e extensão rural; universidades e órgãos de fomento à produção.

Pesquisa 
Há três anos a Embrapa Gado de Leite vem construindo um novo portfólio de pesquisa e transferência de tecnologia. “Nosso objetivo é atender os atuais desafios da sociedade criando projetos estruturantes em P&D e Transferência de Tecnologias”, diz Vilela. Um dos trabalhos desenvolvidos pela instituição está voltado para a seleção por meio do estudo do genoma dos bovinos. “Estamos implementando a seleção genômica nas raças bovinas em teste de progênie ou avaliação genética conduzidos pela Embrapa no Brasil” diz Vilela. Espera-se com isto reduzir em até 75% o custo atual de avaliação de touros para leite através do teste de progênie. “A seleção genômica será um marco na pecuária nacional e colocará o país na liderança mundial em melhoramento genético animal”, comemora Vilela.

Outro importante trabalho é a construção do Complexo Experimental Multiuso, no CEJHB. Este Complexo irá constituir um núcleo de excelência em pesquisa e inovação para estudos em bioenergética e de impactos da pecuária no meio ambiente. “O complexo realizará pesquisas na fronteira do conhecimento e proporcionará um salto tecnológico na mitigação de gases de efeito estufa de origem entérica, nos estudos de tratamentos de efluentes e de aproveitamento de resíduos da atividade produtiva, visando minimizar seus impactos sobre o meio ambiente”. 

As pesquisas realizadas no Complexo também terão como objetivo construir a primeira tabela de requerimentos nutricionais de animais ruminantes (bovinos de leite e carne, ovinos e caprinos) em condições tropicais. A criação deste Núcleo tornará o Brasil referência internacional em condições tropicais na formulação de dietas visando aperfeiçoar o sistema agroindustrial do leite e carne de ruminantes, preparando o país para atender à demanda crescente de produtos competitivos, com qualidade, respeitando o meio ambiente e mitigando os gases de efeito estufa.

Ainda sobre o aspecto ambiental, a instituição pretende criar em 2012 o Centro de educação ambiental para produtores de leite e seus filhos, técnicos e estudantes. Instalado em conexão com sistemas silvipastoris e sistemas de produção de leite intensivos em confinamento e a pasto, o Centro fará parte do complexo de treinamento da Embrapa e dará grande contribuição sócio-educativa para a agropecuária de baixo carbono.

A instituição também avança no sentido de compreender o verdadeiro papel da nanotecnologia na bovinocultura. “Temos estudos relacionados com a nanotecnologia e em breve disponibilizaremos um produto cuja finalidade será combater a mastite bovina”, anuncia Vilela. Segundo ele, é difícil apontar esta ou aquela ação como a mais importante. “Nosso portfólio de pesquisas é bastante multidisciplinar e interdisciplinar, englobando as principais questões da pecuária de leite no mundo tropical. O objetivo é oferecermos respostas para uma pecuária de leite produtiva e sustentável do ponto de vista ambiental e econômico”.

A Embrapa Gado de Leite se prepara agora para assumir um novo papel frente ao agronegócio nacional. O Comitê Gestor da Programação (CGP) da Embrapa emitiu parecer favorável à proposta de se constituir uma rede brasileira para análise de riscos químicos em alimentos. A rede é um projeto ambicioso e pretende focar toda a produção agrícola do país. 

Para isto contará, a princípio, com 29 instituições parceiras (16 unidades da Embrapa, seis ministérios, duas universidades além da Fundação Getúlio Vargas, Fiocruz, Inmetro, Confederação Nacional de Agricultura e Associação Brasileira da Indústria de Alimentos). A rede será coordenada pela Embrapa Gado de Leite e a expectativa é dar maior segurança e confiabilidade aos alimentos produzidos e consumidos nacionalmente ou que serão exportados.


ENTREVISTA

Duarte Vilela – Chefe geral da Embrapa Gado de Leite

Engenheiro-agrônomo pela Universidade Federal de Viçosa e doutor em Nutrição Animal pela mesma Universidade, Duarte Vilela dirige pela segunda vez a Embrapa Gado de Leite. Em seu primeiro mandato, a Empresa completou 25 anos. Agora, ele está à frente da instituição no momento em que se comemoram os 35 anos de sua fundação. Este também é o tempo de trabalho dedicado por ele à pesquisa agropecuária nacional, o que o credencia como uma das maiores autoridades nacionais no setor.

