06/01/2017 às 10h33min - Atualizada em 06/01/2017 às 10h33min

Leite pode evitar uma série de problemas de saúde; saiba como aproveitar todos seus benefícios

Marina Kuzuyabu
UOL - São Paulo

Tanto o leite, como seus derivados, são fontes de proteínas, vitaminas e minerais, entre eles, o cálcio. "Também são relevantes as quantidades de vitaminas do complexo B, vitaminas A e D, zinco, fósforo e magnésio, entre outros componentes", informa Elci Almeida Fernandes, mestre em Nutrição Humana Aplicada, nutricionista clínica da Divisão de Nutrição e Dietética do Instituto Central (IC) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo (HC – FMUSP) e coordenadora do curso de especialização de Nutrição em Gerontologia no mesmo instituto.

Não por acaso, praticamente todos os programas governamentais de nutrição e saúde pública enfatizam sua importância na dieta de adultos, crianças e idosos. O Ministério da Saúde recomenda três porções diárias do grupo alimentar, sendo que uma porção equivale a um copo de 200 ml ou duas fatias finas de queijo ou ainda a um copo de iogurte de 160 ml.  

No caso das crianças, a recomendação é ainda maior, como enfatiza Ana Potenza, mestre em Ciências Aplicadas à Pediatria e nutricionista da UTI Neo Natal do Hospital Israelita Albert Einstein.  "O período entre a gestação e o quinto ano de vida é nutricionalmente o mais vulnerável do ciclo de vida do homem", diz. "Por esse motivo, o leite, que possui aminoácidos essenciais para o crescimento e desenvolvimento, deve ser consumido na infância para evitar problemas déficit nutricional no futuro", complementa.

Contraindicações

Apesar de todos os benefícios que oferece, há casos em que os lácteos precisam ser restringidos ou mesmo eliminados da dieta. Geralmente, essas situações envolvem a intolerância à lactose e a alergia à proteína do leite.

Livia Yokomizo, nutricionista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, explica que a primeira é causada pela deficiência da lactase, uma enzima digestiva, produzida no intestino delgado, responsável por decompor e absorver a lactose, o "açúcar" presente no leite.

Quando a lactose não é digerida, ela sofre fermentação no intestino e pode causar sintomas como irritação intestinal, flatulência, distensão abdominal, cólicas e diarreia. No Brasil, estima-se que cerca de 37 milhões de brasileiros, maiores de 15 anos, apresentem o problema, de acordo com dados do governo.

Já a alergia à proteína do leite de vaca (APLV) se desenvolve por herança genética ou após o desenvolvimento de determinadas patologias, como surtos de gastrenterocolite aguda (inflamação simultânea do estômago e dos intestinos delgado e grosso) ou deficiência transitória de imunoglobulina A, que são moléculas que funcionam como anticorpos, como explica Yokomizo.

De acordo com a nutricionista Licinia de Campos, coordenadora do Curso de Gastronomia da Faculdade Paschoal Dantas, o problema é comum em crianças, mas superado pela maioria ao atingir a idade de quatro anos. "Apesar disso, alergias persistentes podem ocorrer", informa. Ela explica que os sintomas são parecidos com o da intolerância à lactose.

Tratamentos e substituições

Elci Almeida Fernandes explica que o leite de vaca e seus derivados devem ser excluídos da dieta apenas quando for diagnosticada a alergia à proteína do leite. Quanto à intolerância à lactose, as orientações variam conforme a gravidade do problema, que pode ser leve, moderada ou severa.

Nos casos em que houver necessidade de diminuir ou eliminar totalmente o consumo dos produtos lácteos, os especialistas recomendam buscar outras fontes de cálcio. Espinafre, gergelim e peixe, por exemplo, também oferecem o mineral, embora em quantidades menores. "Em um copo de 240 ml, temos aproximadamente 300 mg de cálcio. São poucos os alimentos que atingem esta quantidade", esclarece a nutricionista do Hospital do Coração (HCor) e especialista em Nutrição Clínica, Leila Ali Hassan Kassab.  

Sucos, cereais e outros alimentos fortificados com cálcio e os suplementos são outras possibilidades de suprir a falta do nutriente, alerta Campos.