O que mudou na pecuária de leite dos anos 70 até hoje?
A partir de 1976, quando foi criada a Embrapa Gado de Leite, houve uma grande evolução nos índices de produção e produtividade. A produção brasileira de leite aumentou quase 400% nos últimos 35 anos. Em números absolutos, o Brasil tinha 12 milhões de vacas produzindo oito bilhões de litros de leite há pouco mais de três décadas. Hoje, nossa produção caminha para atingir 30 bilhões de litros por ano com um rebanho de cerca de 15 milhões de vacas. Considerando-se as bacias leiteiras tradicionais e propriedades com rebanhos especializados, há registros de produtividade média anual de 3.600 litros vaca/lactação. Isto prova que o produtor brasileiro se tornou mais tecnificado.

De que forma a Embrapa Gado de Leite contribuiu para a evolução da atividade nestes últimos 35 anos?
A Embrapa Gado de Leite, ao lado das empresas estaduais de pesquisa e universidades, teve um papel fundamental na melhoria do desempenho da atividade. Um exemplo é o processo de melhoramento genético do rebanho: o país é hoje referência mundial em genética zebuína tanto para leite quanto para carne. Saímos dos programas clássicos de melhoramento onde medíamos a produção diária e por lactação e hoje trabalhamos com genômica animal, identificando marcadores genéticos com importância econômica para a produção de leite. O melhoramento vegetal e as técnicas de alimentação dos animais também foram um fator importante. 

Até o início dos anos 80, a base das forrageiras era o capim-gordura e o capim provisório. Hoje, têm-se o pastejo rotacionado do capim-elefante e de forrageiras de elevado valor nutritivo como as gramíneas do gênero Cynodon, Brachiaria e Panico, assim como leguminosas (alfafa), além do uso de alternativa para o período de escassez de forrageiras (cana de açúcar com ureia e silagens). Estas foram tecnologias muito divulgadas pela Embrapa Gado de Leite que garantiram resultados excelentes na produção e produtividade de leite a pasto. Naturalmente que também ocorreu aumento nas áreas de pastagens cultivadas no Brasil, o que gerou aumento na produção, mas o aumento da produtividade está plenamente relacionado às novas tecnologias desenvolvidas ou adaptadas pela pesquisa nacional.

Qual a expectativa para a pesquisa em bovinocultura de leite para os próximos anos?
Buscamos a fronteira do conhecimento. Na pesquisa básica pode estar a resposta para muitas das questões que hoje preocupam a cadeia produtiva do leite. A biotecnologia já mostrou que, por meio de marcadores genéticos, clonagem e transgenia, é possível acelerar o processo de melhoramento dos bovinos, criando populações resistentes a endo e ectoparasitos, à mastite, ao estresse térmico etc. 

A pesquisa básica, de ponta, trará resultados com mediana rapidez para os produtores e a população em geral. A infinidade de soluções que a biotecnologia apresenta é impressionante e vai do melhoramento genético ao desenvolvimento de produtos com qualidades nutracêuticas. A Embrapa Gado de Leite está alinhada com as questões das ciências avançadas e o nosso portfólio de pesquisas foi construído para atender às expectativas do agronegócio do leite no Brasil e nos países de clima tropical.

E como os produtores têm acesso a estas pesquisas?
Tão importante quanto gerar novas tecnologias é fazê-las chegar ao produtor. Para que isto ocorra com eficiência, a Embrapa se reorganizou internamente. Foi criada uma Chefia adjunta de Transferência de Tecnologia, com ações exclusivas para esta finalidade. Entre as unidades da Embrapa, a Embrapa Gado de Leite é reconhecida por suas ações de capacitação de produtores. Possuímos núcleos avançados em todas as Regiões do país para identificar as demandas locais e darmos respostas seguras com rapidez. Buscamos parcerias com outras instituições para fazer chegar aos produtores de todo o Brasil informações técnicas de qualidade. Como exemplo, iremos lançar oficialmente este ano o PAS-Leite (Programa Alimento Seguro voltado para a cadeia produtiva do leite). Esta é uma ação em parceria com o Sebrae, Senar, Senai e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 

O Sebrae, por meio do SebraeTec, disponibilizará consultoria a preços subsidiados para os produtores interessados em trabalhar segundo as Boas Práticas Agropecuárias. Enfim, edificar caminhos sólidos para a pesquisa da Embrapa Gado de Leite é um grande desafio, mas temos a certeza de poder contar com a parceria de instituições sérias do setor. Sabemos que o leite é um produto imprescindível para a humanidade. Por meio da pesquisa ou da transferência de tecnologia, não mediremos esforços para transformar o Brasil num grande produtor e exportador de lácteos.


 


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