Importante: Algumas verdades sobre o leite e seus derivados

A mulher que está amamentando não deve parar de tomar leite, como explica Ana Potenza, nutricionista do Hospital Israelita Albert Einstein, pois sua falta pode causar um desequilíbrio na dieta, afetar a qualidade do leite materno e, consequentemente, o desenvolvimento da criança. "A cólica do bebê acontece em decorrência de imaturidade intestinal apresentada pela criança durante esse período e não está relacionada diretamente com a dieta da mãe", completa

Leite e iogurtes equilibram a flora intestinal, sim. Porém, para provocar esse efeito, eles devem ser consumidos todos os dias e conter culturas probióticas, que resistem melhor ao processo de digestão, como afirma Adriane Antunes de Moraes, professora da Unicamp. O rótulo dos produtos deve trazer essa informação

Cálculo renal, ou pedras nos rins, não é causado pelo leite. "A formação de cálculos à base de oxalato de cálcio está relacionada a uma alteração na capacidade de reabsorção do mineral pelo rim, e não pelo excesso do elemento no organismo", diz Patrícia Modesto, nutricionista do Hospital Israelita Albert Einstein

O leite ajuda na produção de massa muscular após a realização de atividades físicas, assim como todo alimento fonte de proteína, assegura Leila Ali Hassan Kassab, nutricionista do HCor

"Produtos lácteos ricos em gorduras não saudáveis ou com açúcares adicionados podem aumentar o risco de ganho de peso, diabetes tipo 2, colesterol alto e doenças cardiovasculares", afirma a nutricionista Licinia de Campos, coordenadora do Curso de Gastronomia da Faculdade Paschoal Dantas, que recomenda o consumo das versões com baixo de teor de gorduras ou desnatadas.

"A ingestão de leite não combate a anemia, pois a principal causa dessa doença é a deficiência de ferro e o leite não é um alimento fonte deste mineral", declara Patrícia Modesto, nutricionista da Pediatria e CTI-Pediátrico do Hospital Israelita Albert Einstein. Apesar disso, há no mercado leites enriquecidos com ferro que, nesses casos, podem auxiliar na reposição do nutriente

O leite desnatado ajuda a regular os níveis da pressão arterial. Elci Almeida Fernandes, nutricionista clínica do Instituto Central do Hospital das Clínicas, conta que vários estudos demonstram que os produtos lácteos exercem um efeito benéfico sobre a pressão arterial. "Dois componentes parecem ter papel mais relevante nessa situação: o cálcio e os peptídeos bioativos", aponta. A especialista também informa que o alimento interfere positivamente em outros três fatores de risco cardiovascular: resistência insulínica, agregação plaquetária e o processo aterosclerótico

O consumo de leite e derivados deve ser feito, preferencialmente, entre as refeições, como recomenda Livia Yokomizo, nutricionista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Isso porque é melhor evitar o consumo dos mesmos durante o almoço ou o jantar, pois a combinação com proteínas animais faz com que a absorção de ferro seja menor

Quem tem problemas do coração ou está acima do peso deve evitar o leite integral em função do excesso de gorduras que ele apresenta em sua composição. A substituição, porém, deve ser feita sempre por um médico ou nutricionista, como ressalta Patrícia Modesto, nutricionista da Pediatria e CTI-Pediátrico do Hospital Israelita Albert Einstein

O cálcio presente no leite acelera a queima de gorduras, além de aumentar a sensação de saciedade. Livia Yokomizo, nutricionista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, informa que vários estudos epidemiológicos sugerem que indivíduos com alta ingestão de cálcio têm menor prevalência de sobrepeso, obesidade e resistência à insulina. Outros levantamentos mostram que o cálcio estimula a lipólise, o que reduz o peso corporal e o tecido adiposo. "A proporção desses efeitos depende da fonte de cálcio e da quantidade ingerida", diz

O iogurte tem baixo teor de lactose porque durante sua produção parte dela é "quebrada". Além disso, as culturas vivas presentes nesses laticínios podem facilitar a digestão da substância, como esclarece Adriane Antunes de Moraes, professora da Unicamp. Contudo, a especialista chama atenção para o fato de que alguns produtos têm a adição de soro de leite ou leite em pó, que são ricos em lactose e, portanto, podem gerar os mesmos efeitos do leite no organismo

O efeito relaxante do copo de leite morno antes de dormir se deve à presença de uma substância indutora do sono, o triptofano. "Ele aumenta a quantidade de serotonina no cérebro, um neurotransmissor bastante importante no processo do desencadeamento do sono. Além disso, a temperatura morna faz com que os aminoácidos sejam mais facilmente assimilados e absorvidos pelo organismo", enfatiza Ana Potenza, nutricionista do Hospital Israelita Albert Einstein.

 


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